BRASIL

Americanas mais que dobrou salários de diretores nos últimos anos

Procurada, a Americanas não comentou o assunto

NICOLAS PAMPLONA - FOLHAPRESS

Publicado em 18/01/2023 às 20:47

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Lojas Americanas em Guarujá / Reprodução

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No centro de um escândalo contábil, a Americanas vinha garantindo elevados ganhos a seus executivos nos últimos anos, não só em salários mas também com bônus e a cessão de ações por desempenho.

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Os ganhos foram acelerados a partir de 2020, segundo documentos entregues pela empresa à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Entre 2020 e 2021, o valor médio pago a diretores praticamente dobrou, passando de R$ 4,3 milhões, em valor corrigido pelo IPCA, para R$ 8,5 milhões.

A proposta para 2022 previa uma média de R$ 11,8 milhões em salários, bônus e ações, mas o valor final depende do cumprimento de metas pelos executivos e deve sofrer impactos de um eventual processo de recuperação judicial para equacionar a dívida da companhia.

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Procurada, a Americanas não comentou o assunto.

Os elevados ganhos da diretoria da Americanas são citados pelo escritório Antonelli Advogados em proposta a investidores para abrir uma ação coletiva contra a empresa nos Estados Unidos, na tentativa recuperar a perda com o derretimento das ações após o anúncio do escândalo contábil.

"A notícia da recuperação judicial faz-se ainda mais surpreendente quando se verifica a remuneração global dos administradores", diz o advogado Bernardo Watanabe, lembrando que o valor aprovado para remunerar a administração da companhia em 2022 é 75% superior ao de 2021.

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A política de remuneração e o orçamento anual para pagar os benefícios são propostos pelo conselho de administração e aprovados em assembleia de acionistas. Na Americanas, os maiores acionistas são o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, que têm 31% da companhia.

Responsável por propor os valores, o conselho de administração também se beneficiou de aumento: entre 2020 e 2021, o valor médio pago aos conselheiros subiu de R$ 180 mil para R$ 400 mil.

Segundo levantamento feito pelo especialista em governança corporativa Renato Chaves, entre 2012 e 2021, a diretoria da Americanas recebeu R$ 505,4 milhões em salários, bônus e ações. Corrigido pela inflação, o valor supera os R$ 630 milhões.

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É quase o dobro do pago no mesmo período às diretorias de Magalu e Lojas Renner, por exemplo. Em valores nominais, a primeira pagou na década R$ 270,8 milhões e a segunda, R$ 252,8 milhões.

Feito com base em formulários apresentados pela empresa à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o levantamento mostra que a empresa tem uma relação entre remuneração da diretoria e resultado líquido bem superior às outras duas gigantes do varejo brasileiro.

Na Americanas, o valor total pago aos executivos em 2021 equivalia a 11,5% do resultado líquido. Nas Lojas Renner e na Magalu, esse indicador foi de 2,1% e 6,9%, respectivamente.

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Ao propor o valor global para 2022, o conselho disse que a política de remuneração da empresa deve promover "uma cultura de superação de resultados através da contratação e retenção das melhores pessoas, alinhadas com os interesses dos acionistas".

Essa política, continua o texto entregue pelo conselho aos acionistas, deve ser analisada "em bases anuais no sentido de garantir incentivos aos associados para alcançarem resultados excepcionais, sendo recompensados adequadamente".

O escândalo contábil da Americanas já motivou a abertura de cinco processos na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e em uma ação civil pública movida pelo Ibraci (Instituto Brasileiro de Cidadania), além das tratativas para ações coletivas nos Estados Unidos.

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"Estamos diante provavelmente da maior fraude corporativa do Brasil", comenta Chaves. "E a gente espera que a CVM seja mais ágil na apuração, que isso não termine em um termo de compromisso [acordo para encerramento de processo], que passa para o mercado a sensação de impunidade."

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