GUERRA

Ucrânia repete Rússia e anuncia bloqueio no mar Negro

Em seu anúncio, o Ministério da Defesa da Ucrânia provocou os russos, lembrando o afundamento do cruzador pesado Moskva, nau capitânia da Frota do Mar Negro baseada na Crimeia anexada, em abril do ano passado

Folhapress

Publicado em 20/07/2023 às 20:29

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Os russos consideram que a contrapartida ao arranjo, na forma de facilitação para a exportação de grãos e fertilizantes / Divulgação - Presidência Ucrânia

A Ucrânia afirmou nesta quinta (20) que vai considerar qualquer navio em trânsito para a Rússia ou para áreas ocupadas por Moscou em seu território um alvo militar legítimo. A medida foi uma resposta para anúncio idêntico, na mão inversa, feito pelos russos na véspera.

O mar Negro, palco de todas essas ameaças mútuas, tornou-se um foco renovado na Guerra da Ucrânia desde a segunda-feira (17), quando Vladimir Putin anunciou que não iria estender a participação russa no acordo que permitia a exportação de grãos ucranianos por rotas marítimas na região.

Os russos consideram que a contrapartida ao arranjo, na forma de facilitação para a exportação de grãos e fertilizantes russos apesar dos embargos internacionais que afastaram grandes seguradoras de navios com produtos de Moscou, não foi alcançada.

A Ucrânia até insinuou manter os transportes, pedindo proteção militar da Turquia, um membro da Otan (aliança militar do Ocidente) que controla a entrada e saída do mar Negro no estreito de Bósforo. Moscou respondeu com ataques aos portos ucranianos da região de Odessa e com a ameaça de considerar qualquer navio que rume ao país invadido como potencial transportador de ajuda militar.

Em seu anúncio, o Ministério da Defesa da Ucrânia provocou os russos, lembrando o afundamento do cruzador pesado Moskva, nau capitânia da Frota do Mar Negro baseada na Crimeia anexada, em abril do ano passado.

"O destino do Moskva prova que as forças de defesa da Ucrânia têm os meios necessários para repelir a agressão russa no mar", afirmou a nota, que estabeleceu a meia-noite desta quinta (20, 18h em Brasília) como o horário para implementar a medida. O bloqueio russo já está em vigor desde a meia-noite de quarta.

Há assimetria no potencial de dano de lado a lado. Os ucranianos não têm mais navios de guerra para assediar embarcações russas ou de outros países que rumem a portos controlados por Moscou. Mas, como a nota diz, podem causar estragos . Kiev opera mísseis antinavio próprios, como o Netuno que destruiu o Moskva e tem alcance de até 300 km.

Além disso, os ucranianos montaram com ajuda ocidental uma frota de drones marítimos, que já foram usados em ataques contra a sede da Frota do Mar Negro e, na segunda, contra a ponte que liga a Crimeia à Rússia.

Já Moscou tem experimentado dificuldades com sua Frota do Mar Negro, que devido ao risco associado aos drones e mísseis só participa à distância da guerra, quando alguma de suas cinco fragatas lança mísseis de cruzeiro Kalibr contra alvos na Ucrânia. Até hoje, o afundamento do Moskva simboliza a fragilidade naval que não se esperava dos russos.

Boa parte de sua força foi deslocada para o mais protegido mar de Azov, um braço do mar Negro junto à costa ocupada do sul ucraniano e das regiões russas de Rostov e Krasnodar. Mas ela é muito superior à ucraniana, tendo em especial seis submarinos diesel-elétricos de ataque.

Neste momento, segundo o site de monitoramento marítimo Marine Traffic, há cerca de 20 navios com destino declarado à região de Odessa parados junto ao estuário do rio Danúbio, na fronteira entre a Romênia e a Ucrânia, além de dois navios de transporte ancorados junto a portos ucranianos. Há cerca de quatro embarcações rumo à Rússia, mas distantes da área da guerra.

É possível que o bloqueio fique apenas nas ameaças. Resta saber qual será o comportamento turco no caso de haver alguma tentativa de testar a disposição russa nos mares: além de próxima de Moscou, Ancara sabe que um embate pode levar a uma escalada imprevisível, como já quase ocorreu entre forças dos dois países na Síria.

Enquanto isso, a Rússia seguiu sua rotina de ataques à região de Odessa, pelo terceiro dia seguido. Se nos dois primeiros os alvos eram estruturas portuárias associadas à exportação de grãos, nesta quinta o Ministério da Defesa disse ter alvejado bases de construção e lançamento de drones e embarcações de pequeno porte.

Foram ataques "retaliatórios", disse a pasta, em resposta à explosão que atingiu a ponte da Crimeia na segunda.

Segundo o governo de Odessa, um aliado de Putin acabou atingido. Segundo o governador Oleh Kiper, o consulado chinês na cidade foi atingido por estilhaços. Não houve comentários de Pequim, mas o político postou apenas uma foto de uma janela quebrada no edifício. Ao todo, morreram três pessoas nas ações com mísseis e drones em outros pontos da região.

No mercado internacional, a confusão segue sugerindo pressão sobre os preços de trigo, milho e óleos vegetais, produtos que têm na Ucrânia um dos maiores fornecedores mundiais. A incerteza também atinge as exportações russas, o país é líder na venda de trigo, por exemplo.

O temor de desabastecimento e um repique da inflação de alimentos no mundo todo, já que grãos afetam toda a cadeia produtiva, com o emprego como ração animal, por exemplo, levou a ONU a marcar uma reunião de emergência para discutir a questão. No ano passado, os preços só retomaram o patamar pré-guerra após a assinatura do acordo, em julho.

Os russos dizem se dizem dispostos a retomar o esquema caso suas demandas acerca das próprias exportações seja atendidas, e dizem que há três meses de janela contratual para que haja negociação sobre o tema.

Toda a movimentação tirou um pouco a atenção do principal problema que os ucranianos têm hoje, que é a dificuldade em romper as defesas russas na contraofensiva que iniciaram no mês passado. Segundo as Forças Armadas, há avanços e a estratégica cidade de Bakhmut (Donetsk, leste), tomada pelos russos em maio, pode ser cercada.

Mas o otimismo contido é refreado pelo avanço dos russos mais ao norte de Donetsk, rumo à região de Kharkiv, um movimento que segundo Kiev pode envolver até 100 mil soldados, a maior força desde a invasão de fevereiro de 2022. Ambos os lados relatam combates intensos, mas inconclusivos.

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