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Sob pressão dos adversários e até de integrantes da base aliada, que agem nos bastidores para abreviar o seu mandato, a presidente Dilma Rousseff vive os momentos de maior solidão no poder. O governo conta com as duas semanas de recesso no Congresso, a partir do dia 18, para esfriar a crise política, mas até agora não há acordo sobre os passos a seguir.
Nos últimos dias, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a chamar ministros, nomes de peso do PT e representantes de movimentos sociais para conversas reservadas, em São Paulo. Preocupado com o impacto da Operação Lava Jato, com as novas medidas impopulares que serão tomadas e com os efeitos recessivos do ajuste fiscal, Lula avalia que, se Dilma não começar a percorrer o País e a divulgar notícias boas, os problemas vão se agravar.
"Eu não tenho argumentos para defender o governo", disse o ex-presidente. "Mas não podemos aceitar a pecha de corrupção que querem pôr na nossa testa nem ficar só na agenda do ajuste fiscal. Nós precisamos ter gente fazendo o debate político."
Lula conversou com o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, que tenta reaproximá-lo de Dilma, com o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, e com o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro, todos do PT. Ouviu receitas sobre o que fazer para Dilma, o partido e ele próprio saírem do "volume morto".
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"O governo precisa mudar radicalmente sua política monetária para viabilizar a retomada do crescimento e do emprego", afirmou Tarso, ao lembrar que a taxa básica de juros (Selic) era de 11 75% em dezembro e no mês passado chegou a 13,75%.
Na avaliação de Tarso, se Dilma sair às ruas para dizer que tudo está certo e nada vai mudar é melhor ficar no Planalto. "O golpismo paraguaio em curso parte da seguinte premissa da oposição: 'se é para fazer isso que estão fazendo, nós fazemos muito melhor'. O que é verdadeiro", provocou o petista.
Citado na Lava Jato pelo delator Ricardo Pessoa, da UTC, o ministro Edinho disse que o ajuste fiscal é "absolutamente necessário". Tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, ele repudiou as acusações de tráfico de influência na Petrobras.
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Para o prefeito Luiz Marinho, Dilma necessita dar "urgentemente" um sinal claro para evitar a quebradeira das empreiteiras envolvidas na Lava Jato, caso contrário haverá uma onda de demissões. "Estou muito preocupado com isso", comentou.
Nos bastidores, senadores do PMDB dizem que o desemprego vai aumentar assim que for aprovada a desoneração da folha de pagamento das empresas, última medida do ajuste fiscal. Uma ala do PMDB flerta com o PSDB do senador Aécio Neves.
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O Palácio do Planalto ainda não tem, no entanto, uma estratégia definida para reagir às ameaças de impeachment nem mesmo às traições na base de sustentação do governo no Congresso, muitas delas apoiadas pelos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL), ambos do PMDB. Até mesmo integrantes do PMDB admitem que a dupla tem tornado a vida de Dilma um "inferno".
No início da semana, o vice-presidente Michel Temer avisou aos correligionários ávidos por destitui-lo da articulação política do Planalto que permanecerá no posto. "Estamos no cumprimento de uma missão e não somos movidos por oportunismo político-eleitoral", reagiu o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, que auxilia Temer.
Ministros também intensificaram conversas com titulares do Tribunal de Contas da União (TCU), que em agosto vai analisar as contas de 2014 da gestão Dilma. O governo produzirá uma "cartilha" para distribuir aos deputados e senadores, com o objetivo de explicar as manobras no Orçamento, conhecidas como "pedaladas fiscais".
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A justificativa da equipe econômica é de que o atraso no repasse de verbas do Tesouro para bancos públicos honrarem compromissos com programas sociais, como Bolsa Família, não pode ser configurado como empréstimo e muito menos encaixado na lista de práticas proibidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Além disso, o Planalto alega que o mesmo arranjo foi adotado por outras administrações.
A outra frente de batalha do governo é no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde o PSDB pede a cassação do registro da candidatura de Dilma e Temer. Para o partido, os dois devem ser declarados inelegíveis por abuso do poder econômico e político na campanha.
"Ao contrário desses setores radicalizados da oposição, vejo segmentos que, mesmo não concordando com o governo, estão indignados com essa postura golpista. Falar em impeachment é o mesmo que pisotear a Constituição", afirmou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, convocado para depor na quarta-feira na CPI da Petrobras. "É impressionante a desconexão da presidente com a realidade. Não vamos permitir que as instituições sejam constrangidas por ação do governo", rebateu Aécio, que preside o PSDB.
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Na terça-feira à noite, ao fazer uma escala na cidade do Porto, em Portugal, antes de seguir para a Rússia, Dilma teve reunião fora da agenda com Cardozo e com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski. "Lewandowski queria conversar com ela sobre o reajuste do Judiciário", garantiu o ministro. O Senado aprovou no dia 30 de junho o aumento dos salários dos servidores do Judiciário em índices que variam de 53% a 78,56%. "Parece que o Congresso virou a nau da insensatez" resumiu o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS).
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