ATUAÇÃO EM BRASÍLIA
Em entrevista ao Diário, a deputada federal conta sobre atuação parlamentar, principalmente nos projetos ligados à Baixada e às mulheres
A deputada federal Rosana Valle (PL-SP) / Divulgação
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Em seu segundo mandato, a deputada federal Rosana Valle (PL) conta nesta entrevista ao Diário, feita em Brasília nesta semana, por que vê como prioridade a privatização do Porto de Santos. Ela afirma, porém, que o porto “precisa continuar progredindo com ou sem privatização” para ser mais competitivo no cenário mundial.
Do mesmo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, Rosana diz, contudo, que não pretende ser uma “oposição pela oposição” ao atual mandatário Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Não quero que o governo dê errado. Venho avaliando projeto por projeto”, garante.
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Como presidente do PL Mulher do estado de São Paulo, a parlamentar afirma que pretende fortalecer as candidaturas de mulheres em pelo Brasil, em todas as correntes ideológica. Ela ainda revela que um dia pretende ser prefeita de Santos, mas que tomou gosto pelas realizações conquistadas na atuação como deputada federal.
Leia a entrevista na íntegra:
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DL - Como a senhora avalia o início deste seu segundo mandato em Brasília?
Rosana Valle - Tenho trabalhado muito, foi assim no primeiro mandato, e está sendo assim agora, mesmo com tempos mais difíceis por aqui em Brasília. Apesar de estar na oposição, eu não vim fazer oposição pela oposição, como eu já vi acontecer muito aqui na Câmara dos Deputados. Muitas vezes, eu vi projetos importantes, reconhecidamente importantes, tendo votos contrários da oposição, simplesmente porque eram oriundos do governo anterior. Não quero que o governo dê errado, não pretendo fazer isso. E, portanto, venho, junto com a minha equipe, avaliando projeto por projeto, e votando sempre com a minha consciência, no que eu acredito que é melhor para o Brasil, e para os brasileiros. E assim eu vou continuar, uma oposição, mas uma oposição propositiva e inteligente.
E a respeito dos projetos para a Baixada Santista?
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RV - Continuo lutando pelas causas da Baixada. Hoje, como é do conhecimento do jornal, temos o principal projeto por lá, que será realmente a redenção da Baixada Santista, que é a privatização do Porto, embora haja a contrariedade do governo federal sobre a questão. Mas o governador Tarcísio de Freitas continua tentando, não desistiu, porque ele conhece o projeto desde a sua época como ministro da Infraestrutura. Entretanto, o que a gente sabe é que as pautas do Porto precisam continuar prosseguindo, com ou sem privatização. E como uma dessas pautas é a geração de emprego, e outra é a de se tornar um porto mais competitivo no cenário mundial, precisamos lutar para que os acessos na área portuária sejam facilitados. Para a nossa gente, o Porto é emprego. A ligação seca tem que sair… Já estava saindo, estávamos com todo o arcabouço jurídico criado para que ele fosse viabilizado pela privatização, gerando 60 mil empregos na Baixada; também precisamos pensar na ampliação da relação do Porto com a Indústria, fazer com que o Porto comece a exportar matéria-prima, agregando valor. Havia todo um caminho pavimentado, e se o atual governo não aceita, nós vamos trabalhar do mesmo jeito, porque o Porto tem que progredir. Assim como os aeroportos da região.
O que o governo estadual tem feito, então, para auxiliar esse trabalho que a senhora diz que precisa ser feito?
RV - Tem agregado os projetos aos pacotes de parcerias público-privadas. A ligação seca está no pacote, por ser uma obra que liga cidades. Ela passa pelo canal do Porto, mas é uma obra que liga cidades. Fora isso, tem o aeroporto civil metropolitano de Guarujá, pelo qual também trabalhamos muito, para o qual nós conseguimos recursos junto ao governo federal passado, e também a liberação da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo [Cetesb], depois de muito custo, para a parte ambiental e o cercamento da área. Continuo acompanhando esse projeto. Para outros tantos, agora, tenho tido o apoio do governo do Estado. Por exemplo, o custeio do hospital de Peruíbe, uma obra que estava sendo feita há anos, recebeu do governador atual a promessa de que suas obras não serão paralisadas, logo agora que elas já estão quase terminando. O custeio é importante porque, depois de pronta, como a cidade não tem condição de custear o projeto, os recursos do governo estadual serão essenciais para o bom funcionamento e para a assistência da população. A pedido do prefeito, e de vereadores, estou abraçando outros tantos assuntos também.
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Mas, e ampliando da Baixada, para o estado de São Paulo, que outras pautas têm sido objeto da sua atuação parlamentar?
RV - Tirando a Baixada, tenho pautas importantes na questão do fortalecimento das mulheres na política. Acredito que hoje sejam cerca de 14 projetos de lei na defesa dos direitos das mulheres que, ou são proposições minhas, ou estão sendo relatados por mim, tramitando aqui na Câmara. Como presidente do PL Mulher no estado de São Paulo, missão que me foi dada pela presidente nacional do PL Mulher, Michelle Bolsonaro, quero fortalecer as candidaturas femininas em todo o Brasil. Eu e todo o partido queremos que mais mulheres estejam na política, queremos eleger mais prefeitas, vice-prefeitas, vereadoras. Eu acredito, o PL acredita, que a política tem muito a ganhar com uma participação maior das mulheres. Ainda somos poucas, infelizmente, aqui na Câmara, 17% na atual Legislatura. Na passada éramos 15%, quer dizer, então que estamos progredindo, mas muito lentamente, por isso precisamos fortalecer realmente. Não é verdade que as mulheres não querem entrar na política, elas querem sim, mas não podem encontrar um ambiente hostil para elas.
A senhora acredita que esse fortalecimento vai levar a mulher, e à sociedade, a qual patamar? E como fortalecê-las?
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RV - A mulher possui características diferentes, e sabe com melhores detalhes certas coisas que só pertencem ao universo feminino, mas que afetam a sociedade como um todo, e não somente a elas. Quer um exemplo? Eu vi deputado, aqui, defendendo tratamento da endometriose pelo SUS. E embora eles tenham esposas, filhas, é a mulher que sabe o preconceito que ela enfrenta, quando está menstruada, e com doenças como essa, ou outras, fica impedida de trabalhar, por exemplo. Só a mulher que conhece o peso real desse enfrentamento. E as nossas conquistas são tão recentes… Imaginem, nos anos 1930, nem votar podíamos. Precisamos encontrar um ambiente melhor, um futuro para as nossas filhas, para as nossas netas. As mulheres necessitam aprender a colocar o pé na porta também, e aprender que, na política, é necessário se fazer ser respeitada, porque às vezes, mesmo sem querer, eles cortam as nossas falas, eles aprenderam dessa forma.
E a senhora acredita, vê uma perspectiva de mudança para mudar esse aprendizado?
RV - É uma cultura enraizada! Várias vezes, quando eu fazia palestra para mulheres, eu ouvia frases assim: “ah, eu trabalho, mas meu marido me ajuda!”. E falavam disso como se fosse o máximo o marido ajudar. Por quê? Porque se você, mulher, quiser trabalhar, você vai ter que dar conta da casa e do trabalho. Mas por que isso? Ela fala sem pensar, porque está incutido na cabeça dela, que se ela trabalhar, ela vai ter que cuidar da casa também. Quando eu atuava como jornalista, eu viajava muito, e sempre ouvia falar, “como você tem coragem de viajar, deixar seus filhos em casa…”. E eu pensava, era o meu trabalho, será que eu sou uma mãe desnaturada de deixar meus filhos em casa para trabalhar? Hoje, mais madura, eu sei que não tem nada a ver! Os meus filhos, um tem 22, e o outro tem 14 anos, são muito apegados a mim, embora tenham ficado muito mais tempo com o meu marido, e a gente conseguiu lidar muito bem com isso em nossa família. Contudo, esse contexto cultural não se muda de um dia para o outro. E a gente ainda vai continuar enfrentando situações como essa por algum tempo. Mas, quando a gente tiver mais mulheres, talvez a gente vá conseguir reverter esse quadro. O prejuízo é grande, e eu luto bastante, tanto quanto luto por todas as causas da minha região.
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Falando em ambiente hostil, e grande prejuízo, uma das pautas, no legislativo como um todo, nos últimos tempos, tem sido a violência política de gênero. Qual é o seu posicionamento a respeito. De fato, essa modalidade de violência acontece aqui na Câmara dos Deputados? A senhora já foi vítima de violência política de gênero?
RV - Para além da questão da violência política de gênero, acredito ser muito difícil, atualmente, não pensar na questão ideológica que está envolvida na questão. A gente percebe que as deputadas, tanto as de esquerda quanto as de direita, reclamam de dois pesos e duas medidas, mas se unem apenas entre seus pares ideológicos, e penso que deveria haver uma união maior das deputadas, de todas elas, porque a gente precisa defender as mulheres em todas as situações, e não abrir espaço para que a violência, seja qual for, ocorra. Atualmente, as mulheres da direita não estão se envolvendo nas causas das mulheres da esquerda, e vice-versa, porque o ambiente está muito polarizado, o que prejudica essa união tão necessária. Eu acredito na necessidade do respeito, e por isso eu sempre me empenhei, e me empenho em obtê-lo. Quando tentaram me calar, na Comissão de Viação e Transportes, meu argumento foi, e sempre é, que eu exijo respeito, "porque eu entendo mais de portos do que você!". Agora o uso político das mulheres é que não pode ter, porque daí perde a credibilidade. Já me tiraram a voz também lá em Santos! Não tinha ideologia, aí você consegue responder a altura. Agora aqui, tem muita ideologia, e você não consegue ter a oportunidade, não consegue distinguir. Será que ela fez isso porque ela está querendo atacar o governo, ou porque ela está querendo holofotes, ou porque, será que potencializou porque estamos em lados opostos? Aí as da esquerda não defendem as da direita, as da direita não defendem as da esquerda.
Mudando um pouco de assunto, mas ainda na defesa de “minorias”, a senhora também tem atuado em prol das pessoas com deficiência, e recentemente apresentou à Casa um Projeto de Lei (PL) que ratifica uma Resolução da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a n° 280/2013, e torná-la lei, concedendo desconto de 80% para acompanhantes de deficientes em voos.
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RV - Pois é, estamos trabalhando muito nisso agora, oferecendo um reforço jurídico para tornar uma resolução que é frágil, sólida, porque ela é justa! O PL está para ser distribuído em caráter conclusivo para as devidas comissões. Apesar de a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência [Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015] ter sido um marco no que se refere à garantia de direitos para este público, vemos que muito ainda precisa avançar. É necessário o aprimoramento desta legislação federal. É por isso que estou propondo este projeto de lei, que garante, em sua totalidade, o desconto de 80% para acompanhantes de quem necessita de auxílio e que não pode, por força da deficiência, viajar sozinho.
E como a senhora avalia o seu trabalho nesses seis primeiros meses desta legislatura?
RV - A gente está fazendo bastante projeto de lei, corrigindo umas coisas que nós, que para nós estão sendo decisões erradas por aqui, como a questão do marco legal do saneamento que nós aprovamos na legislatura passada. Foi um grande avanço, porque a gente tem 100 milhões de brasileiros, 130, na verdade, ou sem água, ou sem rede de esgoto, e isso é vexatório. O governo federal quis reverter uma decisão que foi legítima, discutida, aí nós fizemos uma articulação e conseguimos reverter isso. Agora o marco voltou para o Senado. E é isso, eu estou aqui para fazer uma oposição inteligente. Se chegar para mim um projeto, por exemplo, o projeto da Reforma Tributária, se eu considerar, junto com a minha equipe, que ele é bom, eu vou votar a favor. Se eu considerar que está ruim, eu vou votar contra. E é em projeto por projeto! Eu não estou aqui para fazer o quanto pior, melhor. Não! Eu quero que o Brasil dê certo! Se eu consolidei meus votos, e hoje sou considerada como uma prefeitona da Baixada Santista, é que fui atrás dos problemas históricos da Baixada, mas ainda tem muita coisa a ser resolvida.
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Seu nome já foi cotado para a disputa pela prefeitura de Santos ano que vem. Ser prefeita de Santos está em seus planos?
RV - Eu gosto de ser deputada, eu me identifiquei com a atividade legislativa. Acho que é porque ela se assemelha muito ao meu trabalho de tantos anos, como jornalista. Nos permite conhecer os problemas, e ir atrás das soluções. A diferença é que o jornalismo não dá a você o poder de resolução dos problemas que nós, autoridades, possuímos. Então eu consegui me encaixar na atividade. Entretanto, eu sei que hoje, eu sou o nome forte do partido, e me sinto apta para disputar o pleito, mas, de verdade, acredito que ainda é cedo. Eu não tenho muito a prática política de, ao encerrar uma eleição, já estar pensando na próxima. Ainda mais porque eu tenho muito a fazer pelo meu estado, pela minha região. Tem a Curva do S, em Praia Grande, para sair; tem o aeroporto de Guarujá para ser concluído, precisa receber voos; tem a questão da ligação seca entre Guarujá e Santos; temos emendas que vamos destinar, e algumas já estão chegando. Semana passada, eu fui no Corpo de Bombeiros ali na Zona Oeste, vi o caminhão do Corpo de Bombeiros, adquirido com emendas nossas, chegar, e isso me dá um prazer tão grande, saber que a minha atividade como deputada, é tão importante como a atividade do vereador, do prefeito, do governador, do presidente. Sou santista, me reconheço nas esquinas daquela que é a minha cidade, onde eu criei meus filhos. Eu nunca me mudei, sempre morei lá, e claro que eu gostaria de ser prefeita da minha cidade, um dia. Mas eu acho que é uma decisão que a gente tem que tomar mais para a frente, apesar de a força política querer empurrar a gente tão logo para a disputa. Tenho muito trabalho a fazer como deputada, são 4 anos, e só está começando, eu quero trabalhar, e ver resultado, é nisso que estou pensando agora. Na hora da decisão, eu verei!
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