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"Vamos pensar um pouquinho, vou pegar um papel aqui (com o nome de todos os jogadores do elenco). Esse time, para mim, é para ser campeão. Para você é para cair?". Essas foram as palavras de Modesto Roma Jr, nove dias antes do pontapé inicial do Campeonato Paulista. À época, o clima na Vila Belmiro era de desconfiança, falava-se que o time brigaria apenas nas posições mais baixas da tabela de classificação e apenas o presidente, que fora eleito no início do ano, parecia acreditar em terminar o semestre campeão Estadual.
O título conquistado neste domingo, após eliminar o rival São Paulo na semifinal e reverter a vantagem palmeirense na grande decisão, na Vila Belmiro, para delírio do torcedor que lotou seu alçapão, coroou uma campanha de superação e comprovou a força do elenco alvinegro, capaz de driblar tantas adversidades durante a competição.
Pré-temporada conturbada
Desde a apresentação do elenco santista, na primeira semana de janeiro, o clima no CT Rei Pelé já era tenso e pesado. Jogadores insatisfeitos com os atrasos salariais e as promessas não cumpridas da diretoria, até dezembro comandada por Odílio Rodrigues, respingaram no início da temporada.
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Em meio aos primeiros treinos, Arouca, Aranha, Mena e Leandro Damião entraram em conflito com a cúpula do Peixe, abandonaram os treinamentos e acionaram o clube na Justiça, buscando um desligamento imediato para atuarem em outros clubes e o recebimento dos salários atrasados.
Arouca e Aranha acabaram indo justamente para o rival Palmeiras, Mena e Damião acertaram com o Cruzeiro e o capitão Edu Dracena, de uma forma amigável, se transferiu para o arquirrival Corinthians. A torcida passou a perseguir e protestar contra seus ex-ídolos e o Santos abdicou de contar os atletas rebelados.
Reforços sob suspeita
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Sem dinheiro em caixa e priorizando acertar a dívida com o grupo de atletas, o Peixe buscou reforçar seu elenco com jogadores em fim de contrato, empréstimos a custo zero ou fazendo trocas. Assim, chegaram Vanderlei, Werley, Chiquinho, Valencia, Elano, Marquinhos Gabriel e Ricardo Oliveira.
Os reforços não empolgaram e a própria torcida alvinegra parecia não acreditar em um campeonato de muito sucesso.
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Campo e bola
Ao contrário do que muitos esperavam, porém, o início dos jogos foi um verdadeiro remédio para o time santista. De tanto ouvir sobre o favoritismo do Trio de Ferro da Capital Paulista, os jogadores do Peixe se motivaram em provar a todos que a equipe tinha seu valor. Assim, o Peixe não deu trégua a seus adversários e se manteve na liderança do Grupo D desde a primeira rodada.
Aos poucos, Geuvânio, Robinho e Ricardo Oliveira se mostravam um trio de ataque muito perigoso. Lucas Lima, assim como em 2014, aparecia como maestro. E Renato usava sua experiência ao lado do jovem cão de guarda Alison. Chiquinho fez o torcedor esquecer a ausência de Mena e Victor Ferraz tomou conta da lateral direita. No gol, Vanderlei usou seu bom histórico no Coritiba para passar segurança e a zaga contou sempre com o comando do astuto David Braz.
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Troca de técnico
Após a sétima rodada, apesar de liderar a classificação geral do Paulista e se manter invicto, o Santos viveu uma crise com seu treinador. Enderson Moreira, que nunca foi uma unanimidade no clube, acabou se desgastando com o elenco e a comissão técnica e, após atacar os jogadores revelados pelas categorias de base, não resistiu e acabou demitido.
Depois de fracassar na tentativa de contratar Dorival Junior e Vagner Mancini, a diretoria resolveu ouvir o grupo de jogadores e efetivou Marcelo Fernandes, com Serginho Chulapa de auxiliar. Ex-zagueiro do próprio Santos, Fernandes se apoiou no bom relacionamento com o elenco para manter o time entre os líderes.
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Embalo até o título
Mesmo sem receber os direitos de imagem, conviver com as turbulências que envolveram saída de jogadores, reforços e troca de técnico, o time se mostrou imune a tudo isso e seguiu batendo seus rivais um a um. O único tropeço na primeira fase foi contra a Ponte Preta, mas 10 vitórias e 4 empates deram ao time da Vila Belmiro a segunda melhor campanha da primeira fase, atrás apenas do Corinthians.
Nas quartas de final, o time não encontrou dificuldades para despachar o XV de Piracicaba na Vila Belmiro após uma vitória por 3 a 0. Na fase seguinte, de novo diante de seu torcedor, o São Paulo foi presa fácil e o placar de 2 a 1 não foi capaz de representar a imponência do Peixe no clássico.
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Com a queda corintiana para o arquirrival, o alvinegro conquistou o direito de decidir mais uma vez na sua casa e fez valer o alçapão para rever a vantagem conquistada pelo Verdão no primeiro duelo e, assim, ficar com mais uma taça do Paulista, a quarta nos últimos sete anos.