Política

Anotações de Marcelo Odebrecht relacionam Vaccari a obras

Tanto Marcelo Odebrecht como João Vaccari estão presos na Lava Jato sob suspeita de participarem do esquema de pagamento de propinas a diretores da Petrobras

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 22/07/2015 às 15:11

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Relatório da Polícia Federal sobre as anotações no telefone do presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht mostram que, em mais de uma ocasião, o maior empreiteiro do País relacionou o nome do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto a valores e a porcentagens ligadas obras da companhia.

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Tanto Marcelo Odebrecht como João Vaccari estão presos na Lava Jato sob suspeita de participarem do esquema de pagamento de propinas a diretores da Petrobras e a partidos políticos responsáveis pelas indicações de cargos na estatal petrolífera. O ex-tesoureiro é réu em duas ações penais na Justiça Federal no Paraná e apontado pelos investigadores como o responsável por operar a cota de 1% dos valores dos contratos repassados como propina para o PT na diretoria de Serviços da estatal.

No relatório de 31 páginas da Polícia Federal chamou a atenção dos investigadores a utilização da palavra "feira" em vários tópicos, e que posteriormente aparece relacionada a João Vaccari Neto. "Presume-se que esteja diretamente relacionada a distribuição de valores para pagamentos de contas estranhas a operação normal das atividades econômicas do grupo Odebrecht, tal assertiva se baseia em anotações datadas de 09/01/2013, onde Marcelo utilizava tal palavra vinculando-a ao número 40 e a Vaca (alusão a Vaccari)", assinala a Polícia Federal.

Na mesma anotação, de 9 de janeiro de 2013, há também um tópico específico sobre "créditos", no qual há referência de porcentagens de 3% seguidas dos nomes "Vacareza", uma possível referência ao ex-líder do governo na Câmara Cândido Vaccarezza e "Zaratini" (que a PF coloca uma tarja preta na identificação completa), logo depois da sigla BMX, que a Polícia Federal identifica como o empreendimento "BMX Empreendimento Imobiliário e Participações S/A", da Odebrecht Realizações Imobiliárias a ser construído na capital paulista.

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Há ainda o tópico "notas antigas", no qual surge referência "adiantar 15 p/JS" e em seguida a anotação "IPI até dez e pis/Cofins até jan". Ainda relacionado a este tópico, há o título "Contribuição", a partir do qual surgem várias referências de valores seguidas de siglas que a Polícia Federal ainda não buscou identificar.

O nome do ex-tesoureiro do PT, segundo a PF, aparece ainda associado a outra obra, em um trecho mais abaixo da agenda do celular de Odebrecht.

"Transnordestina. Vs. Embranav. Vaca 2,2M?". De acordo com os investigadores, "Vaca" seria uma das referências a Vaccari. Ao longo das anotações, Marcelo utiliza de várias siglas e códigos para evitar identificar principalmente os políticos que cita. A Odebrecht atuou em trechos da obra da Transnordestina até 2013.

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No pedido de indiciamento de Marcelo Odebrecht encaminhado à Justiça Federal, a PF atribui ao empresário preso "doações e pagamentos diretos" e "influência junto a instituições inclusive o Judiciário". "Podemos constatar referências a nomes de autoridades públicas, doações e 'pagtos. diretos', influência junto a instituições (inclusive o Judiciário) sendo tais assuntos tratados em meio aos interesses comerciais do grupo empresarial.", apontam os investigadores.

Anotações de Marcelo Odebrecht relacionam João Vaccari Neto a obras (Foto: Agência Brasil)

Cândido Vaccarezza

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O advogado Marco Aurélio Toscano, que defende Cândido Vaccarezza informou que não vai se manifestar sobre o relatório da Polícia Federal pois ainda não teve acesso ao documento.

João Vaccari Neto

A defesa do ex-tesoureiro do PT vem reiterando desde que ele foi preso que Vaccari nunca recebeu propinas e que todas as doações ao PT, "solicitadas pelo sr. Vaccari, foram realizadas, pelos seus doadores, por meio de depósito bancário, na conta do PT, dentro da lei, com toda transparência necessária, de modo a estarem rigorosamente dentro da lei, com a consequente prestação de contas às autoridades.", diz nota do advogado Luiz Flávio Borges D’Urso.

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Carlos Zaratini

Carlos Zaratini (PT-SP) informou à reportagem que já se encontrou com Marcelo Odebrecht, apenas em eventos, e disse não saber do que se tratam as anotações. "Não tenho a menor ideia do que seja isso", afirmou.

Odebrecht

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"As defesas aguardarão a oportunidade de exercer plenamente o contraditório e o direito de defesa.

Em relação a Marcelo Odebrecht, o relatório da Polícia Federal traz novamente interpretações distorcidas, descontextualizadas e sem nenhuma lógica temporal de suas anotações pessoais. A mais grave é a tentativa de atribuir a Marcelo Odebrecht a responsabilidade pelos ilícitos gravíssimos que estão sendo apurados e envolveriam a cúpula da Polícia Federal do Paraná, como a questão da instalação de escutas em celas, dentre outras.

O Relatório da Polícia Federal presta um desserviço à sociedade e confunde a opinião pública ao estabelecer suposições a partir de anotações pessoais de Marcelo Odebrecht, quando deveria ater-se a fatos concretos. Apenas no anexo 11 do referido Relatório constam 16 variantes de termos como "presume-se", "possivelmente", "é possível que" e "pode ser".

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A Odebrecht repudia especialmente a intenção de atribuir ao diretor-presidente da holding pretensas intenções extraídas de raciocínios especulativos, com o objetivo claro de prolongar prisão que, como a dos demais executivos que atuaram na Odebrecht, é totalmente ilegal e abusiva.

Em relação ao despacho do Juiz Sergio Moro, as defesas responderão dentro do prazo legal."

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