CRAQUE TEMPERAMENTAL

Grandes personagens do futebol brasileiro: Conheça Heleno de Freitas

Primeiro 'bad boy' do futebol nacional amava Dostoiévski, arrumava confusões em série e morreu aos 39 anos, solitário em um sanatório

Bruno Hoffmann

Publicado em 30/03/2023 às 11:51

Atualizado em 30/03/2023 às 11:58

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Capa do livro 'Nunca houve um homem como Heleno' / Divulgação

Era craque e artilheiro, mas Heleno de Freitas marcou época no futebol nacional por seu comportamento também fora de campo. O atacante do Botafogo das décadas de 1930 e 1940 vinha de família rica e estudara direito. Além disso, era boêmio, galanteador e adorador de jazz e de Dostoiévski, numa mistura incomum para os boleiros da época.

O mineiro de São João Nepomuceno estreou no time profissional do Botafogo em 1937, teve uma passagem pelo Fluminense e depois retornou à equipe da estrela solitária em 1940, pela qual marcaria 204 gols em 233 jogos. Rapidamente chamou a atenção por sua postura elegante em campo e por seu estilo corajoso de enfrentar beques de todos os tamanhos, sem medo de tomar e de dar botinadas.

Logo também mostrou que era difícil de lidar. Bastava receber um passe errado que saía esbravejando contra os companheiros de time. Não poupava sequer o treinador. Era difícil, muito difícil, ser companheiro de equipe de Heleno.

À noite também costumava mostrar desenvoltura pelo Rio. Gostava de frequentar cassino e andar de carros chamativos. Quando soube que o craque iria se casar, Vinicius de Moraes dedicou-lhe um escrito, Poema dos Olhos da Amada.

O primeiro "bad boy" do futebol nacional entrava em confusão até com os torcedores adversários. Certa vez, fez um belo gol de cabeça em uma partida contra o Fluminense, sacou um pente do bolso e arrumou as madeixas. Os tricolores ficaram enfurecidos, mas os botafoguenses o amavam como se fosse um irmão mais legal e corajoso, uma espécie de super-herói que vestia preto e branco.

Por causa da personalidade, ele chegou a receber o apelido provocativo de "Gilda", devido a um filme que fazia sucesso à época de uma mulher considerada descontrolada, vivida pela atriz norte-americana Rita Hayworth. Toda a vez que Heleno pegava na bola, a torcida adversária costumava gritar, enfurecendo o atacante: "Gilda! Gilda! Gilda!".

O craque teve boas passagens pela seleção. Mas, um ano antes da Copa de 1950, brigou com o técnico Flávio Costa, que o deixou fora da convocação. Em 1948 ele deixaria o Botafogo, sem conquistar um só campeonato. A saída de seu clube do coração aconteceu após suspeitarem que sofria de alguma doença cerebral.

Genioso, nunca quis saber de ir ao médico. Transferiu-se para o argentino Boca Juniors, onde ficaria apenas sete meses. Passaria ainda por Vasco (pelo qual conquistaria seu único título, o Carioca de 1949), pelo colombiano Junior de Barranquilla onde até hoje há uma estátua em sua homenagem e pelo América carioca, equipe pela qual fez sua única partida no recém-inaugurado Maracanã, quando, para variar, arrumou briga com os companheiros.

Ao abandonar os gramados, cedeu aos apelos e procurou um médico. Os exames atestaram que estava com estado avançado de sífilis, o que explicaria suas constantes irritações. A família o internou num asilo em Barbacena, onde morreria em 1959, aos 39 anos, já sem consciência de muita coisa em sua volta. Mas nunca deixou de falar do Botafogo, mesmo em delírio.

Numa crônica antológica, Armando Nogueira o definiu: "O futebol, fonte das minhas angústias e alegrias, revelou-me Heleno de Freitas, a personalidade mais dramática que conheci nos estádios deste mundo".

Saiba mais:

Livro: Nunca Houve um Homem Como Heleno (editora Zahar), de Marcos Eduardo Neves

Filme: Heleno, dirigido por José Henrique Fonseca (2012)

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