Brasil
Segundo pesquisas, crianças pobres aprenderam metade do esperado durante ensino remoto. Veja as propostas dos candidatos ao governo do estado para contornar o problema
De modo geral, a aprendizagem caiu em todas as etapas de ensino, com maior queda na fase de alfabetização / Agência Brasil
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Quando o assunto é pandemia e educação, a primeira coisa que vem à mente é a lembrança do fechamento das escolas, visto que o Brasil foi um dos países que manteve por mais tempo o ensino remoto. Diante de tal realidade, na época, muitos estudiosos já afirmavam que a pandemia teria um forte impacto na educação, especialmente para os alunos mais vulneráveis. Agora, estudos começam a comprovar tal teoria.
Um levantamento realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com a Durham University, da Inglaterra, divulgado recentemente pela Agência Bori, aponta que as crianças mais pobres aprenderam em aulas remotas quase a metade do que seria esperado no presencial (48%). Já entre os alunos com maior poder aquisitivo, o aprendizado foi de 75% do esperado.
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Para chegar a tal resultado, os pesquisadores observaram 671 crianças de 21 escolas da rede conveniada e privada na cidade do Rio de Janeiro. “Todas as crianças participaram de testes individuais, em dois momentos: no início e no final do ano letivo, nos anos de 2019 e 2020. Assim, nos foi permitido medir o aprendizado delas ao longo dos respectivos anos letivos” explicou o pesquisador Tiago Bartholo.
Alfabetização sofreu o maior impacto
O estudo da UFRJ envolveu crianças da pré-escola. Mas, de modo geral, a aprendizagem caiu em todas as etapas de ensino, com maior queda na fase de alfabetização. Ao menos, esta foi a conclusão do SAEB, o Sistema de Avaliação da Educação Básica, e do Ideb, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, divulgados em setembro pelo Ministério da Educação.
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Segundo os dados, a porcentagem dos estudantes do 2º ano que não conseguem ler palavras isoladas, passou de 15,5% em 2019 para 33,8%, em 2021. Na outra ponta, conforme publicado pela Agência Brasil, a porcentagem daqueles que possuem maior aprendizado, caiu de 5% para 3%.
“Essas perdas são uma péssima notícia, especialmente entre os mais vulneráveis. Nas famílias de classe média, as crianças conseguem ter acesso a informações para além da escola, o que não acontece entre as mais vulneráveis”, comenta Claudia Costin, diretora do FGV CEIPE.
Longo caminho pela frente
Na opinião da professora Julia Pimenta, pesquisadora e membro do Centro de Pesquisa da Criança e de Formação de Educadores da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, os impactos da pandemia na educação ainda levarão um bom tempo para serem normalizados.
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“O problema educacional no Brasil já é recorrente, e se agravou com a pandemia. Essas perdas podem chegar a corresponder a 1,3 ano de escolaridade, ou seja, o estudante teria o conhecimento de mais de uma série anterior a que é correspondente à sua idade”, diz Julia.
Para ela, o caminho para contornar o problema passa pela reformulação do processo educacional e valorização dos professores.
“O principal desafio é a reformulação do processo educacional, tanto em termos de recuperação do conteúdo quanto da incorporação das novas tecnologias em contextos educacionais. Será necessário também identificar as lacunas de aprendizagem, para então elaborar um plano visando a recuperação dos conteúdos; e garantir que os professores tenham apoio e acesso a oportunidades de desenvolvimento profissional de alta qualidade, além de formação inicial e continuada de altíssima qualidade”, observa Julia.
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Cláudia acrescenta a necessidade de um trabalho de busca ativa, visto que muitas crianças acabaram deixando a escola para trabalhar e ajudar a família.
“A sociedade precisa se conscientizar que esta é uma questão de todos, não só de governo ou escola. Temos que recuperar aprendizagens perdidas, organizando, por exemplo, colônias de férias de recuperação, cadernos de lição de casa para as férias, entre outros”, diz Cláudia, que lembra ainda que é necessário um olhar especial para quem estava terminando o ciclo de aprendizagem durante o pior período da pandemia.
“Com os pequenos podemos ser mais otimistas, já que eles estão no começo da vida escolar, portanto eles têm um tempo para recompor essas aprendizagens. Contudo, aqueles que estavam no final do ensino fundamental e ensino médio não terão tempo hábil para recuperação no ensino formal”, finaliza.
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De olho nos candidatos
O Diário do Litoral procurou os candidatos ao Governo do Estado de São Paulo para saber quais são as propostas para contornar os impactos da pandemia na educação.
Procurada, a campanha de Tarcísio de Freitas (Republicanos) não respondeu até o fechamento desta matéria. Porém, no site da campanha, o candidato propõe implementar a recomposição de aprendizagem por meio de avaliações sistemáticas e monitoramento de aprendizagem, além de “um conjunto de recursos pedagógicos para suplementação de ensino e superação do impacto da suspensão das aulas presenciais no aprendizado dos alunos e criação de estratégias para a busca ativa de alunos com objetivo de reduzir a evasão escolar.”
Já a campanha de Fernando Haddad (PT), por meio de nota, disse que o candidato vai propor um pacto com todos os municípios para implementar um programa emergencial de alfabetização na idade certa, realizar um monitoramento da alfabetização por meio de avaliação censitária de fluência dos alunos do 2º ano do fundamental das redes municipal e estadual. “Quanto aos alunos que tenham abandonado a escola no período da pandemia, a proposta é realizar busca ativa e conectá-los ao Sistema Único de Assistência Social.”
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