Política

Cristovam Buarque: ‘É melhor um presidente cair em pé do que ficar ajoelhado’

Em visita a Santos, senador do PDT faz sua avaliação dos seguidos pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e analisa ações na área da Educação

Publicado em 16/10/2015 às 10:49

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O senador Cristovam Buarque (PDT/DF) veio a Santos em uma data especial: Dia do Professor. Criador do Bolsa-Escola, o educador e ex-ministro da Educação (Governo Lula) esteve ontem na Unimonte para falar de Educação e Política. Antes de encarar a plateia, deu uma entrevista coletiva na qual abordou temas como troca de ministérios e a possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Confira a seguir a entrevista:

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Que avaliação o senhor faz do Governo que tem como lema ‘Pátria Educadora’ e faz seguidas trocas de ministros da Educação?

Cristovam Buarque – O que está errado é usar a Educação como slogan publicitário e não como um lema de Governo. Desde o começo dava para perceber que isso era questão de marqueteiros, não uma proposta de governo a ser cumprida.

Que avaliação o senhor faz das constantes trocas. É muito prejudicial trocar em um setor como a Educação?

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Buarque – O que prejudica é que não tem uma linha de Educação da presidente. A presidente não tem uma proposta educacional. Ministro é auxiliar. Isso eu aprendi como ministro. Ministro não governa. É o presidente que governa. O ministro faz o que o presidente quer. E não adianta querer, se o presidente não quer. É claro que pode haver ministros geniais que consigam convencer um presidente – eu fracassei nisso. Agora, é preciso que o presidente se convença. O problema no Brasil é que não há uma proposta educacional, de governo. Não teve de Lula, não tem no de  Dilma Rousseff. O que eles têm são programas que, em geral, visam mais dar voto do que mudar a Educação.

Senador afirma que é errado usar a Educação como slogan publicitário (Foto: Matheus Tagé/DL )

O senhor pode citar exemplos?

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Buarque – Há programas que não são ruins, mas não dão um salto, como o Ciências sem Fronteiras. Não é ruim, mas não vai dar um salto na área de Ciência e Tecnologia para o Brasil. O piso salarial, que é uma lei minha, mas é muito baixo. Não chega a R$ 2 mil. Tem programas específicos, como para o Ensino Técnico, o Pronatec, não funciona. Porque o Ensino Fundamental sendo fraco, não adianta. O aluno não sabe o que é, por exemplo, ângulo reto, regra de três e não sabe ler, que é o que acontece no Brasil todo. Outro exemplo é o aumento do número de universidades. Isso é bom, mas se não tem uma boa educação de base, fracassa.

Está se investindo na ponta errada?

Buarque – Isso. Está se investindo no teto sem ter um alicerce. Então o problema é esse: não há uma proposta educacional da Pátria Educadora. É uma Pátria Educadora, entre aspas, sem um programa educacional.

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O senhor vê consistência nos seguidos pedidos de impeachment da presidente Dilma?

Buarque - Eu não vou analisar se eles têm consistência. Quando chegar para mim no Congresso, vou me dedicar a isso. Mas, se tem tantos pedidos de impeachment, significa que há hoje uma séria crise de credibilidade da presidente. Uma séria crise. Este País não agüenta mais três anos sem credibilidade. Aí vem a pergunta, como eu desejei até recentemente e estou duvidando: é possível a presidente Dilma recuperar a credibilidade? Seria o ideal. Eu disse para ela que ela deveria ser a Itamar (referência ao ex-presidente Itamar Franco) dela própria. Ao invés do impeachment e colocar o (Michel) Temer, por que ela não faz isso?

Uma mudança de postura?

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Buarque – Uma mudança de postura que implicaria – e eu e mais cinco senadores entregamos isso a ela – no seguinte: ela iria ao Congresso, reconheceria os erros, diria que tem mais três anos de governo, pediria apoio até da oposição, criaria um ministério de altíssima capacidade e credibilidade, independentemente do partido. Ela fez exatamente o contrário. Não foi ao Congresso, não pediu desculpa, disse que não fez nada de errado e fez um ministério com base em barganha.

E o PMDB deixaria ela fazer isso?

Buarque – Se não deixar, é melhor cair em pé do que ficar três anos ajoelhada. É melhor para ela, para a história, é melhor para o Brasil. É melhor um presidente cair em pé do que ficar ajoelhado. Eu duvido que alguém fale mal de João Goulart (ex-presidente da República). Caiu em pé. Ela está ajoelhada hoje. Isso é ruim. Voltando ao impeachment: do jeito que está, o Brasil não agüenta. Se o Congresso não quiser o impeachment, daqui a um ano, ou seis meses, o povo vai para as ruas de novo. Há pouco tempo, na Ucrânia, o Congresso não fez o impeachment e o povo foi para a rua derrubar o presidente. O que é a pior das alternativas, um presidente derrubado pelo povo nas ruas. O impeachment é menos mal, mas não é bom também. Eu não sou defensor do impeachment. Eu não defendi o impeachment do Collor. (Leonel) Brizola também não, só no finalzinho (do processo). Agora, como está, não dá. O que mais me preocupa? É que ao invés de estarmos discutindo como evitar a decadência, estamos em um debate de dois surdos. Um que diz que tem que tirar a presidente, o PSDB; o outro que diz que não pode cair, que tem que continuar, que é o PT. E ninguém está discutindo o que é o melhor para o Brasil. O melhor para o Brasil é tirar a presidente por impeachment, apesar que o impeachment não é coisa boa, porque quebra a normalidade? Ou o melhor é agüentar a presidente e o governo desacreditados, com a inflação estourando, com o desemprego crescendo, com os empresários desistindo. E agora a moda é não pagar o que deve. Os empresários entram na Justiça pedindo para o juiz dispensa dos pagamentos. Voltando à pergunta: não vou dizer se acho, não me debruço legalmente, se há ou não substância para o impeachment, mas o fato é que se o impeachment está na cabeça de todo mundo, significa que a presidente não está bem.

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Como o senhor viu a recente troca do ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro?

Buarque – Não imaginava que ela iria substituí-lo dentro dessa barganha que foi feita. O (Aloizio) Mercadante não é do PMDB, não é qualquer um, mas ele foi para lá porque ela não queria ele na Casa Civil. Ele não foi para lá porque ela achou que ele seria melhor do que o Janine. Isso é grave. Então, queira ou não, foi dentro de uma barganha. Embora ele seja respeitável. Ele foi ser ministro da Educação como uma “queda”, não como uma “ascensão”.

A presidente tomou uma atitude demitindo um ministro por telefone (Arthur Chioro, da Saúde), como o Lula tomou com o senhor. Como o senhor vê isso?

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Buarque – No meu caso, eu justifico o Lula porque eu estava fora. É verdade que eu estava em uma viagem e iria me encontrar com ele. Poderia esperar. Com o ministro da Saúde, ele estava na cidade, não precisava ser por telefone.

O senhor foi ministro do Governo Lula. Acredita que ele possa vir como candidato em 2018?

Buarque – Acho que vai acontecer isso, se antes acontecer uma coisa: a Dilma sair. Eu acho muito difícil com a Dilma ficando, o candidato a Presidência (pelo PT) seja o Lula. Se tiram a Dilma, o Lula vai para oposição com uma força muito grande. Ele vai lembrar que no governo dele o salário mínimo era de U$ 300,00, mas não vai dizer que o dólar se desvalorizou por culpa da Dilma, vai dizer que a Bolsa Família era de tantos dólares, vai lembrar de todos os projetos que, de fato, como projetos eram bons. Não mudou o Brasil, mas foram bons. Vai bater nas medidas que o Temer vai ter que tomar, de ajuste. Aí fica uma dúvida: e se o PT não se ressurgir? Aí acredito que ele seja capaz de criar outro partido, como por exemplo, juntar com o PDT, PC do B e vir. E acho que ele vem forte. Não é o que eu desejo. Se ele não vier, acho que ele vai tentar colocar o ‘quinto Lula’ – não sei se ele vai gostar de eu dizer isso -: o Ciro Gomes, pelo PDT. Eu acho que o Ciro está assumindo isso. Tudo o que o Ciro está falando é dirigido aos militantes do PT. Se analisar bem, ele fala para ficar bem com o PT.  

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