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Líder do PSDB no Senado e candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Aécio Neves (PSDB), Aloysio Nunes olha com certa desconfiança as pesquisas mostrando o PSDB em terceiro lugar na corrida presidencial. E não por acaso: há quatro anos, ele aparecia em quarto na disputa por uma vaga no Senado. Com as urnas abertas, viu-se detentor de uma montanha de 11 milhões de votos, recorde no Estado de São Paulo.
Alysio Nunes cumpriu agenda ontem em Santos, visitou o Diário do Litoral e praticou o esporte da oposição nesta campanha: críticas ao Governo Federal e questionamentos sobre Marina Silva. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
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Diário do Litoral – Faltando poucos dias das eleições, o PSDB, assim como o PT, ainda não entregou o Plano de Governo. Por quê?
Aloysio Nunes – Preparamos há 3 meses, como resultado de uma discussão ampla, desde que o Aécio se elegeu presidente do partido, com especialistas, divulgamos diretrizes que praticamente compõe a plataforma de governo. São 68 páginas detalhadas e a partir daí houve um processo de complementação delas. E quem está à frente disso é um ilustre santista, o Arnaldo Madeira. O que é claro é que o Aécio Neves é a expressão de uma corrente política muito conhecida. Conhecida porque já governou o Brasil, governa estados importantes como São Paulo e Minas Gerais e tem linha definida de quando nos opusemos ao Governo do PT, que é o respeito aos contratos, à legalidade democrática, o mérito como critério de preenchimento de cargos públicos, menos Estado e mais iniciativa, democracia representativa. Somos a favor do rigor fiscal, defendemos um Estado mais enxuto e avesso a essa degradação da política que o PT exacerbou em seu governo. E, em matéria de instituições políticas, defendemos o voto distrital. Isso está bastante claro. Não temos ambiguidades da cultura petista nem mesmo àquela cultura ‘marinista’ que tem algum componente petista.
DL – O senhor tem criticado muito um aparelhamento que o PT faz das estatais, principalmente na Petrobras. Que leitura o senhor faz dos recentes escândalos na Petrobras e também em outras empresas, como o IBGE, que tem errado na divulgação de dados?
Aloysio – A minha visão é de indignação, como a maioria dos brasileiros. É o que inclusive afasta muita gente da política. O nojo que essa prática gerou nas pessoas de bem. É perfeitamente possível ter governabilidade sem precisar distribuir cargos no Governo das agências reguladoras para partidos políticos que tem a única finalidade de roubar, que é o que acontece na Petrobras, por exemplo.
DL – Os problemas na Petrobras podem ser estancados em um governo de quatro anos?
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Aloysio – Sem dúvida nenhuma. Eu imagino a vergonha que deve sentir hoje um trabalhador, um técnico da Petrobras, alguém que fez carreira na empresa diante da presença constante da empresa nas páginas policiais. A Petrobras tem tudo para voltar a recuperar o valor de mercado que teve, de desempenhar o papel como alavanca do desenvolvimento do País.
DL – Em sua visão, esses escândalos não foram pontuais na Petrobras?
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Aloysio – Não. É um método de governo. O PT transformou a corrupção em um método de governo. Corrupção já houve nos governos federais, em todos os governos, mas como método de governo, como forma de compor maiorias governamentais e controlar o Congresso Nacional, de ter apoio de partidos, o PT inaugurou essa prática: Mensalão 1 e Mensalão 2. Aliás, não é bem Mensalão 2 o da Petrobras, porque ele já estava ocorrendo em paralelo àquele que foi desvendado e julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Este é o problema grave do PT, deu um “salto de qualidade” em matéria de degradação política.
DL – Essa sua fala remete a uma recente do ex-presidente do STF Joaquim Barbosa de que a corrupção é “a mãe de todas as corrupções”. O senhor concorda com ele?
Aloysio – Não. Não concordo. Eu não acho que são as instituições que corrompem os homens, os homens é que corrompem as instituições. Sou favorável à reeleição por entender que um sistema é tanto mais democrático quanto mais amplas forem as opções oferecidas aos eleitores na hora de votar. Se um governo vai bem, dá conta do seu recado, por que não permitir que o eleitor o reconduza? Como reconduzirá agora o governador Geraldo Alckmin, com toda a certeza.
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DL – O senhor defende uma reeleição?
Aloysio – Uma reeleição. Eu sei que esse não é ponto de vista fechado no partido. Pelo contrário, o Aécio propõe o fim da reeleição. O (José) Serra também.
DL – Foi divulgada uma nova revisão da meta de crescimento do País. Uma revisão, para baixo, do Produto Interno Bruto (PIB). É possível fazer o País sair da estagnação econômica em um governo de quatro anos?
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Aloysio – o Governo vinha anunciando crescimento de 1,3%, reviu para 0,9% e basta ter uma notícia de que a presidente Dilma dá uma melhoradinha na pesquisa, que a Bolsa de Valores despenca. O investimento privado depende muito do clima de confiança na estabilidade das regras, na correção do Governo. O simples fato de a presidente Dilma apresentar uma melhora na pesquisa já derruba a bolsa. Os investidores se recolheram diante da perspectiva de mais um mandato de uma presidente que não sabe o que fazer com a Presidência da República. Por outro lado os investimentos públicos dependem, em grande parte, da capacidade de reordenamento do orçamento. De focalização em prioridades. Coisa que demanda capacidade política e capacidade de enfrentar os interesses políticos e corporativos que levaram à atual dispersão dos gastos públicos. E, finalmente, os investimentos privados em parceria com o setor público também precisam de regras definidas, regras claras. O Brasil é um país altamente atrativo para investimentos em infraestrutura. Junto com a China, os Estados Unidos e a Rússia, o Brasil é uma das quatro economias em volume de produção econômica, população e extensão. E, em infraestrutura, ocupamos o 65° lugar. O Governo do PT demonizou as parcerias e, quando as fez, fez querendo tabelar o lucro dos empresários, o que é um contrassenso.
DL – Como o PSDB se posiciona com relação à administração dos portos?
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Aloysio – O atual Governo centralizou. A lei de 1993 teve como avanço a descentralização do planejamento. Esta lei atual recentralizou tudo, e recentralizou de uma maneira confusa porque hoje tem as decisões de planejamento submetidas à Secretaria Especial de Portos e à Antaq. Isso travou tudo. Gera uma insegurança e trava o investimento. O PSDB votou contra a centralização contida na Lei dos Portos. E nós vamos promover a descentralização, a gestão compartilhada entre Estado e comunidades locais para adotar no Brasil um modelo que dá certo no mundo inteiro, que é o da maior autonomia dos portos e os portos como instrumento de desenvolvimento regional. Além do que o Porto de Santos precisa de mais acessos. Tem problema sério, de logística.
DL – Teve uma fala recente do candidato Aécio, em um encontro com a Força Sindical, sobre o fator previdenciário, que acabou gerando uma expectativa entre os trabalhadores. Depois, veio um recuo sobre essa fala, ou uma explicação sobre a frase o assunto ficou meio confuso. Qual é a proposta do PSDB com relação ao fator previdenciário?
Aloysio – O objetivo nosso é acabar com o fator previdenciário.
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DL – Mas o fator foi implantado pelo PSDB.
Aloysio – Mas em um momento de crise. Teve cinco crises internacionais bravíssimas, fora que tivemos que desmontar todo o mecanismo que gerou a hiperinflação.
DL – Mas o Governo do PT também alega que enfrentou crises internacionais.
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Aloysio – Enfrentou àquela da ‘marolinha’. O fator previdenciário foi uma tentativa de arrumar as contas públicas em uma situação de profunda crise. O que nós queremos é eliminar o fator previdenciário em um contexto de arrumação das contas públicas e da Previdência, foi o que disse o Aécio. O objetivo é esse. Mas não vamos acabar com uma “penada” (canetada, decisão do Executivo).
DL – Em pouco mais de dez dias, dá para o PSDB desconstruir a imagem da candidata Marina Silva, que é hoje o principal entrave para o PSDB ir para o segundo turno?
Aloysio – Não queremos desconstruir, queremos discutir o que significaria um eventual Governo Marina. Há quem queira manter a Dilma, e outros que querem mudar. O que significa uma mudança real? Nós acreditamos que a mudança real, que não tem nenhum parentesco com o PT, com cultura política diferente do PT e da Marina, é o Aécio. O Lula dizia que ele era uma metamorfose ambulante. Eu acho que a Marina é uma contradição ambulante. Ela tem um programa de governo feito às pressas, na grande parte uma colagem, colocou temas sobre os quais teve de mudar de ponto de vista, como direitos do GLBT, da energia nuclear...Colocou uma coisa e teve de mudar no dia seguinte...Em relação à agricultura, ela propôs revisão da lei que define os índices de produtividade para reforma agrária, o que gera insegurança, recebe pressão do agronegócio e diz que não é bem assim. O seu próprio partido: ela é do PSB ou da Rede?
DL – Para o senhor está claro que ela retornará para a Rede?
Aloysio – Isso quem disse o coordenador político da campanha dela, o Walter Feldmann, que ela voltará para a Rede. É confusão política. O próprio PSB se criou em torno da personalidade, da liderança, do Eduardo Campos, muito diferente da Marina. O Eduardo Campos era um agregador, um pragmático, um líder de centro-esquerda. O próprio PSB tem muitas contradições internas. Eu duvido que alguém saiba o que poderia ser um eventual Governo Marina. Eles falam que precisam uma nova reforma política. Qual é a proposta? A nossa é clara: voto distrital, fim da coligação nas eleições proporcionais, fim da reeleição. E a da Marina?
DL – O que os aposentados podem esperar de mais um Governo do PSDB?
Aloysio – As aposentadorias devem ser corrigidas pelo índice de inflação. O problema é que esses índices estão irreais. Tem de começar por dar uma correção efetiva. O objetivo nosso é corrigir essa defasagem, começando pelo índice de inflação real. E ter uma política de reajuste que acompanhe o reajuste da base da pirâmide, que é o salário mínimo. Para fazer isso é necessário cortar gastos.
DL – Cortar onde?
Aloysio – Vou dar um exemplo: as renúncias fiscais que foram distribuídas ao longo do Governo sem nenhum resultado prático.
DL – E corte de ministério?
Aloysio – Sem dúvida nenhuma. Corte de cargos comissionados. Temos 25 mil no Governo Federal e não temos necessidade de ter tudo isso.