Política

Delator diz que Pasadena poderia 'honrar compromissos políticos' de Gabrielli

Nesta segunda-feira, 16, a Polícia Federal deflagrou a Operação Corrosão, 20ª fase da Lava Jato

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 16/11/2015 às 16:49

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Novo delator da Operação Lava Jato, o engenheiro Agosthilde Mônaco de Carvalho declarou à força-tarefa do Ministério Público Federal que o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró lhe disse que a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, poderia "honrar compromissos políticos" do então presidente da estatal José Sérgio Gabrielli.

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"De acordo com as informações fornecidas por Nestor Cerveró, este negócio atenderia ao interesse de Gabrielli em realizar o Revamp (Renovação do Parque de Refino) e ao interesse da área internacional em adquirir a Refinaria", declarou Mônaco.

Nesta segunda-feira, 16, a Polícia Federal deflagrou a Operação Corrosão, 20ª fase da Lava Jato. A nova etapa da investigação mira Pasadena, caso emblemático da corrupção instalada na Petrobras. Segundo o Tribunal de Contas da União, a compra da refinaria causou um prejuízo de US$ 792 milhões.

Segundo o delator, Cerveró afirmou que antes mesmo do fechamento do contrato de compra de Pasadena, "o presidente Gabrielli já havia indicado a Construtora Norberto Odebrecht para realizar o Revamp para 200.000 barris/dia".

"O diretor Nestor, em tom de desabafo, disse ao depoente que o presidente Gabrielli estava muito interessado em resolver o assunto e dar a obra do Revamp para a Odebrecht", relatou.

Homem de confiança de Cerveró, o engenheiro Agosthilde Mônaco de Carvalho contou que no final de 2004 recebeu determinação do então diretor de Internacional para localizar refinarias de petróleo que estivessem à venda nos Estados Unidos para compra pela Petrobras. Segundo ele, na época era parte do plano estratégico da companhia o escoamento da produção excedente de petróleo para o exterior.

Agosthilde Mônaco de Carvalho afirmou que em janeiro de 2005, durante um telefonema com o presidente da Astra Oil, Alberto Failhaber, então proprietária de Pasadena, soube que a empresa tinha acabado de adquirir a refinaria e teria interesse em revendê-la.

"Nesta ligação o Sr. Alberto Failhaber, perguntado sobre as condições da refinaria, disse que a mesma precisava "tomar um banho de loja" para ficar nos padrões de qualidade técnica da Petrobras, uma vez que ela foi comprada na "bacia da almas", posto que o antigo proprietário (Crown), por problemas financeiros, quase não mais investia em manutenção preventiva, os equipamentos estavam desgastados e mal conservados, tinham problemas de segurança operacional, a mão de obra desmotivada e, principalmente, sem crédito para aquisição de óleo, matéri- prima operacional", declarou.

O delator contou à força-tarefa da Lava Jato que levou essas informações a Cerveró. Segundo ele, o então diretor da Petrobras disse, "abrindo um sorriso": "Nós também podemos comprar esta refinaria na bacia das almas, pois a Astra, sendo uma empresa de trading, não tem estrutura técnica nem capital para fazer um adequado investimento, além do mais, se chegarmos a um acordo com ela (Astra), um Revamp da refinaria deixará bastante satisfeito o presidente da Petrobras, pois sei que ele tem alguns compromissos políticos a saldar, portanto com Pasadena mataremos dois coelhos com uma única cajadada: refinar o óleo de Marlim nos Estados Unidos e o presidente Gabrielli poder honrar seus compromissos políticos".

O braço direito de Cerveró afirmou à força-tarefa da Lava Jato que uma comissão visitou a refinaria de Pasadena para avaliação. "Nesta visita, ocorrida entre os dias 29 a 31 de março de 2005, verificou que a mesma realmente encontrava-se em péssimas condições de conservação, se comparada às refinarias brasileiras e que seriam necessárias várias reformas na refinaria para que ficasse em boas condições; que todos os membros da comissão observaram que a refinaria não estava em boas condições; que foi elogiada a localização física, mas não a condição operacional da refinaria; que ao retornar ao Brasil comunicou esses fatos ao diretor Nestor e recebeu a mesma informação, 'não se meta, Mônaco, isso é coisa da Presidência'".

Agosthilde Mônaco de Carvalho declarou ainda que Cerveró lhe mostrou um e-mail, datado de 25 de maio de 2006, encaminhado pelo então diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque - braço do PT na estatal - no qual "o responsável da Construtora Norberto Odebrecht relata o convite às outras construtoras para dividirem a obra de Revamp da refinaria de Pasadena".

"As outras construtoras convocadas para a rodada eram Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e Ultratec; que o sr. Alberto Failhaber contou ao depoente, em uma das visitas que fez à sede da Petrobras, que tentaram 'empurrar goela abaixo' o Revamp de 200.000 barris/dia e a contratação da Construtora Norberto Odebrecht para fazer a obra", relatou o delator.

Procurado na manhã desta segunda-feira, o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli não se manifestou.

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