A igreja neopentecostal Advec (Assembleia de Deus Vitória em Cristo) é liderada pelo pastor Silas Malafaia / Reprodução
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Aliados evangélicos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), até aqui, preferiram silenciar sobre o caso das joias supostamente presenteadas pela Árabia Saudita à batista Michelle Bolsonaro em 2021, quando ela era primeira-dama do Brasil.
Coube ao sempre vocal Silas Malafaia, um dos pastores mais próximos na campanha eleitoral de 2022, sair em defesa de Bolsonaro. Ele gravou um vídeo nesta quinta (9) em que ataca a imprensa, chamada de medíocre, parcial e inescrupulosa, "pelo ataque cerrado à figura do ex-presidente".
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Bolsonaro, que está nos Estados Unidos desde o fim do seu mandato, tem tentado se desvincular do episódio. Disse desconhecer tentativas de ex-correligionários de resgatar na alfândega do aeroporto de Guarulhos um par de brincos, um anel, um colar e um relógio, confeccionados com pedras preciosas, bem como um enfeite em forma de cavalo com adornos dourados. O conjunto foi avaliado em R$ 16,5 milhões.
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Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou, no entanto, que o ex-mandatário conversou sobre a liberação das joias em dezembro, seu último mês como presidente, com o então chefe da Receita Federal.
Para Malafaia, se o casal Jair e Michelle tivesse alguma má intenção sobre o regalo milionário, não teria falado em colocá-lo no acervo oficial. "Não teve nenhuma questão, escusa, do presidente ou da Michelle esconderem joias ou alguma coisa e não colocarem no acervo."
O líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo diz que "ninguém tá pedindo nada pro presidente em particular", já que a ideia seria manter as joias num acervo, e que, portanto, não haveria dolo nas ações para reaver o presente. Prova disso seria um ofício de Bento Albuquerque, à época ministro de Minas e Energia e chefe da comitiva que participou da viagem oficial à Arábia Saudita.
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No documento, ele menciona "a inviabilidade de recusa ou devolução imediata de presentes em razão das circunstâncias correntes; e os valores histórico, cultural e artístico dos bens ofertados; se faz necessário e imprescindível que seja dado ao acervo o destino legal adequado".
Albuquerque enviou o ofício em 2021 ao chefe de gabinete do secretário da Receita. O texto tratava da "liberação e decorrente destinação adequada" das joias retidas pelo órgão.
Enquanto Malafaia fala, cala a maior parte dos líderes evangélicos que subiram em palanques e púlpitos com Bolsonaro na eleição de 2022.
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O apóstolo César Augusto, que em 2021 convocou fiéis para o ato de 7 de Setembro bolsonarista, diz que acompanha o caso, "mas não com muito interesse". Instigado a discorrer mais sobre o tema, afirma que o casal Bolsonaro "tem uma história de honestidade e integridade" e não deverá sair com a reputação manchada. Acrescenta que a notícia "perde credibilidade" por estar envolta de "politização".
Nos bastidores, contudo, alguns pastores se incomodaram com o desdobramento do caso. No começo até acreditavam que Bolsonaro, pessoalmente, não tinha culpa de nada. Já não estão mais tão seguros assim.
Mas veem Michelle como inocente na história.
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Esses líderes preferem, contudo, não se identificar, por temerem que um posicionamento mais contundente seja usado para beneficiar a esquerda.
Os principais portais evangélicos do país sempre inserem pitacos sobre o noticiário político, em geral para respaldar posições conservadoras. Mas optaram por não dar destaque à acusação sobre as joias. De forma discreta, num canto inferior de sua página, o Pleno News relatava que o PSOL havia pedido ao Tribunal de Contas da União o confisco de presentes que estão com Bolsonaro.
Espaço mais nobre ganharam notícias como "Mulheres do MST vandalizam loja de vinhos da Salton em SP" e a exclusão da deputada evangélica Silvia Waiãpi (PL-AP) da frente parlamentar indígena.
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