Polêmica

Bolsonaro renega Jefferson e tenta vincular aliado a Lula e transformar caso em gesto de apoio à PF

Num gesto incomum, Bolsonaro chegou a ordenar que o ministro da Justiça, Anderson Torres, fosse ao local para acompanhar o caso e depois fosse visitar os policiais feridos. Ele ficou, contudo, em uma delegacia de Juiz de Fora (MG)

Folhapress

Publicado em 24/10/2022 às 08:24

Atualizado em 24/10/2022 às 08:42

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O aliado bolsonarista e político de extrema direita foi preso pela Polícia Federal depois de tentar resistir à ordem judicial, disparar mais de 20 tiros de fuzil e lançar duas granadas contra os agentes / Reprodução/ Redes Sociais

Jair Bolsonaro (PL) e seu entorno tentaram ao longo do domingo (23) afastar Roberto Jefferson (PTB) da imagem do presidente e fazer do episódio um gesto de apoio a policiais.

O aliado bolsonarista e político de extrema direita foi preso pela Polícia Federal depois de tentar resistir à ordem judicial, disparar mais de 20 tiros de fuzil e lançar duas granadas contra os agentes. Dois deles ficaram feridos, mas sem gravidade.

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Jefferson, que já estava em prisão domiciliar, foi alvo da ação por determinação de Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Segundo o ministro, ele descumpriu medidas impostas pelo Supremo dentro de uma ação penal em que ele é réu por incitação ao crime e ataque a instituições.

Nas declarações ao longo do dia, Bolsonaro chamou o ex-deputado de bandido, e o ministro da Justiça, Anderson Torres, o classificou como "infrator".

Para tentar negar vínculo com o dirigente do PTB, o presidente da República chegou a mentir e dizer que nem foto com ele teria, o que não é verdade.

Depois, tratou mais do assunto durante a sabatina da TV Record. Ele foi entrevistado sozinho porque o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não quis participar do que seria um debate da emissora.

"Nós não somos amigos, não temos relacionamento. E tratamento pra pessoas que são corruptas ou agem dessa maneira como Roberto Jefferson agiu, xingando uma mulher e também recebendo a bala policiais, o tratamento dispensado pelo governo Jair Bolsonaro será de bandido", disse o presidente.

Ao chegar à emissora, fez um pronunciamento a jornalistas, sem direito a perguntas, em que afirmou: "Não existe qualquer ligação minha com o Roberto Jefferson". Ele disse haver uma notícia-crime contra ele protocolada por Jefferson.

Bolsonaro chegou a chamar Jefferson de "advogado renomado", para em seguida dizer que os xingamentos contra a ministra Cármen Lúcia eram inadmissíveis.

"E depois quando chega ordem de prisão pra ele, não importa se é legal ou não, ele recebe policiais com tiro. Quem recebe policial com tiro é bandido", disse.

O chefe do Executivo também foi categórico ao vincular o aliado, que agora faz questão de tratar como ex, ao adversário petista, a quem acusou querer "tirar proveito" do episódio.

Bolsonaro tentou ligar Jefferson ao PT, retrocedendo ao escândalo do mensalão, que estourou em 2005, após entrevista em que delatou o caso à Folha de S.Paulo.

Aliados seguiram o tom nas redes sociais e compartilhavam fotos, ao longo deste domingo, de Jefferson ao lado de Lula, no começo do governo do petista. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, foi um deles.

"Não tem uma uma foto dele comigo, nada", disse Bolsonaro na superlive que durou até a tarde de domingo.
Imagens dos dois juntos estão registradas e foram divulgadas pelo PTB, partido de Jefferson desde que Bolsonaro assumiu a Presidência, em 2019.

Há diversas fotos deles, a exemplo das publicadas pelo PTB em abril e setembro de 2020. Nas redes sociais do ex-deputado, também há publicações com os dois, como uma foto publicada em abril de 2021.

O político de extrema-direita também foi recebido algumas vezes no Palácio do Planalto. De acordo com a agenda oficial, Bolsonaro teve reuniões com Jefferson ao menos duas vezes.

Auxiliares do chefe do Executivo buscaram transformar o episódio envolvendo a prisão de Jefferson em uma demonstração de apoio de Bolsonaro aos policiais federais.

Alas da categoria chegaram a apoiá-lo mais fortemente no passado, mas com o tempo foram se distanciando. Bolsonaro trocou quatro vezes o diretor-geral da PF.

Assim, o gesto é, em grande parte, eleitoral. Ele busca se reeleger para a Presidência no próximo domingo (30), numa acirrada disputa contra o ex-presidente Lula.

Num gesto incomum, Bolsonaro chegou a ordenar que o ministro da Justiça, Anderson Torres, fosse ao local para acompanhar o caso e depois fosse visitar os policiais feridos. Ele ficou, contudo, em uma delegacia de Juiz de Fora (MG).

Interlocutores do chefe do Executivo disseram que sua ida era para defender a PF, uma vez que policiais foram atingidos. Torres comentou no Twitter, mais tarde, sobre o que chamou de sua solidariedade com os agentes feridos, chamou Jefferson de infrator e parabenizou a corporação pelo excelente trabalho.

Bolsonaro repetiu, durante entrevista à Record, que pediu ao ministro para que o político fosse tratado como bandido. "Ato contínuo determinei que ele fosse para o Rio de Janeiro conversar com os dois policiais e ver a situação de saúde dos policiais que sofreram ferimentos por parte de Roberto Jefferson".

Ainda na chegada à TV Record, o presidente condenou as ofensas de Jefferson à ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lucia, que a comparou a "prostitutas", "arrombadas" e "vagabundas". Em seguida, Bolsonaro passou a enumerar situações em que "o tratamento não é o mesmo".

Bolsonaro citou situação como exemplo um episódio envolvendo a primeira-dama Michelle. "Também há poucos dias, a minha esposa, de Alagoas, foi atacada nas mídias sociais pela procuradora-geral Samya Suruagy como vagabunda. Então, essa questão de ódio não parte de nós. Muito pelo contrário", disse.

O presidente nega qualquer relação com o ex-deputado de extrema-direita, mas seu principal aliado nos debates do primeiro turno na disputa presidencial era o candidato do PTB, Padre Kelmon.

Neste domingo, ele foi à casa de Jefferson e entregou à Polícia Federal fuzis do ex-deputado de extrema-direita.

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