ENCONTRO PRESIDENCIAL

Lula e Biden debatem sobre a importância da preservação ambiental

Brasil também fez uma concessão ao governo americano e fará uma condenação mais dura à Rússia no comunicado conjunto dos presidentes

PATRÍCIA CAMPOS MELLO E THIAGO AMÂNCIO - Folhapress

Publicado em 10/02/2023 às 22:37

Atualizado em 10/02/2023 às 22:40

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A visita de Lula a Washington foi cercada de expectativas, depois das relações tensas da Casa Branca com Brasília no período em que Biden conviveu com Bolsonaro no comando do País / Ricardo Stuckert/Presidência da República

Na primeira reunião entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Joe Biden como presidentes do Brasil e dos EUA, realizada na Casa Branca, em Washington, nesta sexta-feira (10), o petista convidou o líder americano para discutir um mecanismo de governança global que force os países a acatar decisões na área climática.

Em declarações feitas na presença de jornalistas no Salão Oval, gabinete do presidente americano, os dois presidentes ressaltaram a importância da preservação ambiental e reforçaram a necessidade de fortalecer instituições em defesa da democracia.

"A questão climática, se não tiver uma governança global forte e que tome decisões que todos os países sejam obrigados a cumprir, não vai dar certo", afirmou o petista ao democrata. "Não sei qual é o fórum, não sei se na ONU, não sei se é no G20, não sei se é no G8, mas alguma coisa temos que fazer para obrigar os países, o nosso Congresso, os nossos empresários a acatar decisões que tomamos em nível global."

Biden, por sua vez, afirmou que vê o Brasil como "parceiro natural para enfrentar os desafios atuais, globais e especialmente as mudanças climática".

A reunião a sós entre Lula e Biden deveria ser de apenas 15 minutos, mas a conversa durou cerca de 50 minutos. De lá, os dois líderes tiveram uma reunião expandida, com a comitiva ministerial que acompanha o petista e o gabinete do presidente americano.

Em clima caloroso, bem diferente do encontro que teve com o ex-presidente Jair Bolsonaro em junho do ano passado, Biden disse a Lula ser "uma honra recebê-lo de volta na Casa Branca, um grande prazer".

Assim como já havia feito em viagem à Argentina em janeiro, o presidente brasileiro se referiu a Bolsonaro uma série de vezes nas declarações iniciais a Biden, ainda que sem citar o nome do antecessor. "Tivemos um presidente que mandava desmatar, mandava garimpeiros entrarem em áreas indígenas, mandava garimpar nas florestas que demarcávamos como reserva na Amazônia."

Os dois presidentes foram vítimas de tentativa de golpe de apoiadores de seus antecessores que negavam os resultados das eleições em 6 de janeiro de 2021 em Washington e 8 de janeiro de 2023 e a defesa da democracia é um dos temas principais nos diálogos entre os dois lados.

"Temos alguns problemas para trabalhar juntos: (a primeira coisa) é nunca mais permitir que haja um novo capítulo do Capitólio e que nunca mais haja o que aconteceu no Brasil", afirmou Lula. Biden havia iniciado sua fala dizendo que as "duas nações são democracias fortes que foram duramente testadas e prevaleceram".

Quando Lula disse que o dia de Bolsonaro "começava e terminava com fake news", Biden afirmou que a descrição "soa familiar", em comentário referindo-se a Donald Trump que gerou risadas pela sala.

A primeira-dama Jill Biden tomaria um chá com Janja, mas a agenda foi cancelada porque a americana, segundo o governo americano, não estava se sentindo bem  - ela fez um teste para Covid, e o resultado foi negativo. Janja então faria um tour pela Casa Branca enquanto os presidentes se reuniam. Dos jardins da Casa Branca era possível ouvir apoiadores do petista com caixa de som, megafone e gritos de "Lula".

A visita de Lula a Washington foi cercada de expectativas, depois das relações tensas da Casa Branca com Brasília no período em que Biden conviveu com Bolsonaro no comando do País - apoiador de primeira hora do ex-presidente Donald Trump, o ex-presidente ainda ecoou alegações de fraude na eleição americana. Biden e Bolsonaro nunca se falaram por telefone e só se reuniram uma vez.

Pela manhã, Lula se encontrou com o senador americano Bernie Sanders e com parlamentares democratas na residência onde está hospedado em Washington.

De acordo com Bernie a jornalistas, Lula defendeu na conversa "a necessidade de fortalecer os fundamentos democráticos no Brasil, nos EUA e em todo o mundo, porque há uma ameaça massiva de extremistas da direita que tentam minar a democracia".

Depois, se reuniu com os deputados Alexandra Ocasio-Cortez, Pramila Jayapal, Sheila Jackson Lee, Brad Sherman e Ro Khanna. AOC, como Ocasio Cortez é conhecida, afirmou que o brasileiro "é uma inspiração". A democrata disse que há muitos brasileiros em seu distrito em Nova York e que conhecia programas sociais criados em governos petistas, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, ambos citados em português.

Enquanto o petista recebia os representantes americanos, um grupo de três bolsonaristas apareceu próximo à Blair House, onde o presidente está hospedado, para protestar contra ele, chamando-o de ladrão. Outros apoiadores gritaram a favor de Lula.

Lula e Biden se conheceram em 2009, quando o hoje presidente americano era vice de Barack Obama e o petista estava em seu segundo mandato. A nova embaixadora americana no Brasil, Elizabeth Bagley, viajou a Washington para acompanhar a visita. Ao se encontrar com Lula na última semana, em Brasília, afirmou que estava "muito confiante de que eles serão melhores amigos", pois ambos têm "personalidades envolventes". Disse ainda que Biden vê Lula "não apenas como líder de seu país, mas regional e global".

Postura brasileira mais dura contra a Rússia

 Brasil fez uma concessão ao governo americano e fará uma condenação mais dura à Rússia no comunicado conjunto dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Joe Biden.

Inicialmente, o texto não condenava diretamente a Rússia pela Guerra da Ucrânia, após objeção dos negociadores brasileiros a uma linguagem mais específica sobre a agressão de Moscou. A declaração falava apenas sobre a cooperação entre Brasil e EUA para discutir questões regionais e globais, inclusive o conflito no Leste Europeu.

Mas o governo brasileiro cedeu à pressão dos EUA e aceitou ter uma declaração que condena nominalmente a Rússia pela violação territorial na Ucrânia, pelo desrespeito ao direito internacional e perdas de vidas e de infraestrutura essencial, além de falar sobre os efeitos do conflito sobre a economia mundial e a fome.

A linguagem é semelhante à adotada no comunicado conjunto de Lula com o premiê alemão Olaf Scholz, divulgado em 30 de janeiro. O texto também falava textualmente em violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia.

Mas os negociadores brasileiros não queriam adotar essa linguagem tão específica para o comunicado com os americanos, porque uma declaração conjunta com os EUA nesse teor tem mais visibilidade.

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