Política

Especialistas comentam clima de ódio e intolerância nas redes sociais

Professores da UFABC e da USP destacam nível baixo de campanhas e questão cultural

Publicado em 28/10/2014 às 11:25

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“Vão estudar cangaceiros”. “Se nada der certo faço um monte de filhos e mudo para o Nordeste”. “Vergonha desse povo vagabundo”. “Se eu encontrar um nordestino em SP eu mato”. “Nordestinos desgraçados que vivem de bolsa miséria”. A apuração ainda não havia chegado a sua totalidade, quando os primeiros ataques tiveram início nas redes sociais. As provocações, na maior parte oriunda de eleitores das regiões Sul e Sudeste, foram motivadas pela confirmação da reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) que, em uma disputa apertada, venceu o candidato do PSDB, Aécio Neves, com 51,64% dos votos contra 48,36%.

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Para o cientista político e professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), Claudio Penteado, o comportamento dos eleitores tem relação com o nível da campanha de ambos os candidatos. “A qualidade foi muito baixa. As duas campanhas estimularam o voto contra e não a favor”, explica. O especialista destaca a grande quantidade de votos nulos e abstenções. “Isso pode sinalizar rejeição ao que se foi colocado pelos dois”.

Segundo Penteado, o marketing político também influencia para a disseminação do preconceito. “Quando se utiliza o termo Bolsa Miséria, por exemplo, se intensifica a desqualificação do outro, o que provoca a intolerância”, afirma. O professor ressalta a questão cultural. “O preconceito e a divisão de classes é uma prática em discussão ao longo da história do país”.

Penteado também destaca a contribuição da mídia para esse cenário. “Verifique que o meio tradicional ainda tem uma participação muito grande, mesmo com as redes sociais que são muito populares e crescem cada vez mais. Dois dias antes da eleição uma revista divulgou uma matéria, que atingia a candidata do PT. No domingo já havia boatos circulando na internet. Isso é muito perigoso”.

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O professor acredita que as instituições terão papel importante no processo pós-eleitoral. “O clima ainda está tenso. Os agentes envolvidos, inclusive a própria mídia, terão que respeitar as regras democráticas”.

Disputa acirrada entre os dois candidatos gerou conflitos (Foto: Matheus Tagé/DL)

Clima de ódio

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Para o jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), Dennis Oliveira, o ódio aos nordestinos e aos pobres é de longa data. “Na verdade, parcela da classe média mais tradicional interpretou problemas específicos do seu segmento social como algo causado pela preferência dada pelo governo do PT à inclusão social”, afirma.

De acordo com o professor, a alta da inflação na área de serviços também contribuiu para o clima de hostilidade. “Diante disto, este segmento social sentiu-se prejudicado ou esquecido pelo governo em detrimento dos “mais pobres”. O fato de terem peso suficiente para impor uma vitória, a fidelidade dos segmentos mais pobres e no Nordeste ao governo gerou esta revolta”, explica.

Oliveira, que é especialista em Mídia e Intolerância, destaca a contribuição da mídia neste cenário. “Lembro uma discussão feita por uma revista semanal se pessoas que recebem o bolsa família deveriam ter direito ao voto.  Enfim, há um discurso que resiste em colocar o combate a pobreza como uma responsabilidade coletiva, como se a situação de miséria fosse produto da incompetência individual”.

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Segundo o professor, o fortalecimento dos movimentos poderá amenizar esta divisão. “Acredito que a maior presença de segmentos sociais, recentemente incluídos no debate público, trazendo novas demandas e colocando suas agendas contribuirá para enfraquecer isto”, conclui.

O discurso de ódio e discriminação com relação à origem é crime no Brasil, ainda que seja pela internet. Eles estão previstos no Código Penal como Calúnia, Difamação e Injúria, e dependem de denúncia da vítima.

Resultados

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A presidente Dilma Rousseff venceu o tucano em 15 estados brasileiros. Entre eles, os nove da região Nordeste, onde obteve o maior índice de aprovação. No Maranhão, a petista obteve 78,76% dos votos contra 21,24% do tucano.

Aécio Neves liderou nas regiões Sul e Centro-Oeste. No Sudeste, venceu em São Paulo e no Espírito Santo, e no Norte, em Rondônia e no Acre. O destaque dos votos vai para o estado de São Paulo, onde o tucano obteve mais de 15 milhões de votos (64,31%) contra 35,69% da petista.

 

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