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Brasil vai às urnas nas eleições mais polarizadas da história

Primeiro turno do pleito ocorre hoje sob polarização jamais vista na trajetória republicana nacional

Bruno Hoffmann

Publicado em 02/10/2022 às 07:00

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Lula e Bolsonaro dividiram as paixões e rancores dos brasileiros neste primeiro turno / Nair Bueno/Diário do Litoral

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O Brasil já teve eleições extremamente polarizadas. Porém, a escolha para presidente neste 2 de outubro parece não ter paralelo na trajetória republicana nacional, com discussões acaloradas - e não raras vezes violentas - pelas redes sociais e pelas praças públicas. De um lado, está a centro-esquerda de coalização de Luiz Inácio Lula da Silva (PT); do outro, o conservadorismo com discurso nacionalista de Jair Bolsonaro. Os outros postulantes ao cargo nunca chegaram a pontuar dois dígitos nas pesquisas de intenção de voto.

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O atual presidente Jair Bolsonaro parece buscar a reeleição em um ambiente menos favorável do que viveu em 2018, quando chegou à frente sob uma onda de antipolítica e antiesquerda, mesmo estando em um partido então nanico, o PSL.

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Hoje, o mandatário está desgastado por sua condução política durante a pandemia, pelo afastamento de antigos aliados e por apostar constantemente num discurso de enfrentamento. Contudo, ainda mantém uma base de apoio gigante, fiel e apaixonada, que garante a ele em todas as pesquisas pelo menos 30% das intenções de voto.

Jair BolsonaroBolsonaro é saudado pelos apoiadores/Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

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Já Lula se vale de sua popularidade aprofundada durante seus dois mandatos como presidente, entre 2003 e 2010. Joga contra si as sucessivas denúncias de corrupção contra o PT durante suas gestões, a crise econômica e social iniciada durante o governo de sua sucessora, Dilma Rousseff  (PT), e por ter sido preso entre abril de 2018 e novembro de 2019, sob decisão do então juiz Sergio Moro pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Os processos foram anulados.

Nenhum desses poréns, entretanto, foi suficiente para tirar a força de ambos nas pesquisas eleitorais.

“Um é ex-presidente e o outro é presidente. É natural que tenham um destaque significativo. Na história da reeleição dos presidentes nenhum não foi reeleito - e isso pode acontecer agora”, explica o professor Aldo Fornazieri, cientista político e coordenador da pós-graduação em Estratégia e Liderança Política da Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), em entrevista ao Diário.

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Segundo o especialista, Bolsonaro representa uma ponta ideológica de extrema direita com forte discurso moralista, e se elegeu com o mote da anticorrupção. “Mas esse discurso perdeu força na medida em que seu governo foi atingido por denúncias. Na reta final, ainda houve a questão dos imóveis da sua família”, explica, para mostrar por que o mandatário se enfraqueceu em busca da reeleição.

Para o professor, as denúncias contra Bolsonaro fizeram as acusações contra Lula perderem a força na visão do eleitor, além do fato de o petista ter tido os processos contra si anulados por instâncias da Justiça.

“Lula saiu muito bem avaliado da Presidência da República, então há ainda uma memória boa do seu governo. Porém, teve todo o problema da corrupção. O que beneficiou Lula? O fato dos processos terem sido anulados. Assim, esse jogo do embate da corrupção fica zero a zero entre os dois [na avaliação dos eleitores]”.

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Lula durante ato políticoLula durante ato político/Facebook/Reprodução

O professor da FESPSP também analisa que os outros dois candidatos mais bem avaliados pelas pesquisas eleitorais - Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) - não decolaram por motivos diferentes. “Ciro Gomes escolheu uma estratégia errada”, sentencia, sobre o candidato que resolveu bater mais em Lula do que em Bolsonaro para tentar atrair também um público à direita. “Com isso, a aposta do Ciro de ter uma votação mais significativa foi frustrada”, completa.

No caso de Tebet, ele entende que a chamada terceira via demorou para entrar em cena, mas que o cenário pode ser bom para a emedebista em eleições seguintes. “Ela entrou no jogo sabendo que a eleição estava polarizada, mas se colocou bem, trouxe um frescor à campanha. A aposta dela é muito mais voltada para o futuro do que para esta eleição”.

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Contudo, diz o professor, nenhum dos dois pode ser considerado irrelevante nestas eleições. “A votação que eles tiverem pode favorecer a eleição no primeiro ou no segundo turno”, explica.

O primeiro turno das eleições 2022  ocorre neste domingo, 2 de outubro, em todo o País. Em São Paulo as zonas eleitorais estarão abertas das 8h às 17h. Cinco cargos estão em disputa: deputado federal, deputado estadual, senador, governador e presidente da República.

Rumo ao Palácio dos Bandeirantes

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As eleições ao Governo de São Paulo estão, de acordo com todos os institutos de pesquisa, entre Fernando Haddad (PT), Tarcísio de Freitas (Republicanos ) e o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB). Nenhum outro candidato superou o 1% das intenções eleitorais de acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada na última quinta-feira (29). 

A possibilidade de segundo turno mais provável é entre Haddad e Tarcísio, que marcaram 41% e 31%  no levantamento revelado nesta semana. Depois, bem atrás mas ainda com chances consideráveis, está Garcia, com 22% na pesquisa. 

Caso o tucano não consiga ser reeleito para o Palácio dos Bandeirantes, seria a primeira vez que o PSDB deixaria de ganhar uma disputa no Estado desde o início da década de 1990.

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Outros cargos

Além do presidente e dos 27 governadores, o Brasil também vai escolher neste pleito eleitoral 513 deputados federais, um novo senador por estado e, no caso de São Paulo, 94 deputados estaduais para a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

Vista externa do prédio da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp)Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp)/Alesp/Divulgação

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As bancadas na Câmara dos Deputados são definidas proporcionalmente, conforme o número de eleitores de cada estado ou do Distrito Federal, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Neste sentido, cada deputado representa uma quantidade determinada de eleitores. 

Por essa conta, o estado de São Paulo é o que mais terá número de representantes na Câmara dos Deputados: 70 dos 513 deputados serão paulistas, enquanto, por exemplo, os representantes do Acre somarão 8 parlamentares na Casa.

Os senadores, que têm mandato de oito anos, vão se unir aos outros dois que representam cada estado e que foram escolhidos nas eleições de 2018. Os atuais senadores por São Paulo são Mara Gabrilli (PSDB) e Giordano (MDB), que era suplente e tomou posse após a morte do titular, Major Olimpio (PSL, que se tornou União Brasil), em 2021.

Cada unidade federativa também vai renovar as respectivas assembleias legislativas. No caso paulista, a Alesp terá a escolha de 94 novos deputados estaduais, que vão ajudar a definir o futuro do estado mais rico da nação pelos próximos quatro anos.

A polarização de 1989

As eleições gerais de 1989, as primeiras para presidente desde a redemocratização do Brasil, também foram marcadas por alta polarização, acusações mútuas e uso desenfreado de fake news, ou de “lorota”, como se dizia à época, em bom português.

Os detratores  de Lula espalharam, por exemplo, que apoiadores do Partido dos Trabalhadores sequestraram o empresário Abílio Diniz - o que foi provado pouco depois do pleito que era mentira.

Collor e Lula em debate em 1989, sob mediação do jornalista Boris CasoyDebate eleitoral em 1989/ Vidal Cavalcante/Folhapress. Cromo

Além disso, a edição do  último debate eleitoral do segundo turno pelo Jornal Nacional causou polêmica, por um pretenso favorecimento a Fernando Collor, que venceria as eleições. Artistas da própria emissora foram à porta da TV Globo fazer uma manifestação contra a edição do debate promovida pelo telejornal.

A Globo assumiu a culpa no episódio, mas só mais de uma década depois. “Foi um gol contra da emissora”, admitiu Armando Nogueira, diretor de jornalismo do canal de TV à época.

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