ELEIÇÕES
As duas conclusões fazem parte de um estudo brasileiro que se baseou na fotografia da face de mais de 1,5 milhão de pessoas que concorreram aos cargos de vereador, prefeito, deputado estadual e deputado federal
Tabela mostra rosto médio da mulher eleita no Brasil / Reprodução
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O rosto das candidatas mulheres tem influência sobre o desempenho que elas conseguem atingir nas urnas, enquanto para os homens essa relação não parece existir. Além disso, para elas, quanto mais masculinos os traços, maiores as chances de que sejam eleitas.
As duas conclusões fazem parte de um estudo brasileiro que se baseou na fotografia da face de mais de 1,5 milhão de pessoas que concorreram aos cargos de vereador, prefeito, deputado estadual e deputado federal de 2004 a 2018.
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Com a ajuda de programas de computador usados para reconhecimento facial, os retratos registrados no sistema do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) foram analisados para encontrar padrões. Assim, foi possível construir o que representa o rosto médio de candidatos homens e mulheres que se elegem nas diferentes regiões do Brasil.
Esse trabalho foi a tese de doutorado do economista Felipe Wajskop França, 39, defendida no Insper, sob orientação de Sérgio Firpo, professor na instituição e colunista do jornal Folha de S.Paulo.
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Considerando as fotos e os resultados das urnas, a análise aponta que traços e proporções que se aproximam de uma face mais masculina representam uma vantagem para que as mulheres se elejam.
Esse resultado, explica França, apesar de inédito para um estudo sobre padrões de políticos no Brasil, tem correspondência com o que já se sabe na literatura científica sobre aparência associada a lideranças.
O masculino, mostram esses trabalhos, é entendido como um "atalho" para se pensar quem é mais apto a comandar. Rostos considerados menos delicados, com queixo maior e mais anguloso e nariz mais pronunciado, por exemplo, tendem a ser interpretados dessa maneira. Já os considerados mais delicados (ou femininos) estão associados a honestidade, segundo o histórico na psicologia social e na economia do trabalho.
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"Além de [o eleitor] usar a aparência para votar em mulheres, ainda escolhe aquelas que se parecem mais com homens. Esse é um achado que revela o viés de gênero", diz França.
"As sugestões de política [contra a repetição desse padrão] são cotas e maior diversidade, porque, no fim, se é à base de preconceito ou de uma repetição desse estereótipo, conforme você inclua mais mulheres na política, você desmontará os estereótipos", completa.
Quando observado em conjunto, esse mosaico de faces do que seriam os candidatos médios eleitos para cada cargo e local apresenta diferenças sutis na aparência –ainda que seja possível notar distinções.
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Segundo a pesquisa, no Sul e no Sudeste, por exemplo, homens e mulheres que se candidatam a vereador têm feições consideradas mais masculinas, enquanto no Nordeste, para esse cargo, há uma inclinação às consideradas femininas.
Também foi observado, entre outros pontos, que na região Sul há maior homogeneidade nos rostos. No Norte, em contraste, é apontada uma maior diversificação.
Para avaliar o papel da aparência no desempenho eleitoral, o pesquisador se debruçou sobre votações de cidades que têm propaganda eleitoral gratuita exibida na televisão, ou seja, locais onde a imagem dos que concorrem no pleito pode ser mais amplamente conhecida pelos eleitores.
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Com as fotos processadas apenas em preto e branco, a tese se concentrou nos padrões encontrados nos rostos sem levar em consideração a cor da pele nem a raça dos candidatos –algo que, diz França, merece outras pesquisas que investiguem esses vieses.
O trabalho se dedicou ainda a pesquisar se o eleitor com menos instrução, e também mais pobre, utiliza mais a imagem para votar. Ao olhar o histórico, foi possível notar que sim.
A tendência a se apoiar na imagem para tomar decisões nas urnas, contudo, destaca França, ganha força nas escolhas para cargos em que os candidatos costumam ser menos conhecidos, como vereador. Isso é algo já demonstrado em estudos realizados nos EUA. Ela enfraquece à medida que se lida com um universo com histórico mais difundido, como governador e presidente –até por isso, postos não inclusos no escopo da pesquisa.
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Por fim, França testou se há, digamos, uma vantagem objetiva para cidades que tenham escolhido candidatos dentro do padrão entendido como de boa aparência. Em termos de número de emendas destinadas ao município e performance em avaliações sobre corrupção, no entanto, não se pode notar benefício na gestão.
Teresa Sacchet, doutora em ciência política pela Universidade de Essex (Reino Unido) e que estuda a representação das mulheres na política brasileira, comenta que, para além de se pensar na aparência, é preciso atentar-se aos mecanismos de financiamento das campanhas.
Ela, que não participou do estudo de França, vê como essencial olhar para o caminho que as candidatas conseguem (ou não) percorrer antes mesmo do momento de serem "julgadas" pelos eleitores.
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"É muito difícil entrar na política e ser financiada quando se é uma novata. O preconceito já começa dentro dos partidos", diz a professora e pesquisadora na UFBA (Universidade Federal da Bahia).
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