Segundo a SSP-SP ainda não há uma classificação específica para este tipo de crime / Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Oito em cada dez famílias brasileiras têm dívidas em atraso, segundo um levantamento realizado em setembro deste ano pela Confederação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. E este cenário tem sido aproveitado por criminosos para um novo golpe: o falso pagamento de dívidas com desconto via Pix.
O cliente recebe uma mensagem com uma oferta de quitação do débito, entra em contato com a central telefônica fraudulenta e acaba perdendo o valor pago na negociação.
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E os bandidos estão cada vez mais convincentes. É o que diz Carlos Afonso, Delegado da DCCIBER (Divisão de Crimes Cibernéticos), da Polícia Civil de São Paulo, em entrevista à Gazeta. Os criminosos conseguem facilmente se passar por bancos e financeiras, uma vez que têm acesso aos dados reais dos clientes.
"Hoje você compra um banco de dados na darkweb muito facilmente porque estes dados vão sendo vazados. Essas pessoas [criminosos] vão fazendo banco de dados com [informações sobre] conta bancária, crédito, CPF, nome, telefone, [e] endereço", explica.
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Como funciona o golpe
Neste novo tipo de crime, a falsa central telefônica envia uma mensagem para o cliente do banco informando que, caso a dívida não seja paga, seus bens pessoais serão confiscados com "ordem de penhora". Veja na imagem abaixo.
Isabela Castro, de 56 anos, diz que chegou perto de ser vítima dessa fraude. Ela contou à Reportagem como quase perdeu R$ 5 mil para a falsa central de negociação de dívidas.
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"Recebi uma mensagem no meu celular dizendo que meus bens seriam penhorados caso eu não pagasse uma dívida que tenho no Bradesco", lembra a aposentada, que pediu para usar um nome fictício. "Como eu realmente tenho uma pendência no banco, eu fiquei preocupada e liguei para saber o que estava acontecendo".
Isabela conta que, quando ligou para a tentar negociar a dívida, os falsos atendentes chegaram a ser ríspidos com ela, dizendo que a dívida estava em aberto há muitos anos e que o débito deveria ser pago no mesmo dia, via transferência Pix.
Na falsa negociação, os criminosos disseram que a dívida se referia a um cheque que foi devolvido há muitos anos e que os juros fizeram com que o débito chegasse a mais de R$ 50 mil. Na oferta, propuseram à cliente um desconto de 90% sob o valor da dívida, mas sob a condição de que o pagamento fosse realizado imediatamente, sob ameaça de penhora de bens.
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Idosos são maior parte das vítimas
O delegado do DEIC explica que a maioria das pessoas que são vítimas deste tipo de crime é composta por idosos. "Esse golpe de 'você tem uma dívida e nós vamos negativar', geralmente atinge mais as pessoas que têm mais de 65 anos de idade. Isso porque ela é um migrante digital, ela está chegando nesse mundo de telefonia agora", esclarece Afonso.
"Nunca se deve responder a estas mensagens", emendou o chefe de uma das divisões regionais da Delegacia de Crimes Cibernéticos. A recomendação é a de que o cliente entre em contato apenas por meio dos canais oficiais de comunicação da instituição financeira, como o aplicativo do banco.
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Ausência de dados estatísticos
A Gazeta solicitou à Secretaria de Segurança Pública paulista, dados estatísticos sobre este tipo de crime. Após recusa inicial, a Reportagem solicitou acesso às estatísticas por meio da Lei de Acesso à informação. Em resposta, a pasta informou que não existe, até o momento, uma classificação específica para este tipo de crime e por isso não existem dados detalhados sobre este golpe.
De fato, um documento da Polícia Civil, criado para orientar quem é vítima de falsas negociações como estas, pede para que seja aberto um boletim de ocorrência com a classificação "outros crimes".
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Segundo o delegado Carlos Afonso, este crime ainda é classificado como "estelionato" e a orientação para a população é sempre desconfiar de ofertas de negociações recebidas por ligações, mensagens e outros meios digitais.
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