Litoral Norte

Litoral de SP poderá ter primeiro vereador indígena

Filiado ao Partido Verde, ele deverá ser candidato oficialmente a partir do próximo dia 16

Carlos Ratton

Publicado em 09/08/2024 às 06:30

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Cacique Adolfo Timóteo Wera Mirim, da aldeia Rio Silveira / Carlos Ratton/Diário do Litoral

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O cacique Adolfo Timóteo Wera Mirim, da aldeia Rio Silveira, localizada em Boracéia, entre os municípios de Bertioga e São Sebastião, poderá ser o primeiro vereador indígena do Litoral Norte Paulista. Adolfo já teve seu nome homologado pelo Partido Verde e concorre por uma vaga à Câmara de Vereadores de São Sebastião. Ele deverá ser candidato oficialmente a partir do dia 16. 

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A informação foi neste dia 8, com exclusividade pelo Diário do Litoral, véspera do Dia Internacional dos Povos Indígenas, comemorado nesta sexta-feira (9) e instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de promover a reflexão sobre as condições de existência dos povos indígenas. À partir das 9 horas, será realizado uma manifestação na aldeia para lembrar os direitos e as lutas dos povos da região e do Brasil.  

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A data é lembrada anualmente em referência ao dia da primeira reunião do Grupo de Trabalho da ONU sobre populações indígenas, realizada em Genebra, em 1982. O grupo, que contava com lideranças nativas de todo o mundo, foi criado para discutir pautas dos direitos humanos e como poderiam proteger os povos indígenas. 

Foram discutidas suas necessidades, exigindo respeito às suas culturas, às distintas línguas e à preservação de seus costumes. Posteriormente, o grupo deu início à minuta da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. 

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O documento estabelece padrões mínimos de sobrevivência e dignidade aos povos indígenas. Isso inclui o direito de desfrutar de todos os direitos humanos e liberdades reconhecidas internacionalmente, o direito à autodeterminação, ao autogoverno nas questões relacionadas a assuntos internos e o direito a não sofrer assimilação cultural forçada, evitando a destruição de sua cultura. 

A Declaração também assegura aos povos indígenas o direito de preservar suas próprias instituições políticas, econômicas, sociais e culturais. Ainda assim, também têm garantido o seu direito de participar das instituições do Estado.

Motivos

Em entrevista ao Diário, o cacique Adolfo Timóteo explica que optou por entrar na política por estar cansado de promessas de parlamentares que só se interessam pela causa indígena em época de eleição. 

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“Estamos cansados de receber políticos aqui na aldeia que, depois de eleitos, viram as costas para nosso povo.  A ideia é ter, pela primeira vez na região, um defensor real da nossa cultura e nosso território. Garantir a natureza, nossos direitos e costumes, nossa liberdade. A comunidade guarani precisa de serviços públicos básicos, mas sem perdermos autonomia, nossas origens e costumes que devem ser preservados e difundidos. Precisamos de investimentos mínimos para produção de alimentos, saúde, segurança e preservação do meio-ambiente” afirma o cacique.

Adolfo explica que questões relacionadas à saúde e educação do povo guarani devem pautar a sociedade, pois é um direito constitucional. “Nosso povo pode e deve frequentar escola, ter direito à assistência médica e outros, e isso não implica em perder nossa identidade. Precisamos de atenção melhor do poder público”, afirma.

O líder indígena disse que, caso seja eleito, também irá lutar pela preservação e ampliação do território que, ao mesmo tempo, garante a preservação da natureza que envolve São Sebastião e também Bertioga. “Vou intensificar a fiscalização do meio ambiente. Também vou buscar ter mais força para a solução jurídica que envolve nossas terras e nosso povo, que deveria já ter garantido 8.500 hectares protegidos e homologados”. 

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Acordo

Este ano, a reserva indígena Rio Silveira e a Associação São Lourenço de Naturais e Amigos da Silveira de Cima, Silveira de Baixo, Salgueiro e Pé da Lomba, comunidades das Silveiras da Serra da Lousã, de Portugal, celebraram acordo cultural, junto à capela do São Lourenço, no conselho da Lousã, distrito de Coimbra.

A escritora Vanessa Guarani Ratton representou o cacique Adolfo Timotio (Adolfo Wera Mirim) e Casemiro Soares Simões a Associação São Lourenço e a Cooperativa Portuguesa Arte-Via.

O protocolo de cooperação entre as duas entidades homônimas de Brasil e Portugal foi avalizado pela Câmara Portuguesa, uma associação civil sem fins lucrativos, fundada em 23 de novembro de 1912, tendo como objetivo principal - desde a sua criação - a promoção das relações bilaterais entre Brasil e Portugal.

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Com cerca de 800 moradores, entre eles 350 crianças e 15 idosos, a Aldeia Rio Silveira é acessada pela Avenida Guarani, em Boracéia (Bertioga). Ela possui um roteiro agendado e por intermédio de um guia indígena.

Os visitantes, além de uma atividade cultural completamente diferente, têm a oportunidade de ajudar a comunidade indígena de famílias nativas de etnia Guarani- Mbya e Nhandeva. A escola paulistana Teia Multicultural leva seus estudantes constantemente à aldeia, numa programação única e bastante produtiva.

Os estudantes também conhecem a biodiversidade da reserva, a cultura e alimentação típica. A comunidade vive dentro das suas ocas ou casas, feitas com madeira de "palmeira-pati" e algumas de alvenaria.

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Percorrem uma trilha de dois quilômetros e conhece um dos rios da bacia do Rio Silveira, um dos locais de natureza mais preservados de São Sebastião, que íntegra a exuberante Mata Atlântica.

O local está inserido em um trecho preservado da Mata Atlântica, com formações vegetais riquíssimas, classificadas como Floresta de Restinga e Floresta Ombrófila Densa.

Na volta, é possível experimentar a alimentação indígena, depois ocorre uma apresentação cultural, com música e dança feito pelas crianças e jovens.

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Em seguida, são realizadas pinturas de grafismos e é possível conhecer um pouco sobre a história desse povo. No final do passeio, você pode comprar palmito e artesanato indígena.

Demarcação

Conforme já publicado, em 1987, a aldeia foi demarcada por decreto. Atualmente existe um processo de expansão de suas terras, à pedido da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), dos atuais 944 hectares para 8,5 mil, que permanece paralisado desde 2010.

Em 2005, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) construiu as casas de alvenaria, porém o abastecimento de água fica restrito ás casas próximas da estrada.

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Em 2013, uma parceria firmada por FUNAI, CDHU e Prefeitura de Bertioga chegou a prever um investimento total de nove milhões de reais na construção de moradias com água encanada, luz elétrica e rede de esgoto na aldeia.

O Diário do Litoral, por intermédio do Diário de Um Repórter, produziu uma grande reportagem audiovisual intitulada Ano Novo Guarani, que se encontra disponível no site do veículo de comunicação e nas redes sociais e plataformas digitais, como o YouTube.

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