MINISTRO DA DEFESA

Múcio é criticado por Lula e passa por desgaste após atos de vandalismo

Irritado com a facilidade com que os invasores chegaram ao Palácio do Planalto, Lula criticou, duramente, o desempenho de sua equipe frente aos atos de vandalismo

CATIA SEABRA, CÉZAR FEITOZA E VICTORIA AZEVEDO - FOLHAPRESS

Publicado em 10/01/2023 às 22:08

Compartilhe:

Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter Compartilhe por E-mail

Lula decreta intervenção na segurança do DF / Reprodução

Continua depois da publicidade

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, é alvo de fogo amigo desde domingo (8), quando bolsonaristas vandalizaram as sedes dos três Poderes em Brasília. Apontado como um dos responsáveis pela permanência dos manifestantes em Brasília, ele foi criticado pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Irritado com a facilidade com que os invasores chegaram ao Palácio do Planalto, Lula criticou, duramente, o desempenho de sua equipe frente aos atos de vandalismo que resultaram na depredação da sede do Executivo federal e também dos prédios do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal).

Continua depois da publicidade

Leia Também

• Biden conversa com Lula, reforça apoio após ataques e fala em receber petista em fevereiro

• Lula faz reunião com governadores após atos golpistas em Brasília

• Tarcísio recua e anuncia que irá a reunião de governadores com Lula em Brasília

Enquanto acompanhava a evolução dos ataques por meio de publicações nas redes sociais, Lula se queixou, especialmente, de Múcio e do ministro-chefe do GSI (Gabinete da Segurança Institucional), general Gonçalves Dias, -aos quais telefonou, em tom de cobrança, já no início das invasões.

Segundo seus aliados, Lula reclama que Múcio tenha subestimado ameaças à segurança, apostando na saída gradual dos bolsonaristas acampados diante do quartel do Exército em vez de determinar sua retirada, como, por fim, aconteceu nesta segunda-feira (9).

Continua depois da publicidade

No domingo, relatam, Lula demonstrou irritação com os acampamentos, afirmando que já tinha perdido a paciência com sua manutenção.

De acordo com relatos desses interlocutores, Lula avalia que faltou firmeza a Múcio na relação com os comandantes das Forças Armadas e que o ministro não teria exercido sobre eles qualquer influência.

Esse descontentamento ficou evidente, também segundo esses aliados, no fim da tarde de domingo, quando Lula respondeu rispidamente à possibilidade de o Exército atuar na contenção dos golpistas por meio de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem).

Continua depois da publicidade

Segundo relatos feitos à reportagem, o presidente rejeitou a oferta apresentada por Múcio, negando-se a convocar os militares para auxiliar as forças de segurança durante os atos.

O ministro da Defesa estava com o comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, na tarde de domingo. O militar indicou a Múcio que teria 2.500 militares de prontidão para atuar caso o governo federal considerasse necessário.

A sugestão para uma possível GLO foi descartada, ao telefone, por Lula quando o petista ainda estava em Araraquara (SP). A solução adotada pelo presidente foi costurada com o ministro da Justiça, Flávio Dino, com decreto para intervenção federal na segurança do Distrito Federal.

Continua depois da publicidade

Sob o calor dos atos, o presidente reclamou ainda de Múcio ter classificado de democráticos os acampamentos em que os opositores de Lula pedem por intervenção militar. Hoje, a avaliação é que os extremistas deveriam ter sido retirados antes.

Uma outra crítica feita a Múcio e chefes militares foi a permissão para que os bolsonaristas radicais voltassem ao quartel-general do Exército, em Brasília, após a depredação dos prédios dos Poderes.

Na noite de domingo, colegas de Ministério chegaram a questioná-lo sobre a permanência dos bolsonaristas nos arredores do quartel mesmo depois dos ataques.

Continua depois da publicidade

Em meio ao processo de fritura, aliados de Lula afirmam que o presidente está preocupado com a relação entre governo e militares caso Múcio não se consolide como comandante das forças.

A avaliação de interlocutores de Lula que estiveram com o presidente no domingo é que Múcio saiu bastante desgastado do episódio. Apesar disso, aliados de Lula descartam hipótese de exoneração, lembrando que o presidente reconhece em Múcio um habilidoso negociador.

Em defesa de Múcio, afirmam que há um entendimento de que a tarefa que ele desempenha é difícil. Pesa ainda a avaliação de que a fonte maior do problema está no governo do Distrito Federal, cuja polícia não conteve o avanço dos golpistas.

Continua depois da publicidade

Ainda assim, Múcio foi submetido à fritura até nas redes. No fim da tarde, a Executiva do PT divulgou nota afirmando que a orientação de Lula para o episódio exige uma atuação firme do governo, especialmente do Ministério da Defesa, para assegurar a disciplina e a hierarquia nas Forças Armadas.

Nas redes sociais, o deputado federal André Janones (Avante-MG), que atuou na coordenação da campanha presidencial de Lula, afirmou. "Com todo respeito ao Ministro Múcio, mas bandido tem que ser tratado como bandido, e ponto final!", escreveu no domingo.

Em entrevista, o ministro da Justiça, Flávio Dino, atestou a delicadeza da situação ao dizer que não concorda integralmente com o colega, mas pedindo que não haja julgamentos precipitados e dizendo haver lealdade e sinceridade de Múcio ao comandar uma das áreas mais difíceis do governo.

Continua depois da publicidade

Segundo Dino, Múcio optou por um caminho de diálogo com as instituições militares e não pode ser condenado por isso. "O resultado, depois, pode levar a julgamentos precipitados. Eu prefiro acreditar que o ministro Múcio, nas condições difíceis que ele atua, fez o máximo com sinceridade e com lealdade".
Dino afirmou que cabe à nação fazer o julgamento político do episódio.

"A minha visão não é nesse sentido de martirização do ministro Múcio como sendo o grande vilão desse processo, eu não compartilho dessa visão e tenho, ao contrário, solidariedade ao ministro Múcio, o que não significa concordância integral com as opiniões dele".

Um interlocutor de Lula afirma que ainda "é cedo" para falar na saída de Múcio do governo.
Apesar de um sentimento de insatisfação com a atuação do ministro diante dos atos golpistas, de saque e de vandalismo, um aliado do presidente defende esperar "a crise passar" para então ser avaliado o cenário.

Continua depois da publicidade

Na tarde de terça-feira (10), ao chegar ao Palácio do Planalto e ser questionado por jornalistas sobre a atuação de Múcio na desmobilização dos acampamentos, o deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSOL) endossou as críticas que aliados de Lula fazem ao ministro da Defesa.

"Eu concordo com essas críticas. Primeiro, cabe ao presidente Lula definir os seus ministros e lidar com os seus ministros. Agora o ministro José Múcio dizer que as manifestações pedindo golpe militar em frente aos quartéis são democráticas, desculpe, mas isso não é a minha opinião, não é a opinião da maioria da sociedade brasileira e, tenha certeza, não é a opinião do presidente Lula", afirmou o líder sem-teto.

Continua depois da publicidade

Mais lidas

Conteúdos Recomendados

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software