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Já escalado pelo PT para disputar o Planalto em 2018, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva empenha-se em pavimentar o caminho com doses cada vez maiores de intervenção no governo Dilma Rousseff. Uma posologia que combina um "detour" em direção ao mercado, apadrinhamentos de ministros sintonizados com o setor produtivo e menos PT na Esplanada.
Lula não quer atuar apenas como animador para que a militância compareça em massa à posse da presidente, no dia 1.º, em Brasília. A ideia é que a gestão da "criatura" seja melhor do que o primeiro mandato do ponto de vista administrativo e com índices econômicos mais vistosos. Lula insistiu para que Dilma o imitasse na economia, surpreendendo a todos ao trazer um nome do mercado para a equipe econômica. Com ele, a cartada foi Henrique Meirelles, então deputado eleito pelo PSDB, para o Banco Central; com Dilma, Joaquim Levy, funcionário graduado do Bradesco.
Com influência no futuro governo de Dilma e um toque pessoal nos rumos do PT, Lula acredita que tornará o partido viável para tentar o quinto mandato seguido de um petista na Presidência da República. E isso exigirá uma radical renovação nos quadros da legenda, hoje envelhecida, segundo o ex-presidente. Os planos para esse rejuvenescimento já foram feitos.
Um exemplo claro de como tem agido o ex-presidente é o de que Lula jamais moveu um dedo para salvar o mandato do ex-deputado André Vargas (PR), ex-secretário de comunicação da Executiva do PT suspeito de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef. Vargas teve o mandato cassado na quarta-feira.
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No campo simbólico, o ex-presidente decidiu condicionar a candidatura a mudanças de rumos no partido e a um expurgo geral dos suspeitos de envolvimento em corrupção por temer ser candidato por um partido desgastado por escândalos como o do mensalão e da Petrobrás, o que aumenta o risco de derrota na próxima disputa.
Lula orientou os senadores Lindbergh Farias (RJ), Humberto Costa (PE) e Jorge Viana (AC) a percorrer o País atrás de líderes que participaram dos protestos de junho de 2013 que se mostraram resistentes a se filiar a partidos. Lula tem dito, a pessoas com as quais conversa sobre os problemas vividos pelo PT, candidaturas no futuro e o atual governo, que o maior desafio é atrair para a política a juventude que não ouve rádio, não vê televisão e não lê jornais. "Como se comunicar com eles? Esse é nosso desafio", repete o ex-presidente.
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Certeza
Lula contou às pessoas com as quais conversou que tinha certeza de que seria lançado candidato à sucessão de Dilma assim que fosse anunciado o resultado do 2.º turno da eleição, no dia 26 de outubro, independentemente do nome do vencedor. "Não havia como sair dessa. E não havia como dizer sim nem não", resumiu o ex-presidente durante conversa com deputados e senadores na quarta-feira, em Brasília.
O ex-presidente sabe ainda que terá de superar no mínimo dois obstáculos para buscar um novo mandato ao Planalto: estará com 73 anos e terá de cuidar bem da saúde, pois enfrentou um câncer da laringe em 2011. Ele tem ido à academia em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, todos os dias em que está na cidade. Manter-se em forma, porém, será o menor dos desafios do petista. O mais difícil, dizem assessores próximos, será lidar com a resistência da mulher, Marisa Letícia, que tem dito que aceita qualquer coisa, menos a volta à condição de primeira-dama.
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Aos colegas de PT, Lula não se cansa de recomendar a todos que leiam a biografia de Getúlio Vargas, escrita pelo jornalista Lira Neto. "Li os três volumes. E agora consigo entender por que Getúlio foi tão criticado", tem afirmado o ex-presidente, num tom que os interlocutores se arriscam a dizer que é uma comparação consigo mesmo. Getúlio foi presidente de 1930 a 1945, saiu após um forte processo de desgaste de seu poder ditatorial e voltou em 1951 pelos braços do povo numa eleição consagradora. Governou até tirar a própria vida, em 1954, novamente sob pesado ataque dos oposicionistas. A esperança dos petistas, ao ouvir os conselhos de leitura, é que Lula repita o gesto de Getúlio e dispute nova eleição.
A movimentação de Lula sugere que ele já aceitou a missão. Na semana que passou, ele chegou a Brasília na terça-feira à noite. Dormiu e, no dia seguinte, recebia parlamentares do PT no café da manhã do hotel. Depois, juntou-se ao governador da Bahia, Jaques Wagner, e ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, além de Rui Falcão, presidente do PT, para almoçar com Dilma no Palácio da Alvorada. No encontro, deu dicas para a posse do dia 1.º. Mas, ao que tudo indica, Lula também tem planos para a posse de janeiro de 2019, na condição de presidente eleito. De novo.
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