Brasil

Como manter as crianças seguras na internet

Para especialistas, pais não devem proibir uso da web por crianças e adolescentes, mas agirem como mediadores do uso

Gladys Magalhães

Publicado em 26/03/2023 às 07:00

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Pais ou responsáveis devem estar atentos e mediarem o uso dos menores nas redes / Andreas no Freepik

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O tema é preocupante e tem ganhado cada vez mais espaço, seja nos sites de notícias ou na ficção: como manter crianças e adolescentes seguros na internet?

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Na novela Travessia, exibida no horário nobre da TV Globo, a personagem adolescente Karina, interpretada pela atriz Danielle Olímpia, é vítima de pedofilia ao ser enganada por um homem mais velho que se passa por uma jovem atriz e se aproxima da garota nas redes.

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Já na vida real, uma pré-adolescente de 12 anos foi sequestrada no Rio de Janeiro e levada para o Maranhão por um homem de 25 anos, com quem ela conversava nas redes desde os 10 anos de idade.

 Para que situações como estas não se tornem recorrentes especialistas ressaltam que os pais ou responsáveis devem estar atentos e mediarem o uso dos menores nas redes, sendo que, ao contrário do que muitos imaginam, a solução do problema não está na proibição.  

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“Não podemos simplesmente proibir, educar é fundamental para que a criança ou o adolescente construa a autonomia, adquira liberdade para se relacionar com o mundo de forma responsável. É importante compreender o nível de responsabilidade de cada criança e jovem antes de dar liberdade a eles, e isso também está ligado na questão da internet. Restringir o acesso de uma vez por todas, pode não ser a melhor opção, é importante também participar do mundo da criança”, observa a pedagoga Graziela Miê Peres Lopes, diretora geral das escolas Lumiar.

Perigos
De acordo com Maria Mello, coordenadora do programa Criança e Consumo, do Instituto Alana – organização focada em promover um mundo melhor para as crianças – ainda que muitas redes sociais e jogos on-line estabeleçam uma idade mínima para o uso, nada impede que crianças e adolescentes com idade inferior ao exigido estejam nestes ambientes, o que as expõe a diversos perigos.

“As redes sociais e outros serviços que circulam na internet não foram e não são pensados levando em consideração o melhor interesse e o bem-estar das crianças e adolescentes. Dessa forma, nestes ambientes eles estão expostos  aos riscos de contato, que tem ligação com relações interpessoais. Ou seja, que existe quando a criança entra em contato com um usuário mal intencionado, geralmente um adulto”, explica  Maria.

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Além do risco de contato, a especialista alerta também para os riscos de conduta, conteúdo e contrato. O primeiro está ligado à atuação da própria criança. Em outras palavras, quando a atuação dela mesma nesse espaço pode gerar riscos, como o cyberbullying.

Já o risco de conteúdo está relacionado com os conteúdos que não são apropriadas para aquela pessoa, enquanto o risco de contrato envolve as relações comerciais, que também podem afetar as crianças.

Diálogo em primeiro lugar
Na busca por maneiras de deixar crianças e adolescentes mais seguros na internet, o diálogo deve vir sempre em primeiro lugar, conforme explica o advogado especialista em conformidade e proteção de dados pessoais Ramon Costa, que atua em projetos e iniciativas do NIC.br  voltadas para proteção e segurança de crianças e adolescentes no uso da internet e tecnologias digitais.

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“É importante que pais e responsáveis sejam transparentes sobre os motivos pelos quais o uso de uma determinada rede social, tecnologia ou conduta na internet não é adequada para a criança ou para o adolescente. A proibição sem diálogo pode gerar uma falta de consciência da pessoa sobre os riscos e ela pode procurar o acesso de formas não autorizadas ou supervisionadas pelos adultos”, diz.

Além do diálogo, algumas ferramentas também podem ser úteis, como as ferramentas para controle parental. Para Maria Mello é importante ainda ensinar as crianças a protegerem os dados pessoais e observar o design das plataformas acessadas pelos pequenos.

“É importante conversar, explicar o que são dados pessoais e que é essencial protegê-los. Vale dizer ainda  que não  se deve conversar com estranhos na rede e que quando terminarem de usar o computador, tablet ou smartphone é importante sempre  fechar a câmera “,  recomenda  Maria.

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A pedagoga  orienta ainda que os pais observem a plataforma que os filhos estão usando e prestem atenção ao design. “Vejam se é mais persuasivo, no sentido de que tem algo ali que vai levar a criança a comprar algo, por exemplo, ou se é mais amigável, educativo, sendo que vale também prestar atenção na qualidade do conteúdo.”

Ferramentas e aplicativos que podem ajudar os pais
Algumas ferramentas e aplicativos podem ajudar a deixar as crianças mais seguras na rede.

O Google Family link, por exemplo, permite impor tempo de uso para aparelhos e aplicativos e tem recurso para bloquear aplicativos e rastrear a geolocalização. A ferramenta pode ser instalada diretamente no celular da criança ou adolescente. Segundo Ramon, outros apps semelhantes são o Life360 e o Appblock.

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No que diz respeito às redes mais utilizadas pelos jovens,  vale fazer uso das ferramentas disponibilizadas pelas próprias plataformas. O TikTok possui o modo pareamento familiar, que permite bloqueio de conteúdos inadequados, limite de tempo de uso e pausas na utilização.

Já o Instagram tem a “Central da Família”,  que permite o pareamento da rede do menor com a de seu responsável, que traz possibilidades de controle de tempo de uso e notificações sobre novos seguidores no perfil da criança ou adolescente.

Outro recurso importante a ser utilizado por pais e responsáveis é a criação de perfis infantis em plataformas de streaming, que permitem acesso apenas a conteúdos apropriados para crianças.

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Se algo acontecer...
Mesmo com todos os cuidados, nenhuma família está livre de que algo aconteça. Assim, se houver incidentes envolvendo crianças, adolescentes e internet os pais devem registrar a ocorrência na polícia, delegacias especializadas em crimes virtuais, registrar nos ministérios públicos, na autoridade nacional de proteção dados, defensorias públicas, buscar auxílio de sociedades civis, bem como registrar nas próprias plataformas.

“Sempre entre em contato com as autoridades competentes e oriente as crianças e adolescentes a nunca mandar qualquer tipo de informação, foto ou vídeo, e nem abrir. Em  caso de golpes, é preciso entrar em contato com a delegacia de crimes virtuais mais próxima e é importante manter a calma, não apagar nenhuma conversa, postagem, mensagem, vídeo, áudio ou qualquer indício do crime. Caso o autor esteja incomodando, apenas bloqueie o contato, mas nunca apague nada. Faça os prints das conversas antes que o autor as apague”, recomenda Vitor Azambuja criador do programa De Criança para Criança.

Vitor ressalta ainda que os pais não devem realizar nenhum pagamento, nem sob ameaça, bem como não devem manter contato com o autor no intuito de querer descobrir quem ele é. Deixe a polícia cuidar do assunto.

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Leia esta matéria também na Gazeta de S. Paulo

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