ÁRVORES

Mais de 80% das espécies nativas da Mata Atlântica estão em risco de extinção

Pau-Brasil está Criticamente em Perigo", dada a redução estimada de 84% das suas populações selvagens e o palmito-juçara (Euterpe edulis) está classificado na condição "Em Perigo"

Nilson Regalado

Publicado em 12/01/2024 às 14:05

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Entre as ameaçadas, 75% estão na categoria "Em Perigo" / Fernando Frazão/Agência Brasil

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Um estudo liderado por pesquisadores brasileiros e publicado ontem na revista científica Science aponta que 82% das mais de duas mil espécies de árvores exclusivas da Mata Atlântica sofrem algum grau de ameaça de extinção. Entre as espécies que também ocorrem em outros biomas a situação é menos crítica. Porém, nem por isso deixa de ser preocupante. Segundo a investigação conduzida com o apoio da Fundação De Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp) das 4.950 espécies arbóreas presentes tanto na Mata Atlântica quanto em outros biomas, 65% estão com suas populações ameaçadas.

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É a primeira vez que todas as populações das espécies arbóreas da Mata Atlântica têm seu grau de ameaça avaliado segundo os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), maior referência global em espécies ameaçadas.

“O número [de 82% de espécies endêmicas ameaçadas] foi um susto para nós, porque usamos uma abordagem conservadora. Levamos em conta se as espécies tinham ou não floresta disponível, independentemente de ser ou não uma floresta saudável. Portanto, é possível que a realidade seja ainda mais preocupante”, resume Renato Lima, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP (Esalq), e coordenador do estudo.

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O levantamento foi realizado em mais de três milhões de registros de herbários e inventários florestais. Os pesquisadores adicionaram ainda o maior número possível de informações, como usos comerciais das espécies e séries temporais de perdas de hábitat, entre outros.
Outro dado preocupante encontrado é que apenas 7% das espécies endêmicas tiveram declínio populacional abaixo de 30% nas últimas três gerações. A IUCN considera que, acima desse patamar, a espécie já pode ser considerada “Vulnerável”, a primeira categoria de ameaça de extinção. Acima dessa estão “Em Perigo” e “Criticamente em Perigo”.

Entre as ameaçadas, 75% estão na categoria “Em Perigo”. Já o emblemático pau-brasil (Paubrasilia echinata) foi listado como “Criticamente em Perigo”, dada a redução estimada de 84% das suas populações selvagens.

Árvores antes comuns, como a araucária (Araucaria angustifolia), o palmito-juçara (Euterpe edulis) e a erva-mate (Ilex paraguariensis), tiveram declínios de pelo menos 50% e por isso foram classificadas como “Em Perigo”.

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Espécies exclusivas da Mata Atlântica, entre elas a canela (espécies como Ocotea odorifera e O. porosa), sofreram reduções de 53% a 89%, sendo classificadas como “Em Perigo” ou “Criticamente em Perigo”.

Levantamento inédito

A IUCN conta com uma série de critérios para definir o grau de ameaça de uma espécie, seja animal ou vegetal, divididos entre A, B, C e D. No estudo atual, os pesquisadores observaram que, quanto mais dados eram inseridos, o grau de ameaça aumentava.

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Em linhas gerais, o critério A avalia o declínio da população nas últimas três gerações; o critério B, o tamanho da área ocupada pela espécie; e os C e D se a população é pequena e em declínio ou muito pequena, com menos de dez mil indivíduos adultos.

O método inovador será utilizado a partir de 2024 para avaliar o grau de ameaça das cerca de 12 mil espécies vegetais presentes exclusivamente no Brasil e que ainda não passaram por esse tipo de avaliação. O trabalho é realizado pelo Centro Nacional de Conservação da Flora, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde atuam alguns dos coautores do estudo.

TREZE ESTÃO EXTINTAS.

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Os autores propõem ainda que o método possa ser utilizado em escala global. Em uma simulação usando dados de outras florestas tropicais, os pesquisadores atestaram que 30% a 35% das espécies de árvores do planeta podem estar ameaçadas apenas pelo desmatamento.
“Informações desse tipo são primordiais para a criação de políticas públicas de conservação e reflorestamento. Pode-se priorizar áreas mais degradadas e espécies mais ameaçadas, sem deixar de considerar locais em que há florestas que podem não ser mais viáveis no longo prazo se algo não for feito agora”, comenta o pesquisador.

A boa notícia é que cinco espécies consideradas extintas na natureza foram redescobertas no estudo. Por outro lado, 13 espécies de árvores exclusivas da Mata Atlântica foram reclassificadas como possivelmente extintas

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