Redução
No segundo trimestre de 2023, quase 171,8 mil domicílios de uma amostra de 211 mil forneceram informações para a Pnad
O IBGE reconhece que institutos de estatísticas enfrentam "realidade crescente" de aumento de recusas a entrevistas, especialmente depois da pandemia / Licia Rubinstein / Agência IBGE Notícias
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Mesmo com a volta das entrevistas presenciais, a pesquisa oficial de emprego e desemprego do Brasil ainda não conseguiu retomar o patamar de respostas do período pré-pandemia.
É o que aponta um levantamento da LCA Consultores sobre a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
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Por meio da Pnad, o instituto estima indicadores como taxa de desemprego, número de desempregados e população ocupada com algum tipo de trabalho (formal ou informal).
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Conforme a LCA, no segundo trimestre de 2023, quase 171,8 mil domicílios de uma amostra de 211 mil forneceram informações para a Pnad. Isso corresponde a uma taxa de resposta de 81,4%.
Em igual trimestre de 2019, antes da pandemia, o percentual era de 88,7%, ou 7,3 pontos percentuais a mais. Ainda de acordo com a consultoria, na média do período pré-coronavírus, calculada de 2012 a 2019, a taxa estava em 87,4% - ou 6 pontos percentuais a mais do que o dado mais recente (81,4%).
Segundo a análise da LCA, se algum estrato da amostra, seja por idade, gênero ou localidade, estiver respondendo mais do que outro proporcionalmente, pode gerar "alguma distorção nos números".
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Não é possível afirmar, contudo, que tenha ocorrido perda de qualidade nos dados da Pnad devido à redução das respostas, pondera Francisco Pessoa Faria, economista sênior da consultoria.
De acordo com ele, o que a situação exige é uma dose de "cautela" na interpretação dos resultados da pesquisa neste momento.
"Não tenho dúvidas de que os melhores métodos estatísticos estão sendo utilizados [na Pnad]. A não resposta sempre houve. Toda pesquisa tem", afirma Faria.
"A questão a saber é até que ponto os melhores métodos estatísticos estão conseguindo dar conta de tudo que está acontecendo hoje", acrescenta.
Em nota, o IBGE diz que o tamanho amostral da Pnad Contínua já considera a taxa de não resposta.
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"Isso quer dizer que a amostra planejada para a pesquisa é ligeiramente superior à matematicamente necessária", afirma o órgão.
Segundo Faria, a dificuldade para a coleta de estatísticas após a pandemia não representa um desafio exclusivo do IBGE. Institutos estrangeiros passaram a conviver com obstáculos semelhantes, aponta o economista.
No caso do IBGE, ele lembra que o órgão também encontrou empecilhos para avançar nas entrevistas de outro levantamento, o Censo Demográfico 2022.
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Como mostrou a Folha em outubro do ano passado, recenseadores foram alvos de fake news, recusas e até ameaças de parte da população que se negava a fornecer as informações solicitadas. O clima de tensão política à época também foi apontado como uma dificuldade.
"Uma pesquisa eleitoral, por exemplo, tem margem de erro para cima ou para baixo. Estamos querendo chamar atenção para que se tenha um certo cuidado, porque pode haver uma variação [dos dados] para cima ou para baixo. É para usar a Pnad? É. Não estou falando que não deve ser usada", diz Faria.
O IBGE reconhece que institutos de estatísticas enfrentam "realidade crescente" de aumento de recusas a entrevistas, especialmente depois da pandemia.
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Apesar desse quadro, afirma o órgão, a Pnad segue tendo quantidade de respondentes suficiente para garantir as desagregações territoriais e as outras informações sociodemográficas divulgadas regularmente.
Os questionários da pesquisa foram elaborados para aplicação presencial nos domicílios. Porém, as restrições sanitárias forçadas pela Covid-19 inviabilizaram as visitas das equipes do IBGE aos lares dos entrevistados durante a pandemia. Assim, o órgão precisou recorrer ao uso do telefone.
Em meio a esse cenário, a taxa de resposta da Pnad chegou a cair a 52,3% no primeiro trimestre de 2021, calcula a LCA. O percentual voltou a ficar acima de 80% em 2022, mas ainda segue abaixo do patamar pré-pandemia.
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De acordo com o IBGE, as entrevistas presenciais foram retomadas "paulatinamente" a partir de julho de 2021 e hoje representam a forma "majoritária" da pesquisa. O telefone segue em uso na Pnad para resolver demandas específicas, indica o instituto.
São os casos da confirmação de informações pelos supervisores de coleta, da impossibilidade expressa por moradores em atender presencialmente o IBGE e das áreas com eventos climáticos como enchentes e alagamentos, que comprometem o acesso das equipes de pesquisadores.
Diante dos desafios atuais, o instituto necessita recompor o orçamento e o quadro de servidores, defende Faria. "O IBGE precisa de mais apoio, de mais dinheiro, de mais recursos, de mais funcionários, até para se dedicar a como tratar as mudanças nas pesquisas."
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Em março de 2013, o instituto tinha 6.369 funcionários efetivos, segundo a Assibge, que representa os trabalhadores do órgão. Dez anos depois, em março de 2023, o contingente caiu em torno de 37%, para 3.969, conforme o sindicato.
O IBGE faz parte da lista de órgãos públicos com abertura de vagas autorizada no concurso nacional unificado do governo federal. Há previsão de 895 postos efetivos para o instituto.
O presidente do IBGE, o economista Marcio Pochmann, tomou posse no dia 18 de agosto e, desde a cerimônia, vem prometendo a construção de um "novo" instituto.
Pochmann tem evitado entrevistas à imprensa, priorizando publicações em seu perfil na rede social X, ex-Twitter. No espaço, ele compartilha relatos de viagens e reuniões à frente do IBGE.
Em um deles, o economista indicou que a atual gestão trabalha nos meses de setembro e outubro para o "reposicionamento do instituto no exterior".
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