MEC
A nomeação é assinada pelo ministro Camilo Santana (Educação) na mesma semana em que Lula defendeu "tirar bolsonaristas que estão escondidos às pencas no governo"
Ministério da Educação, em Brasília / Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nomeou para um cargo comissionado no FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) Karine dos Santos -servidora de confiança de Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação de Jair Bolsonaro (PL), e titular de cargos importantes no MEC (Ministério da Educação) na gestão passada.
Karine é a nova coordenadora-geral de Desenvolvimento e Melhoria da Escola do FNDE. A nomeação, publicada nesta quarta-feira (15), é assinada pelo ministro Camilo Santana (Educação) na mesma semana em que Lula defendeu "tirar bolsonaristas que estão escondidos às pencas no governo".
Servidora de carreira do FNDE, Karine dos Santos aproximou-se do núcleo bolsonarista e de partidos do centrão nos últimos anos -o que causou estranheza entre colegas de autarquia.
Ela já foi presidente do FNDE, escolhida por Weintraub, e também secretária de Modalidades Especializadas do MEC (subpasta que foi extinta neste governo). E obteve indicação pelo então ministro da pasta, Victor Godoy, para receber a honraria Grão-Mestre da Ordem do Rio Branco.
A nomeação de Karine passou pelo crivo da Casa Civil do governo de Lula e foi aprovada. A pasta faz um pente fino de indicações a cargos em toda a Esplanada e, em 8 de fevereiro, autorizou a servidora a assumir a função.
Este, contudo, não é o único caso de remanescentes do governo Bolsonaro que têm mantido cargos importantes no governo petista.
Estevão Perpetuo Martins, ex-chefe de gabinete da secretaria-executiva do MEC na gestão Bolsonaro, foi designado nesta quarta para a coordenadoria de Infraestrutura Educacional da Diretoria de Gestão, Articulação e Projetos Educacionais do FNDE.
Servidores de carreira têm estranhado a importância que ambos mantiveram no novo governo por causa da fidelidade deles ao projeto bolsonarista, segundo relatos feitos à reportagem. O próprio ministro petista tem ressaltado em várias oportunidades o desmonte operado no MEC sob a gestão de Bolsonaro.
Em várias áreas do governo, a nova gestão tem afastado de cargos de protagonismo pessoas alinhadas à gestão Bolsonaro.
Segundo relatos obtidos pela reportagem, há pressão de partidos, sobretudo do União Brasil, para a manutenção desses nomes na estrutura do MEC.
Ainda há expectativa para a nomeação de Sylvia Cristina Toledo Gouveia para um cargo comissionado. Também servidora de carreira, Gouveia fez parte do alto escalão do MEC durante a gestão Bolsonaro, sendo adjunta da secretaria-executiva da pasta.
Em nota, o MEC afirmou que o ministro deu total autonomia para a presidente do FNDE, Fernanda Pacobahyba. O FNDE, por sua vez, afirmou que "as pessoas foram escolhidas pela capacidade técnica, vínculo e conhecimento sobre a administração pública".
HISTÓRICO
O MEC e o FNDE foram palco de escândalos de corrupção no governo passado, com investigações ainda abertas por parte de polícia, TCU (Tribunal de Contas) e CGU (Controladoria Geral da União). No caso do FNDE, houve uma explosão de liberação de obras sem critérios técnicos para atender aliados.
Apesar da proximidade dos nomeados com o alto escalão do MEC no governo passado, não recaem sobre eles qualquer denúncia.
No caso de Karine dos Santos, ela chegou à presidência do FNDE após Weintraub demitir do mesmo cargo, no fim de 2019, Rodrigo Dias, que era indicação do centrão.
Em sua gestão, ela participou de um vídeo ao lado de Weintraub em que ele divulga compras de artigos escolares realizadas por prefeituras e governos estaduais como ações do governo Bolsonaro.
Na ocasião, o próprio FNDE confirmou em nota que o governo federal não investiu recursos na compra dos materiais divulgados por Weintraub.
Em 2020, ela foi substituída por Marcelo Lopes da Ponte. Foi sob a gestão de Ponte, que era chefe de gabinete de Ciro Nogueira (PP-PI), que o FNDE passou a operar como uma espécie de balcão de políticos.
Camilo Santana colocou na presidência do FNDE uma pessoas de sua confiança, Fernanda Pacobahyba, que era secretária da Fazenda do Ceará, estado que Camilo governou.
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