ENTREVISTA

Luiz Fernando: 'Queremos levar um hospital e a USP para a Baixada, não mais pedágios'

Deputado do PT mais votado na Baixada Santista, Luiz Fernando explica luta para evitar mais pedágios na região e conta sobre o desejo de ser prefeito de São Bernardo do Campo

Bruno Hoffmann

Publicado em 01/09/2023 às 10:25

Atualizado em 01/09/2023 às 10:38

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O deputado estadual Luiz Fernando / Ettore Chiereguini/Gazeta de S. Paulo

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Apesar de ter o berço político em São Bernardo do Campo, o deputado estadual Luiz Fernando foi o mais votado do PT na Baixada Santista nas últimas eleições e mantém pautas constantes na região. A atual é a de tentar evitar a instalação de pedágios “free flow” (sem cabines de cobranças) na rodovia Padre Manoel da Nóbrega, uma das intenções do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

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Pelo projeto, transitar pela via (que estabelece ligação entre Cubatão, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe, na Baixada Santista, e Itariri, Pedro de Toledo e Miracatu, no Vale do Ribeira) poderia acarretar em cobranças até mesmo em caso de percursos por uma única cidade. Em Itanhaém, por exemplo, há o temor entre vereadores e população de aumentar o tráfego por dentro do município.

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“Queremos levar um hospital e a USP para a Baixada, não mais pedágios”, disse ele em entrevista ao Diário e à Gazeta de S. Paulo, realizada na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) nesta semana.

Na conversa, o parlamentar também revelou o desejo de ser prefeito de São Bernardo do Campo, criticou o atual prefeito, Orlando Morando (PSDB), e explicou por que é contra a privatização de empresas como a Sabesp.

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Leia a entrevista:

O sr. é contrário ao estudo da gestão Tarcísio de instalar pedágios “free flow” em rodovias do litoral, como na Padre Manoel da Nóbrega, na Baixada Santista. Como está essa discussão?

Tenho feito uma luta muito forte e coordenei uma frente parlamentar contra a instalação de novos pedágios na Baixada. Isso atrapalha muito o desenvolvimento e o custo da Baixada e afetaria cidades como Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe. Eles querem colocar vários pedágios para pagar a construção de uma melhoria que não fica sequer nesse trecho – é de Peruíbe para frente que que estariam essas benfeitorias. Antes, fomos ao judiciário, fizemos audiências públicas e manifestações e conseguimos barrar. Queremos uma Baixada sem mais pedágios. O povo já paga o maior pedágio deste País para subir ou descer pela Anchieta e Imigrantes. Queremos é levar um hospital do estado para a Baixada, um campus da USP, da Unesp, da Unicamp, e não pedágio e presídio como o governo do Estado quer.

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Há outras ações do sr. em relação à Baixada?

Sou o deputado estadual do Partido dos Trabalhadores com a maior votação na Baixada Santista. Fui eu que ajudei a brecar a ideia de levar uma usina termoelétrica para Peruíbe, coordenando a frente parlamentar. Eu que pedi a CPI da Cava [Subaquática]. Infelizmente, os deputados da Baixada [na Alesp] não têm se somado a nós nem na frente parlamentar para segurar a usina, nem na frente parlamentar para evitar o pedágio. Não estou dizendo que eles não tenham outros trabalhos, mas nessas frentes não fizeram parte.

Em relação ao Governo de São Paulo, como analise a gestão Tarcísio?

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A gestão Tarcísio é muito confusa. Eles não se acertam. O governo não conseguiu compor uma base aqui dentro da Casa e tem muitas dificuldades para aprovar projetos até sem muita importância. Também é um governo que olhou para a Polícia Militar, com um aumento justo, mas esqueceu da Civil. É um governo que traz algumas pautas malucas, como a privatização da Emae e da Sabesp. A privatização da gestão das escolas públicas. É um governador que toma posições muito parecidas com Bolsonaro, até por ser um bolsonarista. Ele fala que vai fazer algo e então volta atrás. O governo Tarcísio hoje tem atrapalhado o empresariado e o desenvolvimento de São Paulo.

Qual sua visão sobre a intenção do governador de privatizar a Sabesp?

É uma lógica na nossa visão criminosa de entregar um bem necessário à vida e ao desenvolvimento do Estado para um particular explorar. Onde se privatizou a água no mundo deu errado e começou a ser reestatizada. Não sei o que move esse governador. Escreva aí: vai piorar o serviço e a tarifa vai ficar impagável. O estado leva água aonde precisa, trata esgoto onde precisa, e o particular vai levar água aonde der lucro. E a indústria vai ficar refém de um grande empresário, até porque para comprar a Sabesp tem que ser um grande empresário. Nós somos radicalmente contra a privatização da Sabesp. Seria um retrocesso muito grande.

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O deputado Luiz FernandoEscreva a legenda aqui

O PT perdeu o protagonismo na região do Grande ABC. O sr. acredita ser possível reverter esse quadro na cidade onde o partido nasceu?

Sem dúvida. Creio que o PT vai manter as duas gestões atuais, em Mauá e em Diadema, que são as cidades [da região] extremamente petistas, ao lado de São Bernardo. São Bernardo tem um peso muito importante para nós. É onde nasceu o PT, o novo sindicalismo, a Central Única dos Trabalhadores e a maior liderança de esquerda democrática do mundo, o presidente Lula. É também é onde o PT fez três gestões transformadoras [com os ex-prefeitos Maurício Soares e Luiz Marinho].

Como analisa o atual momento da cidade?

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Passa por um momento de desmonte muito parecido com o Brasil de Bolsonaro, até porque o prefeito de São Bernardo é muito parecido com Bolsonaro. Eles têm a mesma lógica, a mesma arrogância, a mesma petulância. Parece que ambos são aporofóbicos [termo usado a quem tem rejeição a pobres]. Todos os programas sociais passaram um grande desmonte, além da saúde e  da industrialização. Muitas indústrias indo embora da cidade. Um desemprego muito grande. Eu ouvi do presidente Lula que a prioridade dele é retomar São Bernardo do Campo. Uma cidade que ele vota, uma cidade que ele morou a vida toda, uma cidade que ele criou os filhos, que se casou duas vezes. Ele ama aquela cidade e quer retomá-la para que efetivamente a gente possa voltar a gerar emprego, voltar a gerar desenvolvimento social e econômico.

De fato acredita que Morando e Bolsonaro são parecidos?

A diferença entre ele e Bolsonaro é o laquê que o prefeito usa e o Bolsonaro tem um cabelo todo bagunçado. O prefeito de São Bernardo é um engomadinho e Bolsonaro é muito esculachadão. No mais as políticas de Bolsonaro, inclusive as higienistas, são muito copiadas por ele.

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Como evitar a fuga de empresas e conseguir atrair novos empresários à região?

O ABC passou por essa desindustrialização pesada a partir de 2017. Isso tem gerado um problema muito grande em todos os sentidos. Há setores da indústria que têm uma remuneração diferenciada, com bons salários. Quando você tira esse dinheiro do mercado, além do desemprego, perde o açougue, o mercado, a farmácia, a escola particular, o plano de saúde. E todas essas pessoas [que perderam o trabalho] caem nos programas públicos, na educação pública, no transporte público. Temos uma oportunidade importante com a volta de Lula à presidência. Não podemos perder essa oportunidade de trazermos de novo a indústria e de fomentarmos o desenvolvimento econômico social de São Bernardo. O presidente quer isso, e me colocaram como representante nessa caminhada.

Quais são as outras prioridades de São Bernardo?

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O prefeito atual abandonou a cidade, e temos que fazer um resgate. A imprensa local vem demonstrando o grande desmonte que aconteceu na saúde. Por exemplo, um paciente esperou por 14 dias pela visita de um cardiologista em vão, e precisou ir para Jundiaí. Uma das cidades mais ricas do País não tinha um cardiologista por 14 dias. Vários equipamentos públicos de saúde estão sendo interditados por falta de manutenção. Há falta de médicos, de medicamentos. Todos os programas sociais que existiam na gestão Luiz Marinho morreram. Estão agora, por exemplo, despejando um projeto que cuida de meninos e meninas de rua que existia há 30 anos na cidade.

A deputada Carla Morando entrou com uma representação no Conselho de Ética da Alesp após o sr. dizer que a única obra de Orlando foi a de “eleger e reeleger sua mulher”, sob alegação de que a frase foi misógina. O pedido foi arquivado pelo conselho, mas, mesmo assim, como analisa essa situação?

Da nossa parte não tem polêmica nenhuma. É uma tentativa de banalizar uma luta muito séria pela igualdade de gênero e pela emancipação da mulher. A própria deputada já foi denunciada na Assembleia por uma frase extremamente misógina, sobre o “rabinho” das deputadas [segundo o Diário do Grande ABC, Carla disse em 2020 que as deputadas de esquerda “não representam as mulheres de verdade” e que elas “só olham o seu rabinho”]. O marido dela chamou uma mulher de “vaca” e que ela precisava “de um tanque de roupa suja” em um episódio durante a pandemia. Já eu represento a política que defende a participação da mulher e a igualdade de gênero. Faço parte de um partido que tem em sua direção obrigatoriamente igualdade de gênero. Entrei com um projeto, inclusive, para que haja eleição de 50% homens e 50% mulheres nos próximos pleitos na Assembleia.

Mas qual foi a intenção do sr. na fala sobre a Carla?

Foi uma fala extremamente positiva. Eu dizia que o prefeito não fez nenhuma nova obra, todas já tinham sido iniciadas em outras gestões. Disse que única obra positiva que ele fez foi lançar a mulher, e digo isso porque ela é muito melhor do que ele. Ela tem feito um trabalho nesta Casa importante, eu a acompanho nas redes sociais e ela é uma deputada atuante. Ele nunca foi.

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