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Beijo molhado e sexo oral: Justiça investiga casos de pedofilia no Mosteiro de São Bento

Ao menos três ex-integrantes do mosteiro são investigados pela Polícia Civil e pelo Ministério Público após denúncia de dois rapazes que trabalhavam e estudavam na instituição

Folhapress

Publicado em 19/12/2021 às 11:47

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Justiça investiga casos de pedofilia no Mosteiro de São Bento. / Reprodução/Google Maps

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Duas vítimas que registraram boletim de ocorrência por abuso sexual contra religiosos do Mosteiro de São Bento, na zona central de São Paulo, acusam o então abade da instituição, dom Mathias Tolentino Braga, de acobertar os casos e manter os acusados impunes.

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Ao menos três ex-integrantes do mosteiro são investigados pela Polícia Civil e pelo Ministério Público após denúncia de dois rapazes que trabalhavam e estudavam na instituição. Segundo eles, os assédios ocorreram quando eram menores de idade. Eles tinham entre 16 e 17 anos.

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Uma das vítimas, que pediu para não ter a identidade revelada, disse que o abade se recusou a receber os monges quando tentaram levar as denúncias. Ele conta que dom Mathias gritava que ali era um lugar sagrado e, portanto, não podia existir esse tipo de coisa.

Por causa das denúncias, o mosteiro está sob intervenção do Vaticano desde abril deste ano, e dom Mathias foi afastado na mesma ocasião.

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Em nota, o mosteiro manifestou repúdio e intolerância "a eventuais desvios de conduta de quaisquer de seus membros" e que atua em consonância com as determinações do papa Francisco de manter tolerância zero contra abusos na Igreja Católica.

Procurado, dom Mathias afirmou que não irá se pronunciar até o fim das investigações. Atualmente, o religioso está no mosteiro São Bento em Salvador, na Bahia, mas não exerce nenhuma função.

As vítimas contam que as investidas de religiosos contra jovens que trabalhavam e estudavam na Faculdade de São Bento eram frequentes e ocorriam em locais comuns do mosteiro, como banheiros e quartos compartilhados.

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Um deles relata que tinha chegado havia dois meses ao mosteiro para cursar a faculdade de filosofia e, em troca da bolsa, trabalhar na biblioteca da clausura, quando Rafael Arthur Gouveia Bartoletti, o irmão Hugo, o levou até a sala de música. Lá dentro, o então monge fechou a porta e forçou os ombros do estudante para baixo em direção a seu pênis para que fizesse sexo oral nele. Assustado, ele conta que se desvencilhou, pediu para não encostar nele e sair dali.

Integram o processo trocas de mensagens entre o irmão Hugo e outro jovem que trabalhou no mosteiro entre 2016 e junho de 2017. O monge enviou foto sem camisa à vítima e pediu para morder sua orelha.

Em outra mensagem, o irmão Hugo chama a vítima para ir ao cinema e se despede com um "beijo molhado e abraço apertado para quebrar os ossos todos".

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Além do irmão Hugo, outro monge, João Barbosa Neto, o dom João Baptista, é acusado de assediar as vítimas. Um dos ex-alunos conta que ele tinha o costume de apertar partes de seu corpo quando o cumprimentava.

A vítima conta que em uma noite, quando ele dormia no alojamento, dom João Baptista bateu na porta do quarto e perguntou se poderiam dormir juntos. O rapaz pediu ajuda a outro monge por mensagem de celular que foi até o corredor onde ficam os quartos e o mandou embora.

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Ao recusar as investidas, o ex-aluno conta que era maltratado pelo religioso, que ameaçava tirar sua bolsa de estudos caso não fizesse o que ele queria.

O ex-aluno diz que os abusos eram tão comuns que ele era aconselhado por outros monges a nunca andar sozinho pelo mosteiro e que os rapazes trancavam a porta do alojamento à noite para evitar ataques.

Outros acusados são Marcílio Antônio Miranda Proença, o dom Francisco, e o monge Josiel Amaral, o irmão Vitor.

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Dom Francisco teria esbarrado em uma das vítimas e levantado sua camisa, segundo relato. Em outra ocasião, o religioso perguntou a uma das vítimas: "Você não quer dar uma foda comigo?". Ele disse que pagaria bem pela relação sexual.

A mesma vítima acusa o irmão Vitor de puxar sua cueca quando estava distraído durante o trabalho na biblioteca e de forçar abraços.

De acordo com a direção do Mosteiro de São Bento, o irmão Hugo foi expulso em 2016. Dom João Baptista foi afastado assim como o irmão Vitor, que deixou a vida monástica. Dom Francisco morreu de Covid-19 no ano passado.

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Os acusados foram ouvidos pelo delegado que instaurou o inquérito e negaram as acusações.

Procurado, o advogado de defesa de Rafael Arthur Gouveia Bartoletti disse que não poderia comentar as acusações porque o processo corre em segredo de Justiça. A reportagem procurou a defesa dos demais acusados, mas não obteve retorno.

Em comum, as duas vítimas contam que sofrem de depressão em decorrência dos abusos e que já tentaram suicídio, inclusive dentro da biblioteca do mosteiro.

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Um dos ex-alunos conta que foi encontrado por monges entre duas estantes de livros após tomar o que chamou de veneno. Ele não parava de chorar e foi preciso que sua mãe fosse chamada para tirá-lo de lá. 

Ao chegar, a mãe ouviu de dom João Baptista que seu filho estava doente e precisava ir embora. O rapaz não voltou mais aos estudos e hoje trabalha como gerente em uma loja.

Ele conta que desistiu também de seguir a vida religiosa e demorou mais de um ano para conseguir falar sobre os abusos. A denúncia foi registrada em boletim de ocorrência em janeiro de 2019, quase três anos após ele entrar para a faculdade.

O processo criminal foi julgado pela 8ª vara criminal de São Paulo em abril deste ano, quando os acusados foram absolvidos. A juíza Cynthia Maria Sabino Bezerra Camurri afirmou que as acusações prescreveram em dezembro de 2017, dois anos antes de terem sido formalizadas em delegacia de polícia, em janeiro de 2019.

O Ministério Público recorreu da decisão da primeira instância e o recurso que pedia o prosseguimento do processo foi acatado pela 1ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo em outubro deste ano.

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