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A presidente Dilma Rousseff sofreu ontem (11) uma derrota na Câmara dos Deputados ao ver os deputados da sua base aliada, liderados pelo PMDB, se aliarem à oposição para aprovar um requerimento do PSDB que cria uma comissão externa de parlamentares para irem até a Holanda apurar denúncias de pagamento de propina a funcionários da Petrobrás.
O resultado ocorreu a despeito de o governo ter reaberto o balcão da reforma ministerial com o PP e o PROS e conseguido deles a promessa de que vão abandonar a aliança informal com o PMDB e outros quatro partidos, o chamado "blocão". Coube ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, comandar a operação. Ele se reuniu com integrantes do partido logo pela manhã.
O ministro também pressionou o PR a deixar o bloco informal, reunindo-se na segunda-feira com o ministro Cesar Borges (Transportes), filiado ao partido, e com o presidente. Não conseguiu ouvir dele nem dos dirigentes da legenda a promessa de uma mudança de posição. Já com o PDT obteve êxito: o partido voltou para o lado do governo e abandonou o "blocão". Na votação do requerimento da Petrobras, obstruiu a votação. Mesmo assim, somados o PMDB, o PTB, e o PSC, da base, e o PSDB, DEM, PPS, PSOL e Solidariedade, de oposição, os rebeldes conseguiram, por 276 votos a favor, 28 contra e 15 abstenções, aprovar o requerimento.
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As retaliações devem continuar nos próximos dias. Em reunião fechada, os deputados peemedebistas decidiram declarar independência em relação aos projetos do governo e requerer à direção nacional do partido que reavalie a aliança nacional com o PT para a campanha à reeleição de Dilma. Os peemedebistas também decidiram convocar nos próximos dias o ministro da Saúde, Arthur Chioro, para depor na Câmara sobre o programa Mais Médicos. O partido vai ainda aprovar convites para que a presidente da Petrobras, Graça Foster, fale sobre as denúncias contra a estatal, e para que o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, explique os seguidos apagões no País. Outros casos de convocação de ministros serão avaliados individualmente, mas deverão ser rejeitados na maioria, segundo Cunha.
Ao mesmo tempo, a bancada do PMDB da Câmara reforçou a liderança de Cunha em uma reunião tensa de mais de três horas. Segundo relatos, o vice-presidente Michel Temer passou a ser um dos alvos das críticas dos parlamentares por ter tomado uma posição na qual defende mais o governo do que o partido. A declaração de Temer dando a aliança como "garantidíssima" irritou os deputados
Em nota aprovada na reunião, além de reiterar o apoio a Cunha como seu interlocutor, o PMDB declarou que vai agir com independência na Câmara e reivindicou a convocação da executiva nacional do partido para "reavaliar a qualidade da aliança com o PT". A moção disse ainda que Cunha tem sofrido ataques de forças políticas que "flertam com projeto hegemônico de poder", em uma referência ao PT. O líder afirmou que a declaração da bancada não é "pregação de rompimento", mas um pedido de debate político sobre a relação com o PT. "Casal não vai separar porque está discutindo a relação, vai separar se não conseguir aprimorar a relação", comparou Cunha.
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A estratégia do Palácio de cooptar os aliados incluía também a a participação do vice-presidente Michel Temer, que foi cobrado na segunda-feira por Dilma pelos ataques do PMDB da Câmara. Na manhã de ontem (11), Temer tentou enquadrar Eduardo Cunha. Num encontro que teve também a participação do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), disse a ele que ele estava exagerando em seus gestos de enfrentamento com o Planalto.
"Isso está constrangendo o governo e pode causar prejuízos ao PMDB", disse Temer a Cunha.
Temer disse ainda que Cunha não deveria tomar atitudes isoladas e usar o microblog Twitter para os ataques. Cunha respondeu que o primeiro tiro não tinha sido dele, mas do presidente do PT, Rui Falcão, que o agredira publicamente. Afirmou que só tinha respondido e que não considerava estar sendo desrespeitoso com o governo. Como consequência, Eduardo Cunha e o "blocão" decidiram aliviar um pouco a pressão sobre o governo, que aceitou enviar hoje (12) à Câmara os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Jorge Hage (Controladoria-Geral da União). Eles vão dar as explicações que os deputados pedirem.
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