20 de Setembro de 2024 • 18:43
Empresários que ganharam contratos para vender ingressos para as Copas do Mundo negociaram dar um presente de 2 milhões de euros (cerca de R$ 8,8 milhões) para o presidente da Fifa, Joseph Blatter. As tratativas estão descritas em processos registrados na Justiça norte-americana por executivos da empresa iSe, aos quais a reportagem do Estado teve acesso.
Em 2003 a companhia ganhou um contrato da Fifa para ter os direitos de vender entradas VIPs e pacotes de hospitalidade para a Copa de 2006, num valor de US$ 270 milhões (R$ 1,066 bilhão) e que era cobiçado pelos maiores grupos do mundo. A iSe havia sido formada pouco tempo antes, numa aliança entre a Dentsu e a Publicis, e surpreendeu o mundo empresarial ao ser a escolhida para monopolizar a venda dos pacotes de luxo ao Mundial.
Mas o ex-executivo da iSe, Marty Schueren, num processo aberto em 17 de outubro de 2005, denunciou que o presidente da empresa, Haruyuki Takahashi, viajou até Frankfurt em março daquele ano para pedir que uma empresa paralela fosse estabelecida na iSe, com um capital de 2 milhões de euros.
Diante da impossibilidade legal de se criar a nova empresa, Takahashi sugeriu que um contrato fosse fechado entre a iSs e a Intersports para pagar 2 milhões de euros que teriam de ser entregues em dinheiro vivo. Nenhum serviço seria prestado, e o contrato apenas existiria para legitimar a transferência de recursos.
“Quando questionado sobre o motivo do dinheiro, Takahashi disse que precisava pagar Blatter, presidente da Fifa, por ter dado à empresa o contrato de hospitalidade para a iSe”, apontou o documento.
Os executivos da empresa optaram por negar ao japonês o dinheiro alertando que “não estavam preparados a ir para prisão por Takahashi”. O processo não conclui se o japonês conseguiu o dinheiro de outras fontes para entregar a Blatter.
O escândalo em relação aos contratos sobre ingressos da Copa já levou ao afastamento do secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke. Ele foi denunciado por empresários por fazer parte de um esquema para lucrar milhões de euros com a venda de entradas para o Mundial de 2014, mas nega ter cometido alguma irregularidade.
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