ENTREVISTA COM FELICIO RAMUTH
Felício Ramuth garantiu que cenas de agressividade entre governador e presidente não vão acontecer na atual gestão: 'Foi um péssimo exemplo"
Felicio Ramuth, vice governador de São Paulo, durante entrevista na Rádio Trianon / Ettore Chiereguini/Gazeta de S. Paulo
Continua depois da publicidade
O vice-governador de São Paulo, Felicio Ramuth (PSD), disse que a atuação do titular Tarcísio de Freitas (Republicanos) após o desastre que deixou pelo menos 65 mortes no litoral norte no fim de semana dos dias 18 e 19 de fevereiro foi uma demonstração que a nova gestão vai se basear na cordialidade e no respeito a adversários políticos.
A afirmação foi dada à reportagem da Gazeta e do Diário durante entrevista na Rádio Trianon, na manhã desta segunda-feira, na Capital.
Continua depois da publicidade
Tarcísio, por exemplo, havia agredecido a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em São Sebastião, ao dizer que a visita presidencial dava “amparo e conforto” em um momento difícil.
Segundo o vice, cenas de enfrentamento e agressividade entre lideranças políticas, como foi comum no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com o então governador João Doria (PSDB), por exemplo, não vão acontecer durante a atual gestão.
Continua depois da publicidade
“Isso não vai voltar a acontecer. De parte a parte, foi um péssimo exemplo de política e de gestão. Tarcísio é uma pessoa do diálogo, do respeito. Vamos mostrar as diferenças que temos com o governo federal, mas na gestão, na transformação da vida das pessoas”, afirmou, destacando o apreço pelas concessões e pelas privatizações como uma diferença política entre o governo petista e de Tarcísio.
Ramuth explicou que Tarcísio provou ser um governador despreocupado com ideologias ao sancionar projetos como o que libera o fornecimento gratuito de remédios à base da cannabis (de autoria do deputado estadual Caio França, filho do ministro Márcio França, ambos), o do pagamento a comunidades indígenas por proteção à biodiversidade e o que determina que bares e casas noturnas sejam obrigados a tomar atitudes em caso de violência contra as mulheres.
“Todos conheciam o Tarcísio como ministro, o Tarcisão das obras, e agora é o Tarcisão das pessoas. Todo mundo pôde ver de perto a humildade e a sensibilidade social dele para tratar de vários temas”, completou.
Continua depois da publicidade
Reeleição de Ricardo Nunes
De acordo com Ramuth, a proximidade do governador com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), é um dos fatores que pode resultar em uma aliança oficial para as eleições de 2024, para apoiar a reeleição do prefeito da Capital.
“Ricardo Nunes tem feito um trabalho importante na cidade de São Paulo, e o governador tem uma proximidade muito grande com ele (...) Ele [Nunes] tem no Estado um parceiro, sim, em ações de gestão. Isso pode caminhar lá na frente para essa possibilidade, não tenho dúvida”, disse Ramuth.
Continua depois da publicidade
“Hoje, eu diria que a tendência é maior que sim do que não”, completou o político sobre a possibilidade de abrir mão de lançar um candidato próprio na Capital para seguir ao lado do emedebista.
Nunes marcou um jantar na noite desta segunda-feira (27) com líderes partidários aliados para começar a costurar apoios políticos de olho em 2024.
O entorno político do prefeito vê no deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) o principal adversário a ser batido para se manter à frente da cidade mais importante do País por mais quatro anos.
Continua depois da publicidade
Cracolândia
O ex-prefeito de São José dos Campos foi escolhido por Tarcísio como coordenador das ações de combate à cracolândia, hoje espalhada pela região central de São Paulo, o que ajudou aproximar o governo estadual de Nunes. O prefeito é criticado por aliados por não ter uma marca na gestão, e a pacificação da cracolândia poderia cumprir esse papel aos olhos dos eleitores.
Para isso, disse Ramuth, haverá uma ação coordenada entre o governo paulista e a gestão municipal para enfrentar o problema.
Continua depois da publicidade
O vice garantiu ter conversado com uma série de entidades de saúde, de segurança, religiosas e políticas – inclusive de esquerda, como o padre Júlio Lancelotti e o deputado estadual eleito Eduardo Suplicy (PT) – para entender de forma mais profunda o problema do uso de drogas no centro da Capital.
“Se juntarmos três especialistas dessa área, serão cinco opiniões diferentes. O que fizemos, então, foi escutar muita gente, independente de linha ideológica. O importante são as pessoas. Havia pontos em comum para criar nossos programas [de combate à cracolândia]”, afirmou.
Continua depois da publicidade
As ações coordenadas são baseadas em quatro diretrizes, explicou: criação de equipe para fazer abordagem qualificada em usuários nas vias públicas, oferta de várias linhas de tratamento para dependentes químicos, integração das ações com entidades da sociedade civil e cadastramento de todos os usuários.
“Parece que cada um está remando para uma direção diferente [em relação às entidades que atuam com os usuários de drogas no centro]. O que queremos é colocar todo mundo no mesmo barco, remando para a mesma direção. Isso, por si só, já daria um grande resultado”, afirmou.
Além do tratamento aos usuários, a intenção também é “devolver o centro para o cidadão”. “O centro, hoje, é terra de ninguém”, disse.
Continua depois da publicidade
Com essa finalidade, o vice-governador contou que deve instalar um “hub” para acolhimento de viciados na região central da cidade. Além disso, 500 câmeras inteligentes serão instaladas na região central até o meio do ano.
Está prevista ainda a construção de 600 novas habitações na região voltada para esse público, além dos equipamentos municipais já existentes para acolhimento a pessoas em situação de rua.
Educação
No começo do ano letivo, o governador disse que não vai manter a política de expansão acelerada do modelo de ensino integral.
De acordo com o seu vice, o momento não é de expandir e, sim, de investir na qualidade das escolas que já possuem a jornada ampliada. “Neste primeiro momento, a gente vai dar qualidade para o ensino das escolas de período integral que já foram abertas”, afirmou Ramuth.
A expansão das escolas de tempo integral foi a principal aposta da gestão de João Doria (atualmente sem partido) e Rodrigo Garcia (PSDB) para o ensino paulista nos últimos quatro anos. Em 2019, 417 unidades da rede estadual tinham o modelo. Em 2023, são 2.311 com a modalidade.
Porém, esta ampliação de horários resultou na falta de professores para atender a nova demanda, segundo a atual gestão. Em 2022, Garcia autorizou a realização de concurso público para a contratação de 15 mil professores, sendo 10,7 mil com ingresso na Jornada Ampliada (40 horas) e 4,3 mil na Jornada Completa (25 horas). A medida foi publicada na edição do dia 6 de dezembro do Diário Oficial do Estado.
Ramuth garante que o concurso irá acontecer na atual gestão, mas que ainda não há uma previsão concreta para a data de realização. “Haverá, eu não tenho dúvida, ao longo da gestão, o concurso ”, ressaltou.
Continua depois da publicidade