Caminho do Góes foi destruído e moradores correm risco. / NAIR BUENO/DIÁRIO DO LITORAL
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Moradores da Praia do Góes, em Guarujá, acreditam que as recentes dragagens, promovidas pela Companhia Docas do Estado de São Paulo, com o objetivo de aprofundar o canal do Estuário de Santos para mantê-lo navegável para grandes navios, está causando reflexos negativos ao meio ambiente e à população caiçara do local.
Segundo revelaram à Reportagem, a Praia do Góes - com 250 metros de extensão, habitada por 200 moradores e cercada por morros cobertos de Mata Atlântica - está perdendo gradativamente faixa de areia. Os moradores informam que o solo sob a água está enlameado e o mar, quando está bastante mexido, invade as casas dos pescadores, situações que nunca ocorriam até antes das dragagens.
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O pescador Alexandre Madureira, morador há 45 anos no Góes, afirma que os reflexos são muitos. "A maré começou a invadir a praia com mais violência e muita areia vem sendo retirada. As ondas são bem maiores. Já perdemos uns 30 metros de faixa de areia. A Codesp afirma que é o movimento natural do mar, mas a gente sabe que não. Nossas casas estão sendo invadidas e isso nunca ocorreu. Muros ficaram mais baixos por conta do acúmulo de areia jogada pelo mar. Chega a ponto de não conseguirmos atracar as embarcações. Meu filho chegou a ficar quase 15 dias sem poder ir à escola. Tem famílias ilhadas".
A representante da Associação dos Moradores da Praia do Góes, Léia Gonzales, explica que duas pontes já foram perdidas e que as travessias estão cada vez mais dificultosas. "Nossa praia vem sendo assoreada por conta da dragagem. Tudo que se faz aqui é destruído pela maré. Construímos uma ponte e já percebemos pedras sob ela trazidas pela maré. Os barcos não estão conseguindo encostar nos atracadouros. O direito de ir e vir está sendo cerceado", afirma.
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A comerciante Débora Câmara afirma que os prejuízos são muitos. As dificuldades de atracação espantou os turistas. "O mar mexe e ninguém aparece. Os moradores também têm medo. Até para adquirir mercadoria está difícil. Tivemos que recuar para evitar invasão. A dragagem está sendo o nosso fim. É preciso que alguém olhe essa situação alarmante", afirma Débora desesperada.
CAMINHO DO GÓES
Um exemplos dos impactos da dragagem é a destruição do Caminho do Góes, uma trilha encostada nas pedras, de cerca de 800 metros, que permitia acesso à praia e ao bairro de Santa Cruz dos Navegantes, onde os moradores conseguem assistência médica, transporte público e outros serviços. "Tudo isso ficou cada vez mais difícil. As ondas atingiram o caminho e destruíram tudo por conta da dragagem. As pessoas, para não terem que subir o morro para chegar à Santa Cruz, se arriscam diariamente escalando pedras. Emergência? Esquece", afirma o vereador Manoel Francisco dos Santos Filho, o Nequinho (PMN).
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Ele reafirma que antes da dragagem, a areia era clara e dura para pisar. Hoje, estão tomadas por lama preta e sedimentos tóxicos. Ele também chama atenção para impactos na fauna marinha, dada à grande mortandade de peixes verificada por pescadores. "Ao que tudo indica, os resíduos oriundos da dragagem ainda afetaram o ecossistema marinho e a balneabilidade. Isso, inclusive, foi alvo de investigação do Ministério Público e denunciado pela Imprensa", lembra.
Vale lembrar que Nequinho preside uma comissão parlamentar na Câmara que analisa os impactos ambientais desde a realização de serviços de dragagem. A comissão tem até o final do ano para apresentar um relatório, que será analisado pelo plenário e definirá as medidas legais.
A Codesp garante que monitora o comportamento morfossedimentar das praias, incluindo a do Góes, onde foram efetuados estudos aprofundados complementares para avaliar os fenômenos, cujos resultados indicam que a obra de dragagem de aprofundamento não se configura no agente causador dos processos erosivos e deposicionais observados. A Codesp diz que vai continuar o monitoramento e que o Caminho do Góes não é sua responsabilidade.
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