Brasil

Volta às aulas: pais se dividem sobre retorno de menores de 5 anos

Especialistas reforçam a importância da escola e explicam como proteger os pequenos

Gladys Magalhães

Publicado em 05/02/2022 às 22:02

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Ensino infantil é importante para o desenvolvimento das crianças, dizem especialistas / Nair Bueno/DL

O surgimento da variante ômicron do coronavírus elevou o número de casos diários de Covid-19, que chegou ao recorde de 298.408 em 24 horas, na última quinta-feira (3). O número de óbitos também voltou a subir, alcançando o maior patamar desde agosto de 2021, com 1.041 mortes.  Diante de tais notícias, muitos pais voltaram a se sentir inseguros sobre o retorno das crianças às escolas, especialmente das menores de 5 anos, que ainda não são elegíveis para a vacina.

“São 20 crianças na sala. Por mais que os professores se esforcem é difícil controlar. Eu fico com medo, pois criança leva tudo na boca e ainda tem os brinquedos, que todos pegam. Enfim, eu e meu marido decidimos que não vamos mandá-la para a escola neste momento. Ela já pegou Covid-19 e foi muito difícil, não queremos passar por isso de novo”, diz a dona de casa Daniela Marques da Silva, 28 anos, mãe da pequena Laura, de 3 anos, que mora em São Miguel Paulista, bairro da zona leste da Capital.

Apreensiva com a pandemia, Daniela decidiu não enviar a filha para a escola no momento

Menos alunos
Assim como Daniela, muitos pais decidiram não mandar as crianças para a escola. Dados divulgados recentemente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC), apontam que o Brasil perdeu cerca de 650 mil matrículas de estudantes na educação infantil durante a pandemia.

Considerando somente as creches, o número de matrículas passou de 3,7 milhões em 2019 para 3,4 milhões em 2021, com recuo de 21,6% na rede privada. Segundo o documento, embora menos acentuado, também houve decréscimo na rede pública, o que mostra que nem todos os alunos que deixaram as escolas particulares migraram para a escola pública, o que aponta também que a queda se dá tanto por questões econômicas, como por medo da pandemia.

É preciso superar
Ainda que a Covid-19 seja a segunda causa de mortes em crianças, atrás apenas dos acidentes de trânsito (de acordo com o Ministério da Saúde, desde o início da pandemia cerca de 1,4 mil crianças de 0 a 11 anos morreram em decorrência do SARS-COV2), especialistas acreditam que os pais devem superar o medo e mandar os filhos para a escola, obviamente com os devidos cuidados.

A tosadora Fernanda Tiemi Yamada, de 36 anos, mãe de três filhos, entre eles Serena de 2 anos, compartilha de tal opinião. “Tenho sim um pouco de receio de mandá-la para a escola, porém, acredito também que a falta da escola, em algum momento, traz mais prejuízos, tanto de aprendizado quanto social (...).  No ano passado, ela foi para a creche e eu me senti confortável, foi seguro. Qualquer sinal de nariz escorrendo, a escola mandava voltar e se tivesse febre eles pediam teste”, conta Fernanda, que mora na zona norte de São Paulo.

Para a especialista em educação Claudia Petri, coordenadora de implementação regional do Itaú Social, a percepção de Fernanda sobre os prejuízos da falta de escola está correta. “A primeira infância é quando se formam 90% das conexões cerebrais e estímulos sociais, emocionais, físicos e cognitivos, que são muito importantes nessa fase. Na educação infantil, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz os eixos estruturais interagir e brincar, para que a criança consolide sua aprendizagem. É a partir da brincadeira e da interação que ela desenvolve, nesta etapa, as estruturas, habilidades e competências que serão determinantes ao longo de toda a vida”, explica.

Para ela, é importante que as crianças retornem às escolas, para estabelecer vínculos com colegas e professores e para retomar suas aprendizagens. “A pandemia trouxe muitos impactos na primeira infância, por isso, o retorno às aulas é fundamental. Para se ter uma ideia, o estudo Primeiríssima Infância, da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, apontou que 27% das crianças voltaram a ter comportamentos de quando eram mais novos, como chorar muito, ficar molhada sem pedir para ir ao banheiro e falar menos.”

Fernanda sente medo, mas acredita que não ir à escola pode trazer mais prejuízos para a filha

Como proteger?
Os pediatras Eitan Berezin, do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), e Paulo Taufi Maluf, que atende no Instituto da Criança HCFMUSP e no Hospital Sírio Libanês, também acreditam que o retorno das crianças à escola é essencial.

“É seguro e indispensável mandar as crianças para a escola ou creches. A importância de pré-escola é enorme no desenvolvimento infantil”, ressalta Berezin.

Para proteger os pequenos que ainda não podem se vacinar, Maluf lembra que os cuidados devem se centralizar nos adultos e nas próprias escolas, cabendo aos pais se aterem sobre os cuidados determinados pelas Secretarias de Saúde, fiscalizar e enfatizar aos filhos.

“As ações deverão abranger medidas de proteção a serem adotadas pelos adultos, e não diferem do que já se conhece, como uso de máscaras, distanciamento, higiene cuidadosa, além de procurar manter as crianças mais distanciadas nos ambientes fechados”, alerta Maluf.

Berezin lembra também que pais e escolas devem trabalhar juntos. “Deve haver uma colaboração entre pais e a escola no sentido de reforçar a importância da vacinação de adultos, crianças maiores de 5 anos e adolescentes. Além disso, crianças com algum sintoma respiratório ou febre não devem ir à escola, que deve ser comunicada nesses casos. Crianças com contato em casa também não, a não ser que tenham exame negativo. É necessário o uso adequado de máscaras e de preferência aquelas do tipo N95 ou PFF2 em maiores de 5 anos. A adoção de distanciamento social, principalmente nos momentos de alimentação, não compartilhar os mesmos talheres, e realizar a higienização com água e sabão ou álcool gel, também é imprescindível”, detalha o médico.

Retorno seguro
As escolas municipais da Capital e de boa parte das cidades do Litoral e Grande São Paulo retomam as atividades nesta segunda-feira (7). A Gazeta procurou algumas dessas prefeituras para saber como será o retorno dos menores de 5 anos, confira.

A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Educação (SME),diz que “todos os protocolos sanitários serão mantidos, como a aferição de temperatura, uso de máscara e higienização das mãos e ambientes, além da utilização de álcool em gel”. A Prefeitura também ressalta a continuação do programa Mães Guardiãs, cujos contratos foram prorrogados até dezembro de 2022.

Em Santos, a Secretaria de Educação informou que “está orientando as gestoras das 86 unidades municipais de educação a seguirem os protocolos, conforme consta nas diretrizes sanitárias dos Protocolos Específicos para o Setor da Educação do Plano São Paulo.” O mesmo ocorre em São Vicente e Mongaguá.

A Prefeitura de São Bernardo, por sua vez, informou que, além de adotar todos os protocolos de segurança, irá disponibilizar máscara aos profissionais e alunos a partir de 2 anos, readequar os espaços e entregar squeezes de água individual aos alunos. Já em Mauá, o retorno será em esquema de revezamento — com capacidade máxima presencial de 50% do total, visando preservar a saúde das crianças e diminuir a possibilidade de disseminação do coronavírus.

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