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Taleban toma Cabul e volta ao poder no Afeganistão após 20 anos

Ao longo do dia, o presidente do país, Ashraf Ghani, ainda buscava uma solução negociada com os invasores, que prometeram moderação para incrédulos interlocutores ocidentais

Folhapress

Publicado em 15/08/2021 às 20:57

Atualizado em 16/08/2021 às 15:05

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As regiões fronteiriças já estavam em mãos talebans. / Reuters/AB

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O Taleban, grupo que virou sinônimo de radicalismo fundamentalista islâmico e conduziu uma vertiginosa campanha militar de duas semanas, derrubou o governo do Afeganistão 20 anos após ser expulso do poder pelos Estados Unidos.

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Suas tropas entraram em Cabul pela primeira vez desde 13 de outubro de 2001, quando tiveram de se retirar da capital sob as bombas norte-americanas e britânicas que abriram caminho para forças adversárias da chamada Aliança do Norte.

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Desta vez, a entrada ocorreu sem resistência, apesar de relatos de tiroteios esporádicos na madrugada de domingo. Hospitais da cidade reportaram cerca de 40 feridos leves.

O grupo tomou o palácio presidencial. Imagens veiculadas pela mídia local e pela emissora qatari Al Jazeera mostram combatentes do Taleban no interior da sede do Executivo afegão.

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Ao longo do dia, o presidente do país, Ashraf Ghani, ainda buscava uma solução negociada com os invasores, que prometeram moderação para incrédulos interlocutores ocidentais.

"Queremos uma transição pacífica", afirmou à rede BBC um porta-voz taleban, Suhail Shaheen.

Não deu certo para Ghani, que deixou o país no começo da noite (fim da manhã no Brasil). Seu gestão, iniciada em 2014 e vista como um marionete das forças ocidentais, colapsou. Como será formado o próximo governo é incerto, mas o Taleban venceu a guerra.

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Segundo a Al Jazeera, o porta-voz Mohammad Naeem afirmou que o grupo "não quer viver no isolamento" internaciona e que a natureza do novo regime será anunciada logo. "A guerra acabou", disse.

Ghani disse em publicação no Facebook que decidiu deixar o país para "evitar um banho de sangue" e que "inúmeros patriotas teriam sido martirizados e Cabul seria destruída" caso ele não entregasse o poder.

"Os talebans ganharam. Agora, são responsáveis pela honra, pela posse e pela autopreservação do seu país", escreveu o presidente afegão. Ele não informou para onde fugiu, mas a rede Al Jazeera diz que ele está no Uzbequistão.

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O ex-chanceler Abdullah Abdullah, que foi derrotado por ele na polêmica eleição de 2019, insinuou que Ghani foi covarde. O Taleban afirmou que irá renomear o país com o nome que usava sob sua primeira gestão, de 1996 a 2001, trocando o República por Emirado Islâmico do Afeganistão.

Foram 19 anos, 10 meses e 3 dias desde aquele momento de derrota, que marcou o início da ocupação liderada pelos Estados Unidos. Washington buscava punir o grupo por ter abrigado a rede terrorista Al Qaeda, que ordenara os ataques do 11 de setembro de 2001, mas acabou atolada na sua mais longa guerra.

Assim como as bombas do Ocidente removeram o Taleban de Cabul em meros sete dias, a ausência delas entregou todo o Afeganistão de volta aos radicais em duas semanas exatas.

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No domingo retrasado, aproveitando o virtual fim da presença militar americana no país após a decisão em abril do presidente Joe Biden de cumprir a retirada acertada por Donald Trump e o Taleban em 2020, os militantes deixaram as áreas rurais que dominavam parcialmente ao longo dos anos e fecharam cercos a capitais provinciais.

As tropas deveriam deixar o Afeganistão em maio, mas Biden postergou o prazo para o fatídico 11 de setembro deste ano. Depois, o adiantou para 31 de agosto, mas o Taleban aproveitou a deixa, disse que o acordo havia sido rompido e abandonou a promessa de não buscar a vitória militar.

A partir da sexta (6), as cidades caíram em dominó. Evitando deixar o norte do país como bolsão de resistência como nos anos em que governou, o Taleban investiu primeiramente na região de maioria étnica tadjique e uzbeque.

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As regiões fronteiriças já estavam em mãos talebans, tanto que a Rússia virtualmente militarizou o seu aliado Tadjiquistão ao enviar forças para um exercício, evitando assim o transbordamento do conflito.

O sul e o sudoeste, áreas tradicionalmente associadas ao Taleban por serem majoritariamente da etnia do grupo, a pashtun, vieram a seguir. No sábado (14), caiu o bastião noroeste de Mazar-i-Sharif e, nas primeiras horas do domingo, Jalalabad, a cidade que liga Cabul à fronteira do Paquistão.

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