Política

Antonieta alega perseguição política

Em depoimento que durou das 9h45 às 15 horas, a prefeita não satisfez a Comissão Processante (CP) que apresentará relatório final no dia 15

Publicado em 08/07/2015 às 10:35

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Sob o crivo de um plenário lotado de funcionários em cargos de confiança e secretários municipais portando tarjas cor de laranja nos braços, bolsos e até gravatas (cores de campanha), a prefeita de Guarujá Maria Antonieta de Brito (PMDB) usou como estratégia de defesa três pontos principais à Comissão Processante (CP) que investiga o conhecido Escândalo da Merenda: a ausência da testemunha Gustavo Guerra no processo de apuração; a desqualificação da denunciante (a ex-presidente do Conselho de Alimentação Escolar Elisabeth Barbosa) e uma suposta perseguição de grupos políticos contrários a sua Administração, embora tenha preferido não nominar seus adversários.

Maria Antonieta questionou os procedimentos da CP que, segundo ela, entre outras coisas, vem impedindo sua plena defesa — tanto oral como técnica (documentos). Disse que Elizabeth Barbosa “não tem moral” porque trabalhou na administração anterior e só resolveu denunciar supostas irregularidades após ser demitida (em 1º de janeiro de 2013). Ela ainda mencionou, por várias vezes, o ex-prefeito Farid Said Madi, fazendo um comparativo entre a gestão dele e a sua.    

“Estou sendo vítima de uma tentativa política de desqualificar e menosprezar as condutas e mudanças de postura de meu governo em relação à seriedade do uso dos recursos públicos”, disse a prefeita, que foi pouco objetiva em suas respostas, preferindo tecer longas análises — que foram de como funciona um processo licitatório, passando por detalhes de cada setor da Educação e chegando ao ponto de como se compra um tomate — antes de responder cada pergunta do presidente da CP, vereador Edilson Dias (PT), que fez oito questionamentos.

Um dos pontos de conflito durante a oitiva ocorreu quando Antonieta teve que voltar atrás com relação a não abertura de sindicâncias para apurar as denúncias. Num primeiro momento, a prefeita disse que abriu. Depois de alertada que seriam exigidas as portarias referentes aos procedimentos administrativos por Dias, ela disse que não, causando indignação aos presentes.

 Maria Antonieta de Brito foi ouvida ontem por mais de cinco horas (Foto: Divulgação/Câmara de Guarujá)

Supostas infrações

A CP investiga 12 supostas infrações, sendo as mais graves as seguintes: omissão e ausência de fiscalização da qualidade da merenda; não cumprimento do cardápio e inferioridade nutricional dos alimentos; falta de infraestrutura de armazenamento e na preparação da comida; não cumprimento de exigências contidas no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); discrepância de valores e irregularidades nos contratos de fornecimento de merenda nas unidades de ensino da Cidade e suposto cerceamento do trabalho de fiscalização dos conselheiros alimentares e até tutelares.       

Pesa ainda sobre a prefeita o trabalho de investigações realizadas pelos próprios vereadores, que identificaram compras a preços bem acima dos praticados no mercado e problemas no fornecimento de carne às escolas — a carne oferecida na merenda (coxão mole) seria inferior a que foi licitada pela Secretaria de Educação (contrafilé). Eles também encontraram peças de carne que deveriam ter cinco quilos e não tinham, além de outras irregularidades.

Em sua defesa, Antonieta disse que os procedimentos de controle de quantidade e qualidade foram corretos; que os problemas foram pontuais e equacionados no decorrer das denúncias (com ratificação do próprio Conselho de Alimentação), que todas as suas contas sobre recursos destinados à alimentação escolar foram aprovados pelo Tribunal de Contas e pelo Ministério da Educação (MEC). Ao final, questionada sobre a quantidade de funcionários de confiança e secretários no plenário num dia de expediente normal, Antonieta garantiu: “Vou levantar os nomes e descontar o dia”.

‘Ao invés de se defender, a prefeita se preocupou em acusar’, diz Edilson Dias

“Ao invés de se defender, a prefeita se preocupou em acusar. Não respondeu a contento o que fez para conter as irregularidades e isso, em tese, já caracteriza omissão. O não comparecimento das três testemunhas que faltaram às oitivas (incluindo Gustavo Guerra) não muda nada. Mesmo assim, estamos dando a oportunidade delas (testemunhas) se pronunciarem até domingo, por escrito”, disse Edilson Dias.

Dias ratificou que a prefeita tem cinco dias corridos (até domingo) para enviar suas alegações finais. Na próxima segunda-feira (13), a CP se reúne para concluir um parecer final, que será enviado ao presidente da Casa (vereador Ronald Nicolaci Fincatti) para que, na próxima quarta-feira (15), em sessão extraordinária, os vereadores decidam se aprovam, ou não, o parecer e iniciam o processo de cassação da prefeita, que deve durar três dias consecutivos. “Serão votadas as 12 acusações e a prefeita terá que ter 12 votos a seu favor para evitar a possível cassação”, disse Dias.

O processo não pode passar do próximo dia 22. O presidente da Casa, vereador Nicolaci, confirmou a legitimidade e a licitude dos procedimentos da Câmara. “Democracia foi feita e o Legislativo está cumprindo seu dever desde o primeiro momento. Não é de hoje que temos denúncias sobre a qualidade da merenda. Foram nove meses de fiscalização feita por inúmeros vereadores. Não houve qualquer ato ilegal e a Justiça atestou recentemente isso ao permitir o prosseguimento à CP que foi auditada e validada”, disse Nicolaci.

O presidente da Câmara concluiu informando que todas as testemunhas de defesa foram intimadas e se pronunciaram. “As três que faltaram às oitivas alegaram problemas de saúde e, procuradas em suas respectivas residências com todo aparato técnico para garantir a defesa, não foram encontradas”, finalizou o presidente, garantindo que uma lista com os funcionários em cargos de confiança e secretários presentes será encaminhada ao Ministério Público (MP). 

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