Brasil

"Conhecer demência é conhecer Alzheimer" é tema de campanha global

Nesta terça-feira (21), a Associação Internacional da Doença de Alzheimer lança o Relatório Mundial de Alzheimer para conscientizar a população

Agência Brasil

Publicado em 21/09/2021 às 11:10

Compartilhe:

Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter Compartilhe por E-mail

O Alzheimer não tem cura. Existem medicações que estabilizam a doença ou diminuem, pelo menos, a velocidade de progressão / Divulgação

Continua depois da publicidade

Hoje (21), quando se comemora o Dia Mundial do Alzheimer, o mestre em psiquiatria e psicologia médica pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pesquisador do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), Adiel Rios, explicou à Agência Brasil que o Alzheimer é uma doença degenerativa do cérebro. Ela acomete algumas funções cerebrais, entre elas a memória, o cálculo, a linguagem e o comportamento.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

“Todas essas funções são comprometidas de forma progressiva e lentamente, de maneira que isso interfere na vida diária do paciente”, explicou. Os primeiros sinais podem surgir de alterações comportamentais. Nem sempre são alterações de memória.

Continua depois da publicidade

Leia Também

• Morre a mãe do ator santista Alexandre Borges

• Doença de Parkinson nem sempre surge com tremores: Saiba identificar os primeiros sinais

Adiel Rios disse que, de modo geral, como se trata de uma doença que acomete mais os idosos , acima de 65 anos de idade, os primeiros sinais podem ser depressão, alteração no comportamento, mais agitação, delírio, mudança na personalidade, agressividade e até mesmo alucinações. “Essas podem ser mudanças frequentes no início da doença, quando o paciente sequer tem alteração da memória. Depois, podem surgir essas alterações”.

O psiquiatra esclareceu que o Alzheimer, contudo, não envolve qualquer perda de memória. “A gente deve ficar atento porque, todos nós temos esquecimento, o que é natural. Mas a perda de memória no Alzheimer é uma perda de memória que se repete e compromete o dia a dia, interferindo, muitas vezes, nas funções e no funcionamento das atividades pessoais”.

Continua depois da publicidade

Sem cura

Como exemplo, ele citou o caso da pessoa que esquece que está no shopping e não lembra como voltar para casa, repetidas vezes. Trata-se de um esquecimento mais grave, que passa a ser também recorrente. A pessoa começa a ter dificuldade para se orientar no tempo e espaço. Segundo Adiel Rios, com o evoluir da doença, esse esquecimento passa a ser maior. As memórias do paciente acabam sendo deterioradas, principalmente as memórias da vida, autobiográficas. “O paciente começa a esquecer nome de filhos, de netos e, por fim, até dele mesmo, nos estágios finais”.

O Alzheimer não tem cura. Existem medicações que estabilizam a doença ou diminuem, pelo menos, a velocidade de progressão. “Mas isso durante um intervalo de cinco anos ou mais. Durante esse tempo, essas medicações podem oferecer ao paciente e ao familiar melhor qualidade de vida, menos alterações no comportamento, menos perdas de memórias, mas cura ainda não. Oferecem um conforto muito grande e uma qualidade de vida muito maior do que se não fossem tomadas as medicações”.

Continua depois da publicidade

Rios informou que a medicina vem pesquisando várias alternativas, mas ainda não existe nada milagroso, nem um procedimento definitivo que faça com que a doença possa ser interrompida. Atualmente, existem áreas em que o médico pode atuar para intervir precocemente e, talvez, adiar o início da doença ou, até mesmo, evitar. Para isso, a pessoa deve realizar atividade física; ter uma alimentação balanceada (dieta do Mediterrâneo), com alimentos ricos em ômega 3; controlar fatores de risco cardiovasculares, como diabetes, pressão alta, colesterol; evitar o tabagismo e o consumo de álcool em excesso; realizar atividades intelectuais, como testes, exercícios; manter atividade profissional; habilitação cognitiva.

Outra coisa essencial durante a pandemia de covid-19 é a preservação das relações sociais e familiares. Estudos indicam que o isolamento pode levar com maior precocidade à doença de Alzheimer. “O isolamento não seria algo bom”.

Diagnóstico

Continua depois da publicidade

Nesta terça-feira (21), a Associação Internacional da Doença de Alzheimer (ADI, a sigla em inglês) lança o Relatório Mundial de Alzheimer que, neste ano, se concentrará no aspecto do diagnóstico, levantando questões importantes para sistemas de saúde, governos, gestores e pesquisadores.

Adiel Rios afirmou que quanto mais precoce é feito o diagnóstico, mais fácil é, para o médico, intervir e controlar os fatores de risco, o declínio cognitivo, que podem piorar o curso da doença, oferecendo ao paciente atividades de terapia ocupacional, entre outras, utilizando mais precocemente medicações anticolinesterásicas; “É uma maneira de a gente ofertar maior qualidade de vida a essas pessoas que terão, inexoravelmente, a doença”.

A coordenadora do Departamento de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Jerusa Smid, concordou que o diagnóstico precoce é importante para que os médicos comecem a interferir em alguns a fim de que a evolução da doença seja mais lenta. Além de controlar pressão alta e diabetes, a neurologista citou a realização de atividade física aeróbica regular, controlar sintomas de depressão. “São várias medidas em que você vai atuar que podem retardar a progressão da doença”. Lembrou também de cuidar de perda auditiva e evitar isolamento social.

Continua depois da publicidade

Envolvimento

O Alzheimer é doença que envolve a família inteira, porque o paciente vai perdendo a autonomia e precisa de ajuda para fazer pequenas coisas. À medida que a doença progride, o indivíduo vai perdendo a autonomia e ficando cada vez mais difícil de realizar as atividades sozinho. “É preciso envolver toda a família”. Segundo Jerusa Smid, a principal contribuição dos médicos é cuidar do paciente e tratar os sintomas comportamentais que são frequentes, causando muito estresse nas fases moderada e grave, “e orientar o cuidador, dizer como as coisas vão evoluir, o que esperar da evolução dessa doença”.

As medicações mais comumente usadas e que estão no rol do Sistema Único de Saúde (SUS), disponíveis gratuitamente inclusive, são os inibidores da acetilcolinesterase (Donepezila, Rivastigmina e galantamina, não usados em associação) e Memantina, nas fases moderada e grave da doença, para tratar os sintomas cognitivos (perda de memória, confusão mental, lentidão do raciocínio e julgamento). Esses medicamentos devem ser usados até o fim da vida.

Continua depois da publicidade

Covid-19

De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 1,2 milhão de brasileiros sofrem com a doença e 100 mil novos casos são diagnosticados a cada ano. Em todo o mundo, o número chega a 50 milhões de pessoas. Segundo estimativas da ADl, os números poderão evoluir para 74,7 milhões em 2030 e para 131,5 milhões em 2050, devido ao envelhecimento da população. O psiquiatra Adiel Rios disse que a doença tende a aumentar no pós-pandemia.

Alguns estudos mostram que pode ocorrer uma associação com o novo coronavírus em pacientes que tiveram a doença ou que sofreram com o isolamento. “Mas não é nada definitivo. Isso está ainda em pesquisa. Alguns estudos indicaram, porém, uma relação entre ansiedade, depressão, insônia e também o Alzheimer”, concluiu Rios. Jerusa Smid avaliou, por outro lado, que o isolamento social pode acelerar na população idosa o início da doença. “Não no sentido de causar a doença, mas de acelerar, trazer os sintomas mais para perto do momento atual do que poderia ser mais para a frente”.

Continua depois da publicidade

Mais lidas

Conteúdos Recomendados

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software