Continua depois da publicidade
Uma armação, envolvendo vereadores, para cassar seu mandato. É essa a explicação que o vereador Jacob Koukdjian Neto, o Jacob Neto (PP), dá para o processo que culminou em sua saída da Câmara, concluído com o placar de 9 votos favoráveis e três contrários.
Jacob cumpria seu terceiro mandato — Silvio Viana Vieira, o Silvio Itaóca (PTB), assumiu sua vaga na segunda-feira — e fazia sérias críticas à Administração Municipal, principalmente ao prefeito Artur Parada Prócida (PSDB).
A divulgação de um vídeo em que ele aparece tratando da gravação de uma reunião onde vereadores o queriam cassá-lo resultou na abertura de um processo de quebra do decoro parlamentar. Jacob Neto, filho e neto de ex-prefeitos de Mongaguá, admite ter sido ingênuo. Confira, a seguir, a entrevista:
Diário do Litoral - A que o senhor atribui o processo que resultou em sua cassação?
Jacob Neto - Fui cassado graças a um crime encomendado, onde o mandante é o prefeito.
Continua depois da publicidade
DL - A qual crime o senhor se refere?
Jacob - Como se fosse um crime encomendado, ele mandou cassar. Alguns vereadores da base (governista) falaram isso pra mim, que era o prefeito que estava por trás. Na verdade, esse vídeo foi uma armação. Está provado que foi editado.
DL - Quando foi feito esse vídeo?
Jacob - Foi no ano passado, no último dia do mandato do vereador suplente Léo. Fomos a um local fazer a confraternização para o Léo, e foi a primeira vez que encontrei esse cidadão (que gravou o vídeo). Ele me chamou para conversar, e me disse que o Faccina (José Pedro Faccina, PPS), que estava conosco na oposição, quando voltasse, passaria para a base da situação do prefeito. O prefeito queria ter nove vereadores (2/3 da Câmara) para me cassar. Ele me contou que participava de reuniões, onde o assunto da pauta era minha cassação.
DL - Esse assessor falou como seria isso? Qual a irregularidade que poderia resultar na sua cassação?
Jacob - Não. Ele falou que o prefeito queria o último elemento para ter 2/3 da Câmara, para ter o domínio da Câmara, e fazer o que ele queria, inclusive me cassar.
Continua depois da publicidade
DL - Isso em função de o senhor sempre ter sido um crítico do Governo Artur Parada Prócida?
Jacob - Fui crítico em todas as administrações. No meu primeiro mandato, eu era da situação (Governo Prócida), mas não deixei de ser crítico. Era daquela base que votava contra ele. Cansei de reclamar.
DL - Nesse último mandato, o senhor estava mais crítico?
Jacob - Estou cumprindo o meu papel de fiscalizador. Essa Administração está pior do que a passada (do prefeito Paulo Wiazowski Filho, DEM). E olha que na Administração passada, eu estava na oposição.
Continua depois da publicidade
DL - Quais as principais falhas?
Jacob - Estão na Educação e na Saúde. Acabaram com a Educação, e a Saúde está um caos.
DL - Mas quais são as falhas?
Jacob - Na Educação, temos falta de professores, falta de cardápio para merenda, falta de planejamento, e os kits escolares foram entregues com atraso. São requerimentos que tentamos apresentar e que são barrados pela base do governo. A base blindou o prefeito. Só passou requerimento “café com leite”. Na Saúde, faltam médicos, medicamentos e estrutura. As crianças de Mongaguá não nascem em Mongaguá, mas em Itanhaém e em Praia Grande.
DL - O senhor tentava mostrar isso e a base blindava. Mesmo assim, isso gerou desconforto na Administração?
Jacob - O prefeito é aquele ditador que se você tentar atravessar o caminho dele, ele passa com rolo compressor. Se você é um comerciante e falar algo contra ele, ele manda lacrar o comércio. Ele é bem desse jeito. Ele é ditador.
Continua depois da publicidade
DL - O senhor tem ouvido relatos disso?
Jacob - Muitos. Todo mundo conhece o “estilo Artur de governar”. Quem passar pela frente dele, ele passa com rolo compressor. Foi o que ele quis fazer comigo.
DL - Como surgiu a gravação do vídeo que resultou em sua cassação?
Jacob - Foi uma armação do assessor do vereador Carlos Jacó Rocha, o Cafema (PTB), que foi me procurar várias vezes no meu escritório e ficava falando que eles queriam me cassar.
DL - Mas o senhor não perguntou qual seria essa irregularidade?
Jacob - Ele falava ‘não sei’. Na gravação, isso aparece. Ele fala “os cara armam, né meu!”. Ele foi umas quatro ou cinco vezes no meu escritório falando isso.
Continua depois da publicidade
DL - No dia da filmagem, foi o senhor que chamou ele?
Jacob - Ele me ligou várias vezes falando de uma reunião que ocorreria às 16 horas, onde o assunto seria minha cassação. E ele queria um gravador ou filmadora para me mostrar que o que ele estava falando era verdade. Ele me pediu um gravador. Ele foi ‘pau mandado’ dos vereadores da Mesa Diretora. O vereador dele, Cafema, não engoliu o fato de eu ter aberto uma comissão para apurar uma fraude na Liga das Escolas de Samba, na qual ele era tesoureiro. Isso está sendo investigado pela Promotoria de Justiça. O relatório da comissão da Câmara complica bastante os membros da liga. Ele (Cafema) não engoliu eu ter chamado ele para depor, de eu ter tido mais votos do que ele.
DL - Em nenhum momento o senhor se questionou se deveria confiar em um assessor de um vereador que é seu desafeto? Não foi ingenuidade de sua parte?
Jacob - Foi uma ingenuidade, mas imagine uma pessoa indo várias vezes no seu escritório falando que tem pessoas que querem te cassar. E que te diz que vai trazer provas. Eu paguei para ver.
Ele falou coisas pessoais do vereador, que acabei confirmando que eram verdade. Ele não mentiu quando falou sobre o que estava acontecendo na Câmara. Tudo se consolidou. A fita apresentada na Câmara está editada. O próprio vereador Carlos Cafema diz isso. Quando ele soube que supostamente eu iria subornar o assessor, pediu ao Baianinho (Antônio Eduardo dos Santos, do PTB, presidente da Câmara) para arrumarem um gravador e entregou para o denunciante. O Cafema fala que a fita é editada.
Continua depois da publicidade
DL - O senhor foi cassado por uma fita editada?
Jacob - O Cafema declarou “eu recebi a filmagem, nós mandamos para filtragem do som, legenda e edição”. Eles editaram. Existem conversas antes e depois que foram retiradas.
DL - Como é a relação da base de apoio com o prefeito?
Jacob - Eu não posso afirmar. Sei que eles o defendem com unhas e dentes. Há denúncias no Ministério Público, que não foram feitas por mim, de nepotismo. De vereadores com parentes trabalhando na Prefeitura ou em empresas ligadas à Prefeitura.
DL - Eles são agraciados pela Prefeitura?
Jacob - Ninguém está defendendo o prefeito porque ele tem olhos azuis. Os vereadores vivem dentro do gabinete. O engraçado é que os próprios vereadores da base falavam “a fita é ridícula, não prova nada” e cansaram de falar que não iriam votar nem para abrir o processo. Abriram, votaram e cassaram. E falavam:“Infelizmente, estamos votando porque o prefeito mandou”.
Continua depois da publicidade
DL - Como foi sua defesa no processo de cassação?
Jacob - Tive chance de me defender. A CPI foi conduzida na maior lisura. Fui cassado com relatório da comissão falando para não cassar. Isso vai entrar para a história. O primeiro relatório foi para não dar continuidade ao processo. O segundo relatório diz que não existe crime. A comissão fez relatório apontando que não existe quebra de decoro e não existe motivo para cassar, e eu fui cassado. Como se não bastasse, o presidente da Casa mandou para a Promotoria a cópia do DVD e da denúncia. A Promotoria arquivou, destacando que não existia crime, mas rixa entre partidos.
DL - O senhor acredita que retomará o mandato?
Jacob - Tenho certeza que volto, porque eu não cometi o crime que estão me imputando.
Cafema: ‘Jacob tentou corromper meu assessor’
Continua depois da publicidade
O Diário do Litoral procurou a Prefeitura e o vereador Carlos Cafema para responderem aos ataques feitos por Jacob Koukdjian Neto. O prefeito Artur Parada Prócida optou por mandar uma nota à Redação, já Cafema respondeu a todos os questionamentos. Eis a nota enviada pela assessoria do prefeito: “Em respeito ao triste momento em que o senhor Jacob Koukdjian Neto vive por ter seu mandato cassado pela maioria absoluta dos vereadores da Câmara Municipal de Mongaguá, sob a acusação de tentar subornar um assessor de vereador, caso amplamente divulgado pela imprensa, quero optar pelo silêncio em relação às acusações infundadas que ele faz ao Governo Municipal e aos ataques políticos e pessoais que estou recebendo dele. Não quero fazer polêmica em relação a um assunto que diz respeito exclusivamente ao Poder Legislativo. A mesma atitude tive quando ele foi afastado do cargo de vereador, em 2012, por decisão do Poder Judiciário de Mongaguá, em decorrência de uma denúncia de que ele exigia parte do salário de um ex-assessor dele, entre outros problemas que o ex-vereador Jacó Neto responde judicialmente. Prof. Artur Parada Prócida, prefeito de Mongaguá”.
Entrevista Carlos Cafema:
DL - O Jacob Neto atribui a cassação a uma armação envolvendo um dos assessores do vereador, que fez a gravação do vídeo usado na cassação. O senhor ainda mantém esse assessor?
Carlos Cafema - Não tem como dizer que foi uma armação, pois o ex-vereador Jacob já estava em seu terceiro mandato e não é uma pessoa inocente, ele tinha certeza que iria corromper meu assessor, mas felizmente meu assessor foi uma pessoa íntegra e denunciou o caso de corrupção e assédio que Jacob estava tentando fazer com ele, querendo corromper seus princípios. O vídeo não é uma armação, pois tem laudo pericial. O assessor Moacir continua como meu assessor.
DL - Havia algum tipo de interesse seu em querer cassar Jacob Neto?
Cafema - Não havia nenhum interesse da minha parte porque ele nunca havia me prejudicado diretamente. Após ele tentar corromper meu assessor dizendo que iria lhe pagar R$ 500,00 em troca de que meu assessor trabalhasse indiretamente para ele (Jacob) e deixasse de fazer meus serviços junto aos órgãos e munícipes, a partir daí, sim, ele estava me prejudicando pessoalmente e legalmente.
DL - Jacob Neto afirma que o interesse do senhor em querer cassá-lo se deve às irregularidades apontadas por ele na Liga das Escolas de Samba, à época em que o senhor era tesoureiro da entidade. Como o senhor responde a essa acusação?
Cafema - Não temos irregularidades na Liga das Escolas de Samba, pois todas as escolas saíram nos seus respectivos dias de desfile, apenas não teve campeã naquele ano, tanto que o processo se extinguiu, e todas as escolas de samba fizeram suas prestações de contas, que foram aprovadas pelo Tribunal de Contas.
DL - A investigação na Promotoria de Justiça referente a irregularidades na Liga já foi concluída?
Cafema - Acredito que a investigação não chegou à Promotoria, pois foi extinta na delegacia; e a Comissão de Investigação da Câmara foi uma tremenda desorganização porque eles pediam sempre os mesmos documentos.
DL - O vereador cassado Jacob Neto disse que o senhor confirmou que a gravação foi editada.
Cafema - Confirmo que a gravação teve a limpeza do áudio para podermos ouvir melhor o que o ex-vereador falava, e também foi colocada legenda para que a comissão pudesse entender melhor o que se passasse na conversa. A gravação passou por uma perícia e analisou que é verídica. Temos a original, que é a mesma da gravação que foi feita a limpeza do áudio. Quem assistir as duas vai ver que se trata da mesma gravação, só que uma com o som limpo e outra com o som ruim. Mas dá pra entender e ouvir o ex-vereador, que já foi cassado em outra oportunidade, porque essa já é sua segunda cassação, pedindo o número da conta do meu assessor.
DL - Jacob Neto cita que há vereadores com parentes trabalhando na Prefeitura ou em empresas que prestam serviço à Administração Municipal. O senhor se enquadraria nesse grupo?
Cafema - Não tenho parentes trabalhando em empresas que prestam serviços à Administração Municipal, e nem trabalhando diretamente na Prefeitura de Mongaguá, nem na Câmara de Mongaguá. Minha esposa é diretora de uma escola municipal, mas ela é concursada na Prefeitura e no Estado. Recebemos uma denúncia do Ministério Público que respondemos por ofício e o mesmo foi extinto, pois não fazemos nepotismo cruzado, como o ex-vereador sempre fez com seu pai sendo prefeito e o ex-vereador na época era tesoureiro.
Continua depois da publicidade