Medo de Francisco era que forças ligadas a Trump pudessem interferir, direta ou indiretamente, na eleição de seu sucessor / Reprodução
Continua depois da publicidade
Com a morte do Papa Francisco, ocorrida nesta segunda (21) aos 88 anos, o Vaticano mergulha em luto - mas também em um cenário de tensão e disputa nos bastidores.
Além do pesar pela perda de um dos líderes mais carismáticos da Igreja Católica contemporânea, cresce a preocupação entre religiosos e analistas sobre uma possível tentativa de influência externa no conclave que se aproxima. No centro dessa inquietação, está o nome de Donald Trump.
Continua depois da publicidade
Fontes próximas ao círculo íntimo de Francisco revelam que, nos últimos anos de vida, o pontífice manifestava em privado um receio específico: que forças ligadas ao ex-presidente norte-americano pudessem interferir, direta ou indiretamente, na eleição de seu sucessor. Embora pareça conspiratório à primeira vista, esse temor ganha contornos mais nítidos quando se observa o contexto político e eclesiástico atual.
Durante seu pontificado, iniciado em 2013, Francisco procurou moldar uma Igreja mais inclusiva, voltada para os pobres, os migrantes e o meio ambiente. Nomeou cardeais com perfil pastoral e progressista, especialmente da América Latina, África e Ásia, buscando descentralizar o poder historicamente europeu da Cúria Romana. Contudo, enfrentou oposição constante de alas conservadoras, especialmente nos Estados Unidos, onde movimentos católicos tradicionalistas se aliaram abertamente a pautas trumpistas.
Continua depois da publicidade
Segundo vaticanistas experientes, o papa emérito chegou a alertar alguns de seus cardeais de confiança sobre a possibilidade de "uma articulação ideológica" para eleger um papa que revertesse seus avanços e recolocasse a Igreja em um eixo mais rígido, moralista e político.
Donald Trump, embora protestante, tornou-se símbolo e aliado informal de parte do catolicismo conservador norte-americano. Grupos como a “Church Militant”, além de bispos e leigos influentes, adotaram sua retórica nacionalista e anti-globalista, vendo em Francisco um opositor ideológico mais do que um líder espiritual.
Ainda que Trump não tenha qualquer participação formal no conclave — composto exclusivamente por cardeais com menos de 80 anos — sua influência pode ser exercida por meio de pressões midiáticas, financiamento de campanhas de desinformação e aproximação com figuras eclesiásticas estratégicas.
Continua depois da publicidade
O conclave, previsto para acontecer nas próximas semanas, será um dos mais decisivos das últimas décadas. O colégio de 136 cardeais eleitores está dividido entre os herdeiros espirituais de Francisco e aqueles que desejam uma guinada mais conservadora. Qualquer sinal de ingerência externa — ainda que simbólica — pode gerar forte repercussão e minar a legitimidade da escolha do novo pontífice.
O Vaticano, ciente do risco, reforçou medidas de segurança informacional e isolará completamente os cardeais durante o processo de votação, como já é tradição. Mas a disputa real começa antes: nos jantares, nas reuniões informais e nas conversas discretas que já ocorrem nos corredores da Santa Sé.
Mesmo após sua morte, a sombra de Francisco parece pairar sobre o conclave. Não por apego ao poder, mas por temor de que a Igreja que ele tentou reformar seja capturada por forças políticas externas, incapazes de compreender a natureza espiritual de sua missão.
Continua depois da publicidade
A pergunta que agora ecoa dentro e fora dos muros do Vaticano é clara: quem será capaz de continuar — ou desafiar — o caminho traçado por Francisco? E, sobretudo, até onde a política mundana será capaz de tocar o trono de Pedro?