Continua depois da publicidade
Ele acreditava que um dia chegaria sua vez. E o dia chegou, no domingo, a bordo de 38.489 votos. A vitória nas urnas representou ao jornalista e pastor da Assembleia de Deus Paulo Correa Júnior, de 38 anos, o fim de um ciclo de derrotas nas eleições.
Ele havia tentado se eleger quatro vezes – pelo PDT, se candidatou a deputado federal, em 2002; ainda na legenda, concorreu para a Prefeitura de Santos, em 2004; no PV, foi candidato a deputado federal, em 2008; e, no PTdoB, buscou uma vaga na Assembleia Legislativa, em 2010. Uma nova eleição, uma nova legenda (o Partido Ecológico Nacional, PEN) e, finalmente, a vitória nas urnas que o deixará como o único representante de Santos no Parlamento Paulista. Confira, a seguir, a entrevista (cuja íntegra estará no site www.diariodolitoral.com.br a partir das 11 horas):
Diário do Litoral – Esta é sua quinta eleição. As quatro derrotas anteriores não o fizeram desistir, não o desmotivaram?
Paulo Correa Júnior – Tinha convicção plena, pela força e ânimo que o meu grupo tinha. Assim que acabava uma eleição, o pessoal vinha e perguntava se eu iria desistir e dizia que não queria isso. Diziam para continuar no projeto, pela proposta. Eu persisti com isso. Sou bem teimoso e sabia que um dia Deus ia me conceder a vitória e me dar a honra que está sendo hoje eu ser um deputado estadual eleito pela Baixada.
Continua depois da publicidade
DL - Quantos votos o senhor obteve do setor religioso, dos evangélicos?
Paulo Correa – Meu avô era pastor, meu pai tem 62 anos e praticamente está há 40 anos como pastor da Assembleia de Deus, eu sou pastor há nove anos; mas eu não acredito que o meu voto seja religioso. Tem muita gente querendo confundir isso.
DL – Querem taxar o senhor de candidato evangélico?
Continua depois da publicidade
Paulo Correa – Não que eu não seja, porque é o que eu faço. Eu não posso fugir do meu berço. Creio que 60% dos meus votos vêm de pessoas que conhecem nossa história, que sabem de onde a gente vem, sabem do trabalho que a gente faz e admiram ou fazem parte da instituição (Igreja). Não posso taxar que é o voto religioso, é o voto de pessoas que admiram nosso trabalho social, de pessoas que talvez frequentam a Igreja, mas não posso sectarizar. Tive muita gente de fora da comunidade evangélica que me ajudou. Tive, só em Santos, praticamente 30 suplentes de vereadores que me ajudaram, de vários partidos, de vários segmentos, da Igreja Católica, profissionais liberais, pessoal do Esporte. E assim eu fiz em várias cidades.
DL – O senhor foi do PDT, do PV, do PTdoB, do PT e agora está no PEN. O senhor não acredita em fidelidade partidária?
Paulo Correa – Eu não. Acredito que as pessoas é que fazem o partido, e não o partido que faz a pessoa.
Continua depois da publicidade
DL – O que levou o senhor a se filiar no PEN?
Paulo Correa – A proposta. Fui chamado pelo presidente nacional do partido, o Adilson Barroso. Ele tinha me convidado já por duas vezes para fazer parte da chapa dele. Ele é especialista em montar chapa que elege pessoas com margem de votos que eu tive. Ele me falou que eu tinha um perfil. Por duas vezes eu não acreditei nele, em duas eleições passadas. Ele provou que a receita dele estava certa.
Continua depois da publicidade
DL – Então, sua entrada no PEN foi pragmática, sem nenhum viés ecológico?
Paulo Correa – Tem viés ecológico, sim. Eu gosto dessa bandeira. Fui do Partido Verde (PV). Tenho um passado que aprendi a discutir a sustentabilidade. Só sai do PV porque fui acuado pela direção estadual, senão teria ficado até hoje. E quem me acolheu na época foi o PT.
DL – Pelo seu histórico, o PEN sabe que pode não contar por muito tempo com o senhor, então?
Continua depois da publicidade
Paulo Correa – Posso ficar muito tempo, sim, por que não? Não tenho motivos para mudar. Nunca exerci um mandato. É diferente quando se tem uma responsabilidade de um mandato. Não dá para ficar mudando de partido. A não ser que venha algo novo, como o PEN, que foi criado, totalmente novo.
DL – O PEN elegeu o senhor e outro candidato (Feliciano Filho). Haverá uma atuação conjunta, seja no apoio ou na oposição ao Governo Geraldo Alckmin (PSDB)?
Paulo Correa - O deputado me ligou. Ele foi eleito pelo PV e depois migrou para o PEN. A causa dele, da proteção aos animais, é importantíssima. Eu disse que queria aprender os caminhos da Casa. Ele é da base do governo. Eu não tenho compromisso com o governador. Quero ouvir o governador. Para o que for bom para o Estado, vou votar a favor; para o que for ruim, não vou votar a favor. Vou fiscalizar. O Governo vai mal nas áreas de Saúde, Educação, Ação Social, que está uma vergonha na nossa região. Veja o caso da entrada de Santos, a cracolândia está lotada. O problema está pior do que no passado. Dá medo. Está feio.
Continua depois da publicidade
DL – O senhor vai buscar recursos, então, para a recuperação de viciados?
Paulo Correa – Com certeza. Nós (a Igreja) temos uma casa de recuperação de dependentes químicos em Itanhaém, e a gente vê como é difícil esse trabalho. Acho que o Governo precisa olhar um pouco mais para isso.
DL – O senhor é a favor da internação compulsória?
Continua depois da publicidade
Paulo Correa – Não. Sou contra.
DL – Mesmo nos casos onde a pessoa está mais debilitada em função do uso do entorpecente?
Paulo Correa – Acho que existe toda uma forma de convencimento. A pessoa quando quer, procura ajuda. É difícil sair do vício, mas temos uma experiência que vem dando certo há mais de 14 anos. Na Assembleia, vou tentar convencer o Governo a atuar mais nessa área. É um trabalho social que precisa ser feito. Vou fiscalizar.
Continua depois da publicidade
DL – O senhor entende, então, que o principal problema do Estado são as áreas da Saúde e Assistência Social?
Paulo Correa – São as minhas bandeiras. Mas o principal problema é a Educação. Através da Educação, conseguimos mudar muita coisa. Com Educação em período integral, se dá alimentação para a criança, se faz prevenção na área da Saúde; como eu tive quando estudei no Dom Pedro II, tinha um médico e um dentista que faziam a política de prevenção. São três coisas que sufocam os hospitais e os prontos-socorros: as doenças do aparelho digestivo, que podem ser prevenidas, diabetes e hipertensão. Tudo isso poderia ser prevenido com a Educação Integral, com nutricionistas, com alimentação de qualidade e prevenção na saúde bucal, como também na medição da pressão. A base está na Educação.
DL – Até março, quando será a posse dos deputados estaduais, o senhor acredita ser possível estabelecer uma pauta regional entre os três eleitos pela Baixada (os outros são Caio França, do PSB, e Cássio Navarro, do PMDB)?
Paulo Correa – Acredito que sim. Somos jovens, os três. Os três têm boa vontade, dá para fazer uma pauta conjunta,com visão metropolitana, não pode um olhar para um município, outro olhar para sua cidade, focando uma disputa posterior, que é a disputa municipal. Se isso acontecer, vamos sofrer novamente.
DL – O senhor acredita que por ter sido o único eleito por Santos, que é a principal cidade da Baixada, terá uma responsabilidade maior?
Paulo Correa – Não sinto uma responsabilidade maior, sinto a responsabilidade em nível estadual. Sou um dos 94 que foram escolhidos pela população para fiscalizar o Governo. É claro que o que aumenta é o trabalho de atender os anseios e a demanda da Cidade. A demanda de Santos, por ser uma cidade politizada, uma cidade consciente, politicamente falando, mais conservadora, uma cidade crítica, resultará em uma cobrança maior.
DL – O senhor se sente preparado para essa cobrança maior?
Paulo Correa – Eu venho me preparando há doze anos. Sabe qual é a maior lição que tive na vida? Foram as derrotas que eu tive. As derrotas fazem você amadurecer muito. E você aprende com as derrotas que precisa melhorar cada dia mais, tem de persistir e dar o melhor de si. Tenho visto, nesses últimos tempos, que é uma coisa que não pretendo fazer, que a maior dificuldade que as pessoas têm é ter acesso ao político. O político não atende ao telefone depois que ganha a eleição. Então, você vai aprendendo com isso. Vou continuar dando o máximo de mim. Cidade de Santos, pode ligar que meu telefone está ligado 24 horas.