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A pedido do Ministério da Justiça da Itália, a Corte de Apelação de Bolonha decidiu manter na prisão o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, ítalo-brasileiro condenado a 12 anos e sete meses de cadeia no processo do mensalão e que fugiu para território italiano em setembro de 2013 tentando escapar ao cumprimento da pena.
O tribunal renovou automaticamente a reclusão do ex-dirigente do BB, que está no presídio de Sant'Anna, em Módena, onde poderá ficar pelo menos até 17 de março, quando acaba o prazo de 40 dias para que o Brasil peça a extradição, segundo tratado com a República Italiana. O procurador Eduardo Pelella, chefe de gabinete do procurador-geral da República do Brasil, Rodrigo Janot, reconheceu que será difícil conseguir que o governo local extradite um de seus nacionais. Ressaltou, porém, que a manifestação do ministério pode indicar que os italianos não descartam extraditar Pizzolato, preso devido ao pedido brasileiro de detenção, via Interpol, e não por ter sido flagrado com documentos falsos, crime de baixa gravidade.
"O fato de haver um pedido de manutenção da prisão é importante", disse Pelella, que ontem se encontrou com o chefe da Procuradoria da República em Módena, Vito Zincani. "Convenhamos: se não há possibilidade de extradição, a prisão não é relevante". O procurador brasileiro explicou que, depois que o ex-diretor do BB foi capturado pela Polícia italiana, a Justiça "convalidou" a detenção de Pizzolato a pedido do Brasil. Apenas reconheceu que, além do processo brasileiro, o ex-diretor, ao ser preso, tinha documentos falsos, mas cujo porte não seria suficiente para que fosse mantido preso, por terem penas baixas, que possibilitam a sua suspensão condicional
Diferentemente do divulgado inicialmente, não haverá necessidade de audiência para examinar o pedido do ministério. O tribunal só se pronunciará agora mediante pedido da defesa de relaxamento de prisão ou prisão domiciliar. O próximo movimento do processo se dará a partir da chegada do pedido de extradição do Brasil, que deve ficar pronto ainda esta semana, segundo Pelella. A decisão sobre a "devolução" do prisioneiro ao Brasil será da Corte de Apelação, com possibilidade de recurso à Corte de Cassação em Roma. O fim, porém, será político: é do Ministério da Justiça o poder para cumprir ou não a decisão do Judiciário.
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"Não temos como garantir se o resultado vai ser positivo ou não, se haverá extradição ou não, é muito preliminar", explicou Pelella. "Aqui o processo de extradição corre em duas fases. Primeiro, tem a fase judiciária, tem um tipo de procedimento, depois tem uma fase mais política, tem um segundo tipo de procedimento, que talvez tenha pouca relação com a atividade do Ministério Público."
Pelella e o chefe do setor de Cooperação Internacional da PGF, Vladimir Aras, chegaram à Itália na semana passada. Estiveram no Ministério do Interior e, na segunda-feira, conversaram com procuradores italianos em Bolonha. Eles estavam preocupados com a possibilidade de relaxamento da prisão e com a eventual manifestação do ministério, que segundo o Código de Processo Penal italiano deveria ocorrer no máximo dez dias após a prisão, ocorrida em 5 de fevereiro em Pozza di Maranello, a 12 quilômetros de Módena.
O chefe de gabinete do PGR explicou que é indiferente para o Brasil se Pizzolato ficará em uma penitenciária comum ou se ganhará prisão domiciliar, com tornozeleira eletrônica, possibilidade aberta pela lei italiana.
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"Quando um país diz ao Brasil 'preciso de um nacional meu que está aí', o Brasil tem de dar a esse país garantia de que devolverá esse sujeito", explicou. "Quando isso acontece, o país bota o sujeito que está em seus domínios em custódia cautelar e diz: 'o processo corre, e garanto que entrego, porque está preso'. Se ele sai da cadeia, e o país dá as garantias que vai entregar, não faz tanta diferença."
Acusações
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Se for extraditado para o Brasil, o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato provavelmente enfrentará novas acusações por crimes cometidos na preparação e durante sua fuga da sentença do mensalão. Para isso, porém, o Brasil terá de pedir ao governo italiano a "extensão da extradição", uma espécie de permissão para que o ex-dirigente do BB seja processado por outros delitos além daqueles pelos quais ele terá sido extraditado. E não é certo que Pizzolato vá ser "devolvido" ao País, já que tem também nacionalidade italiana, e em geral os países não extraditam seus nacionais, embora haja algumas exceções a essa norma.
Pelo menos cinco crimes de falsidade material foram em tese cometidos por Pizzolato no Brasil quando assumiu a identidade do irmão, Celso Pizzolato, que morreu em 1978 em um acidente de trânsito. O ex-dirigente usou os dados do parente para obter carteira de identidade, CPF, titulo eleitoral e para fazer uma declaração de isento do Imposto de Renda, com objetivo de ter documentos necessários para tirar o passaporte com outro nome. Também votou em quatro turnos, com o mesmo objetivo - tendo cometido aí, supostamente, crime eleitoral.
Também foi aberto na Polícia Federal inquérito para apurar como Pizzolato financiou a sua fuga, segundo revelou ontem o Estado. Já foram localizadas contas do ex-dirigente na Espanha e em outros países, o que suscita curiosidade sobre a origem dos recursos.
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Na Itália, além do provável processo de extradição que enfrentará a partir da chegada do pedido do Brasil, Pizzolato também deverá responder a inquéritos por falsidade ideológica, falso testemunho a funcionário público e substituição de pessoa. Uma das investigações corre em La Spezia, onde o ex-diretor alugou uma casa como Celso Pizzolato e se identificou com esse nome para a Polícia. Outra está em Módena, região em que fica Pozza di Maranello, onde foi preso na casa de um parente. Na ocasião, chegou a dizer aos agentes: "Eu sou Celso".
O chefe da procuradoria da República italiana em Módena, Vito Zincani, disse que os delitos cometidos por Pizzolato em sua jurisdição não são "particularmente graves" e podem ter suas penas suspensas condicionalmente.
Pizzolato foi condenado pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Ele alega ser inocente.
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