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Meio milhão de crianças passam fome em Portugal

As informações ocorreram no último dia 16, pela professora e ex-técnica superior pedagógica do Ministério da Educação, Guadalupe Portelinha

Carlos Ratton

Publicado em 23/06/2024 às 07:30

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Os números são significativos se comparados a população de Portugal, estimada em 10 milhões de pessoas / PORTUGUESE GRAVITY / UNSPLASH

Cerca de dois milhões de pessoas se encontram em estágio de pobreza e quase 500 mil crianças passam fome em Portugal. As informações ocorreram no último dia 16, pela professora e ex-técnica superior pedagógica do Ministério da Educação, Guadalupe Portelinha, em um dos painéis do Festival Literário Internacional do Interior (FLII), no auditório da Biblioteca Municipal da Vila de Arganil. 

Os números são significativos se comparados a população de Portugal, estimada em 10 milhões de pessoas. Guadalupe é licenciada em Filologia Germânica, mestre em Literatura Inglesa e foi delegada sindical, além ter exercido inúmeros cargos na área da Educação. 

O Diário conversou com ela após o evento. Ela fez as revelações no ano em que seu país comemorou, além dos 50 anos da Revolução dos Cravos (25 de abril de 1974), 100 anos de instituição dos Direitos da Criança. 
“Esse é o resultado da má distribuição da riqueza. É evidente que não dá para comparar com o Brasil (que tem 220 milhões de habitantes) e a situação é mais difícil, mas são números significativos. A vida em Portugal está muito cara, principalmente nas grandes cidades”, revela, alertando que para as mulheres com filhos pequenos a situação é mais difícil porque Portugal faltam creches que permitem que a mãe possa trabalhar com tranquilidade. 

Embora os números sejam relevantes, a educadora explica que as escolas estão fazendo sua parte, fornecendo uma merenda relativamente consistente. “As freguesias (bairros) tem feito um trabalho muito bom. As crianças tem almoço e lanche no período da tarde, mas as vezes não há dinheiro suficiente para manter o atendimento, fundamental para diminuir a fome”. 

SALÁRIO.     

Para a educadora, é preciso que haja um aumento no salário mínimo no País. Segundo revela, mesmo a classe média está com dificuldades, pois a diferença entre as remunerações estão cada vez menores porque não são corrigidas automaticamente. “A alimentação está cada vez mais difícil de se conseguir. Cidadãos e cidadãs estão migrando na tentativa de aumentar a possibilidade de ganhos”, afirma.

Guadalupe explica que em Lisboa – capital do País – a especulação imobiliária agrava a situação, “Imóveis estão sendo adquiridos por magnatas de outros países, inclusive do Brasil. Há bairros tradicionais que estão praticamente sem ninguém morando, pois os imóveis estão sendo usados só nas férias. As casas estão num valor alto e isso inflaciona a economia”, afirma, alertando que a situação também afeta o setor de comércio e serviços. 

O Diário observou essa situação ao ficar alguns dias em Condeixa, uma aldeia (pequena cidade), que fica somente 12 quilômetros de Coimbra, e que serve como uma espécie de cidade-dormitório, pois a maioria trabalha na cidade que possui a mais tradicional universidade da Europa. Em Condeixa, praticamente, não existe vida noturna.    

DESPEJOS.

Guadalupe revela que muitos portugueses estão sendo despejados de seus imóveis e acabam nas ruas. Durante uma passagem por Lisboa, a Reportagem flagrou um grupo de pessoas distribuindo comida e roupas para pessoas em situação de rua – uma situação muito comum no Brasil. 

O Diário também flagrou várias pessoas desabrigadas dormindo em um dos terminais do metrô da capital portuguesa. “Essas pessoas perderam seus imóveis e foram para as ruas. O governo deveria proibir despejos.

Há instituições, boa parte ligadas à igreja, que estão dando de comer aos desabrigados”, finaliza Guadalupe, explicando que, diferente do Brasil, a desigualdade social ainda não fomentou a violência.   

Também participando o encontro em Arganil, o coronel reformado Mário Tomé, responsável por quatro comissões na guerra colonial entre 1963 e 1974 e possuindo uma vasta experiência militar – apoiou ativamente o movimento dos soldados e o popular revolucionário - tornando-se deputado entre 1979/83 e 1991/95, foi enfático: “A alienação do sistema capitalista distorce a situação da fome das crianças”.   

DADOS

Em um rápido levantamento virtual, a Reportagem descobriu que as observações de Guadalupe e Tomé vão ao encontro de levantamentos realizados por algumas instituições europeias, como a Eurostat, que revelam que, entre 2020 e 2021, mais 200 mil crianças residentes na União Europeia (UE) passaram a viver no limiar da pobreza, num total que ultrapassa os 19,6 milhões de menores nessa condição. Em Portugal, até 2020 (último ano pesquisado), pelo menos 346 mil crianças subsistiam em risco de pobreza.

As mais recentes reportagens publicadas em veículos de comunicação europeus dão conta que em 2022, a taxa de risco de pobreza havia aumentado para 17%. É essa a percentagem dava-se em relação à população que vivia com menos de 591 euros por mês, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE). 

“São 1,78 milhões de pessoas, mais 81 mil do que no ano anterior (2021), em que contabilizou-se 1,69 milhão de pessoas em situação de pobreza, quando a taxa era de 16,4%. Em 2022, um ano marcado pela subida de preços e pela crise na habitação, a realidade voltou a agravar-se.

Os indicadores do INE mostraram também que o aumento da pobreza abrangeu todos os grupos etários, “embora, de forma mais significativa, as crianças e jovens com menos de 18 anos. Aumentou mais entre as mulheres (de 16,8% em 2021 para 17,7% em 2022) do que entre os homens (15,9% para 16,2%).

Quanto à caracterização da população pobre pelo nível de habilitações, conclui-se que mais de um quinto (22,7%) da população portuguesa que só tem o ensino básico vive em situação de pobreza. Essa percentagem é bem superior à da população com ensino secundário (13,5%) e ensino superior (5,8%). 

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