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Na primeira sessão da Câmara de Vereadores, após deixar a Penitenciária 1 de São Vicente, o vereador Eronaldo José de Oliveira, o Ferrugem, usou parte do tempo de sua fala, no plenário, para se defender das acusações de envolvimento no esquema de fraude de benefícios da Previdência Social.
Durante seu pronunciamento de pouco mais de três minutos, o líder do PDT no Legislativo, questionou qual crime teria cometido, se como dirigente sindical, apenas prestou assistência aos trabalhadores que o procuraram, encaminhando-os para a consulta médica psiquiátrica.
“...Na minha função de dirigente sindical quando procurado orientei trabalhador referente aos seus direitos (...) qual crime cometi se quando procurado por trabalhador solicitei a funcionária agendamento de consulta médica e ainda me responsabilizei por ela, que crime é este que pratiquei quando outro trabalhador nos procurou sem ter o valor total da consulta e nos solicita auxílio?. São esses, senhores, os crimes que este vereador cometeu...”, declarou Ferrugem em seu pronunciamento na Câmara.
Logo após o seu pronunciamento, o vereador voltou a enfatizar em entrevista coletiva à imprensa, que não cometeu crime algum. “Eu não sou criminoso”, afirmou.
“O processo está correndo em segredo de Justiça e a gente espera que tudo isso seja apurado e investigado, e que se encontrem os culpados”, afirmou Ferrugem alegando que também tem interesse nas apurações e que vai colaborar com a Polícia e com a Justiça. “Já estou colaborando, já prestei esclarecimentos”, complementou.
Entretanto, Ferrugem criticou a repercussão da imprensa sobre o caso. ”Infelizmente pegam o nome da gente e qualificam de quadrilha. Há mais de 20 anos eu ajudo pessoas que me procuram, e faria tudo de novo pelos companheiros. O que a mídia fez foi sensacionalismo, prejudicando o nome da gente”, apelou o dirigente sindical.
Ferrugem destacou que os membros do sindicato que prestaram assistência aos trabalhadores beneficiados nas fraudes não cometeram crimes, uma vez que “cabe ao médico atestar os problemas de saúde e às pessoas do INSS, conceder o benefício”, disse ele.
“Não é certo dizer que diretores do sindicato e os companheiros que solicitaram os benefícios são formadores de quadrilha”, ressaltou. Ferrugem classificou como “trágica experiência” os cinco dias que ficou detido na Penitenciária 1 de São Vicente.
O vereador é um dos acusados pela Polícia Federal de participação no esquema de fraude na concessão de pelo menos 130 benefícios de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, que teriam onerado os cofres do INSS em cerca de R$ 3,5 milhões. O esquema fraudulento está sendo apontado pela PF como o maior já cometido contra a Previdência Social.
Conforme as investigações da PF, na operação que foi denominada de Cerebrum, o esquema era orquestrado por duas quadrilhas, sendo que uma atuava dentro do Sindicato dos Rodoviários, no qual Ferrugem é um dos diretores.
A maior parte dos benefícios fraudados foi concedida na Baixada Santista a funcionários e ex-funcionários de uma companhia de transporte coletivo. Outras pessoas beneficiadas no esquema foram localizadas em cidades do interior do Estado.
Além de Ferrugem, foram detidos na última quarta-feira, o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Valdir de Souza Pestana, e o médico psiquiatra José André Kulikoski Marins, considerado peça chave no esquema. Segundo a PF, o médico teria instruído pacientes a se dirigem dopados de tranqüilizantes — medicamentos controlados (tarja preta) — à perícia do INSS para conseguirem os benefícios.
As investigações acontecem há pelo menos um ano por uma força-tarefa formada por equipes do INSS, Ministério Público e Polícia Federal. A força-tarefa estima que as fraudes sejam praticadas na Região desde 2002.
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