BRASÍLIA

Prisão de suspeito de terrorismo aumenta tensão para posse de Lula

Arsenal e ligação com QG preocupam; Bolsonaro se cala, e militares falam em desmobilizar acampamento até a posse

MARIANNA HOLANDA - FOLHAPRESS

Publicado em 26/12/2022 às 09:37

Atualizado em 26/12/2022 às 09:58

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Homem preso após montar artefato explosivo próximo ao Aeroporto de Brasília / REPRODUÇÃO/TV GLOBO

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A prisão no sábado (24), véspera de Natal, do homem suspeito de ter tentado explodir um caminhão de combustível em Brasília, aumentou o clima de tensão em torno da posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que ocorrerá em uma semana. 

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Petistas, aliados do futuro mandatário e autoridades do país temem novas tentativas de terrorismo e dizem que aumenta a pressão para a desmobilização do acampamento de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), no QG do Exército, na capital federal, a poucos quilômetros da cerimônia de posse. 

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Bolsonaro não se manifestou sobre o episódio e apenas postou uma mensagem de Natal nas redes sociais.

Autoridades envolvidas na cerimônia do dia primeiro de janeiro falam na necessidade de revisão dos planos e reforço do policiamento diante do cenário.

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Desde o resultado das eleições proclamado no segundo turno, bolsonaristas se reúnem no local para protestar contra a vitória do petista. Eles pedem intervenção militar e alimentam o discurso de que Lula não vai tomar posse.

A Polícia Civil do Distrito Federal prendeu o suspeito no sábado, como antecipou a Folha. No depoimento ao qual a reportagem teve acesso, George Sousa disse ser bolsonarista e participar do acampamento no QG. 

O caso aumentou a pressão sobre o Exército, que vem sendo há semanas cobrado para desmobilizar os manifestantes. Ministros do Supremo fazem parte dos que defendem a imediata desocupação do local.

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De acordo com integrantes da alta cúpula da força, há intenção de desmontar a estrutura do local até o próximo dia 30. Na condição de anonimato, eles dizem que ainda haverá gente lá no dia da posse, mas o acampamento estará quase 100% desmobilizado.

Integrantes do Exército passaram a desmontar barracas, mudar permissão para estacionamento e proibir trio elétrico no local há cerca de 15 dias. Segundo um general ouvido pela Folha, o feriado do Natal foi importante para garantir que alguns voltassem para suas casas. 

Para militares, se a desmobilização for truculenta, pode aumentar a temperatura e piorar o cenário. 

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Se até outrora eles defendiam as manifestações do QG, o discurso entre integrantes das Forças Armadas tem mudado com o comportamento violento dos atos.

Agora, alguns deles passaram a dizer que os manifestantes não são bem-vindos. Segundo essas pessoas, há alguns bem intencionados no local, mas não pode haver "marginais". Eles dizem temer ainda algum tipo de vinculação com o Exército.

Autoridades envolvidas na posse presidencial devem se reunir nesta semana para falar dos planos para o evento. Várias delas falaram à reportagem que há muita preocupação e que é preciso ainda mais cuidado do que o que já havia sido programado.

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Além do silêncio de Bolsonaro, o ministro da Justiça, Anderson Torres, demorou a se manifestar. A Folha chegou a procurá-lo no começo da tarde deste domingo, mais de 24 horas após o explosivo ser desativado. Alguns minutos depois, Torres usou as redes sociais para afirmar que acionou a Polícia Federal para acompanhar as investigações.
"Importante aguardarmos as conclusões oficiais, para as devidas responsabilizações", escreveu. 

Integrantes do governo eleito se queixam do que classificam como omissão e conivência do governo federal e do Exército. Dizem que o acampamento deveria ter sido desfeito há muito mais tempo, e relembram da escalada de violência no dia da diplomação da chapa Lula-Alckmin no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). 

Na ocasião, bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal, atearam fogo em carros e causaram o caos na capital. Eles justifiticaram os protestos pela prisão ordenada por Alexandre de Moraes naquele dia do indígena José Acácio Serere Xavante, por sua participação em atos antidemocráticos na capital federal. 

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Petistas pontuam que, apesar da cobrança em cima do governo eleito, eles ainda não têm a caneta para investigar ou punir criminosos. Aliados de Lula e autoridades policiais ligaram alerta especialmente diante do arsenal encontrado com Sousa. 

"Os graves acontecimentos de ontem em Brasília comprovam que os tais acampamentos 'patriotas' viraram incubadoras de terroristas. Medidas estão sendo tomadas e serão ampliadas, com a velocidade possível", disse o futuro ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), em suas redes sociais. 

Ele disse ainda que o armamentismo cria "degenerações" e que é preciso superá-lo. 

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O PT ganhou a eleição defendendo revogar decretos armamentistas de Bolsonaro, que flexibilizou e aumentou a circulação de armas de curto e longo calibre em sua gestão. 

O presidente também usava politicamente o discurso do armamento, ao dizer que "um povo armado jamais será escravizado". 

A frase, inclusive, foi citada pelo bolsonarista preso pela polícia no sábado, em seu depoimento, a que a Folha teve acesso. Ele disse que planejou com manifestantes do QG a instalação de explosivos em pelo menos dois locais da capital federal para "dar início ao caos" que levaria à "decretação do estado de sítio no país", o que poderia "provocar a intervenção das Forças Armadas". 

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Na versão dada aos policiais, o investigado mencionou o artefato localizado neste sábado (24) nas imediações do aeroporto de Brasília e também planos da instalação de explosivos em postes de energia próximos a uma subestação de distribuição em Taguatinga, cidade do Distrito Federal.

"Uma mulher desconhecida sugeriu aos manifestantes do QG que fosse instalada uma bomba na subestação de energia em Taguatinga para provocar a falta de eletricidade e dar início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio", disse Sousa, que é do Pará e tem 54 anos.

O apoiador de Bolsonaro também afirmou à polícia que, no dia 12, teria conversado com PMs e bombeiros acionados por conter os manifestantes e que, naquele momento, avaliou que os agentes da segurança pública estavam ao lado do presidente e que em breve seria decretada a intervenção das Forças Armadas.

"Porém, ultrapassado quase um mês, nada aconteceu e então eu resolvei elaborar um plano com os manifestantes do QG do Exército para provocar a intervenção das forças armadas e a decretação de estado de sítio para impedir a instauração do comunismo no Brasil", disse.

A Polícia Civil realizou a prisão de Soares na noite de sábado. Pela manhã, a Polícia Militar do DF afirmou ter interceptado o artefato explosivo. 

Segundo fontes da corporação, o motorista do caminhão percebeu que uma caixa havia sido colocada no interior do caminhão e decidiu acionar a polícia. No local, foi encontrada uma pequena dinamite com temporizador.

De acordo com pessoas que tiveram acesso à investigação, o caminhoneiro não tem relação com o crime. Mas a polícia apura outros envolvidos. Em seu depoimento, Sousa cita um outro homem, chamado Alan, e diz que ele teria sido responsável por deixar o explosivo no caminhão. 

Segundo o detido, eles se conheceram no acampamento em frente ao QG. 

À noite, o Exército foi contatado pelas autoridades locais, que informaram da prisão e da suposta relação do episódio com o acampamento. Segundo a Folha apurou, Alan foi procurado, mas não estaria mais em frente ao QG.

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