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Quem vê Thiago Maia brilhando com a camisa do Santos pode não imaginar por quantas dificuldades o volante passou para se firmar na carreira. Aos 18 anos, com contrato renovado e um salário de alto nível, o jogador curte a boa fase com a camisa santista e faz piadas ao lembrar dos tantos obstáculos que foram superados quando ser jogador de futebol ainda era apenas um sonho distante. E muitas dessas conversas foram reveladas ao lado de seu pai, que assistiu o filho atuando, in loco, pela primeira vez, nesta quarta, contra o São Paulo. Tudo foi armando pela assessoria do clube, sem que o jogador soubesse.
“Se soubesse que estava aqui, acho que ia dar um gás a mais, para fazer um gol para ele”, brincou Thiago.
“Mu pai é o culpado de tudo que está acontecendo na minha vida. Ele que, às vezes, saia escondido de casa, de bicicleta. Jogava (a bicicleta) por cima do muro para eu não ir, porque era muito perigoso. Hoje está aqui, assistiu meu primeiro jogo, em um clássico, na Vila mais famosa do mundo, a Vila Belmiro. Fiquei muito feliz”, completou o volante.
Joel, pai de Thiago Maia, sem conseguir esconder a timidez, ainda teve que aguentar o filho revelando o apelido da dupla. “Ele é o Doido. Só reconhecem ele assim, ninguém chama de Joel. Ele é o Doido e eu o Doidinho”.
Quando pôde falar, entre as interrupções do volante para emendar alguma piada, Joel não escondeu a emoção pelo momento que o filho está vivendo no Peixe.
“Estou muito feliz. No estádio, não tinha como segurar a emoção de ver ele no gramado, jogando. Não tinha como segurar a emoção. Tive que chorar, não teve jeito. A gente que vem de um Estado em que o futebol é 0,0. Não tem. Vocês nem escutam sobre time de futebol do estado de Roraima. Então, um rapaz sair daquele Estado e chegar onde está, no Santos, o melhor time do Brasil… A gente se sente orgulhoso”, contou, cheio de orgulho e com os olhos marejados. Em seguida, Joel fez questão de agradecer as pessoas que ajudaram Thiago Maia a vingar no futebol.
“Se for colocar tudo que se passou na vida da gente, demora um pouco. Mas foi muita dificuldade. Quando ele veio para cá, teve ajuda de familiares, porque a gente não tinha como segurar ele aqui. Aqui em São Paulo o custo de vida é muito alto”.
Mas Thiago Maia não queria saber de emoção e choro. Cheio de moral e à vontade no clube que o recebeu ainda aos 14 anos, o volante voltou ao assunto sobre a bicicleta. Então, Joel explicou melhor o que acontecia de verdade.
“Toda pelada eu levada ele. Só que tinha dia que não podia levar. Então, para sair de casa, tinha que fugir. Eu jogava a bicicleta por cima do muro, dava a volta e, quando ele descobria, eu já estava longe. Ele começava a chorar, mas á era tarde”, disse o pai, rindo ainda de forma receosa, antes de mais uma ‘trairagem’ do filho.
“Meu pai era goleiro. Ele tem um time que se chama Bagaceira Futebol Clube. O rival era Resto do Mundo. Ele fundou o Bagaceira”, comentou, para gargalhada de todos que acompanhavam a entrevista “Hoje, o Bagaceira faz sucesso em Roraima”.
Noites no motel com a mãe
Depois de tanto rir com as histórias da época em que morava em Roraima, Thiago Maia resolveu falar sobre as primeiras dificuldades encontradas no Sudeste.
“A vida aqui em São Paulo é tão mais cara que Roraima que, quando cheguei, tive que dormir em um Motel. Eu e minha mãe. É bem engraçada essa história”, já adiantou.
“Quando chegamos no motel, a mulher não queria aceitar, porque eu era criança. Mas, a mulher falou pra minha mãe: ‘Se você prometer que ele não vai sair do quarto, eu deixo ele ficar’. Entrei no quarto, vi espelho aqui, espelho ali, uns brinquedinhos aqui, outros ali, umas paradinhas…”, relatou, sem qualquer demonstração de vergonha.
“Eu falei: ‘Meu Deus, o que estou fazendo aqui?’. Minha mãe disse: ‘Meu filho, só dorme e come, e está bom’. Amanheceu, minha mãe saiu, e eu fiquei sozinho no quarto. Pensei: ‘não vou ficar sozinho aqui’. Comecei a escutar uns gritos, e pensei: ‘Ah, deve ser massagem, algo assim’. Saí. Quando a faxineira estava passando, perguntou o que eu estava fazendo ali. Falei: ‘Estou passeando. Não é hotel isso aqui?’. ‘Não, não. Volta para o quarto’, disse ela. Fiquei sem entender nada. Minha mãe chegou e disse que tinha que ficar no quarto. Aí, explicou a situação. Foi onde tirei meu primeiro bigode. Nunca mais vou esquecer”, encerrou Thiago Maia, antes de lembrar que à época tinha apenas 12 anos de idade.
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