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Convidada especial da comemoração do Jubileu de Ouro da União Africana, a presidente Dilma Rousseff chega nesta sexta-feira, 24, à Adis Abeba, na Etiópia, em mais um sinal da intensificação da agenda brasileira no continente africano. Para o Itamaraty, o apoio da região foi fundamental na eleição do embaixador Roberto Azevêdo para a direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Nas contas do governo brasileiro, Azevêdo obteve 43 votos africanos, de um total possível de 50. Os africanos teriam dado um apoio proporcionalmente maior que os latino-americanos - entre eles, Azevêdo teria obtido metade dos 36 votos.
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"O México (que lançou Herminio Blanco na disputa pela OMC, visto como candidato dos países ricos) só tem uma meia dúzia de embaixadas no continente contra 37 nossas! O 'soft power' é nossa vantagem, é o tipo de relacionamento que os africanos prezam, pois está baseado no respeito mútuo entre as partes e não na atitude em geral paternalista do relacionamento com os países do Norte", afirma um embaixador brasileiro na África.
Esta é a terceira viagem de Dilma ao continente só neste ano - a presidente visitou a Guiné Equatorial, em fevereiro, para a III Cúpula América do Sul-África, emendando com uma passagem pela Nigéria, onde se encontrou com o presidente Goodluck Jonathan. Em março, participou em Durban, na África do Sul, da V Cúpula de Chefes de Estado e de Governo dos Brics. Ao pisar em Adis Abeba, Dilma terá passado em 2013 mais dias na África do que nos seus dois primeiros anos de mandato somados.
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"A presidente Dilma é o símbolo da grande presença brasileira no mundo. A África vê o Brasil como exemplo a ser emulado, quer aprender nossas tecnologias sociais, ver como nos industrializamos, nos considera um exemplo de sucesso", avalia o embaixador Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, subsecretário-geral político para África e Oriente Médio. "Com o convite (dos 50 anos da União Africana), a África chama o Brasil para a sua festa e estabelece um novo patamar nas nossas relações."
Dilma deve ficar dois dias na Etiópia, um dos países que mais crescem na África e no mundo - o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um aumento no PIB de 6,5% para 2013 e 2014, depois de altas de 7% (2012) e 7,5% (2011), alavancadas pelo desenvolvimento agrícola - e não pela exploração de petróleo, que a Etiópia importa.
A capital etíope, sede da União Africana, é um canteiro de obras a céu aberto, com novos edifícios brotando a cada esquina, carros de luxo cruzando ruas e poeira sendo derramada sobre uma população ainda miserável. O PIB per capita é de US$ 1.200, o equivalente à 10% da riqueza de um brasileiro.
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Agenda
Dilma deve se encontrar nesta sexta com o primeiro ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn. Está prevista a assinatura de acordos de cooperação em ciência e tecnologia, agricultura e serviços aéreos - a Ethiopian Airlines se prepara para lançar em julho voos ligando Rio de Janeiro e São Paulo a Adis Abeba. Também há a expectativa de assinatura de um memorando de entendimento para o envio de professores brasileiros para a Universidade Pan-Africana, que tem cinco polos espalhados pelo continente.
Desalegn assumiu o cargo após a morte no ano passado do ex-guerrilheiro Meles Zenawi - este, elogiado por promover o desenvolvimento econômico do País, mas criticado por abusos na questão de direitos humanos. Para seus defensores, Zenawi- cuja imagem é encontrada por todos os cantos em Adis Abeba, estampada em outdoors,cartazes e panfletos- promoveu o crescimento econômico do país, investiu pesado em infraestrutura e na produção de flores; para os críticos, concentrou poderes, retirou benefícios sociais e envio de alimentos para os apoiadores da oposição e perseguiu jornalistas. Desalegn já prometeu dar continuidade ao legado de Zenawi, "sem nenhuma mudança".
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