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Um dos fatos que mais exalta o orgulho santista é a história do clube ter causado uma paralisação da Guerra de Biafra, na Nigéria, em 1969. Na ocasião, Pelé e companhia enfrentaram a Seleção do Médio Oeste, em Benin, no jogo que ficou marcado como “guerra suspensa”. 46 anos depois, o Peixe volta a levantar a bandeira de uma causa humanista. Desta vez, o time não precisou sair de seu território para se solidarizar com um povo que vive em conflito há quatro anos: os sírios.
“O Santos Futebol Clube está apoiando os nossos refugiados, que são recebidos no país, mas que precisam viver aqui dentro. E a gente entende que, através do futebol, a gente pode inserir eles um pouco mais na nossa sociedade. Que eles possam conviver conosco e enxergarem o mundo o pouco melhor, porque o que eles enxergam é muito triste”, afirma Silvia Maria, esposa do presidente Modesto Roma Júnior e que está à frente da ação.
Dois representantes da Associação de Assistência a Refugiados no Brasil, chamada por Oasis, estiveram no CT Rei Pelé para conhecer um pouco mais do clube e para formalizar esta parceria.
“Só este apoio que o Santos está dando vai ser importante para dar visibilidade para o problema do refugiado. Isso já é um fator importantíssimo. Neste contexto do Brasil, você tem 2 mil refugiados, mas não existe esse conhecimento e que essa pessoas precisam dessa ajuda. O Santos vai abrir essas portas para o refugiado sírio. Então, para nós essa ação é importante neste contexto. Essa abertura, este apoio, essa solidariedade, que vai contaminar outros clubes, as torcidas”, explica Mohamad El Kadri.
Refugiados na arquibancada
Hoje, o Brasil tem cerca de 8 mil refugiados. Destes, 2.097 são sírios. A guerra civil no país asiático se iniciou em março de 2011 e desde então o número de imigrantes que abandonaram sua cidade natal em busca de um novo lugar para viver só tem aumentado. O Brasil se torna especial neste aspecto porque é o único a acolher estes refugiados sem qualquer restrição.
“É o único mesmo. O Brasil é o único que liberou um visto legal para os refugiados entrarem pela fronteira legalmente, sem sofrer nenhum problema. A Alemanha recebeu, mas, a pessoa vai cruzar o mar, sofrer problemas, andar quase 4 mil quilômetros a pé, até chegar na Alemanha. Chegando na Alemanha, eles recebem. Mas, aqui não. Eles dão o visto e (o refugiado) entra aqui mais digno”, ressalta Amer Masarami.
Mohamadi e Amer são líderes da Oasis e serão dois dos 100 refugiados sírios que o Santos irá receber neste domingo, na Vila Belmiro, durante a partida contra o Internacional, às 11 horas. Na quinta, a ação se repetirá no estádio do Pacaembu, diante do Figueirense, às 21 horas.
“Os refugiados estão com a gente, na Associação, desde a chegada deles. Desde de quatro anos atrás, quando começaram os problemas na Síria, que a gente acolhe esses refugiados e dá essa assistência para tudo que eles precisam”, conta Amer.
“E pelo histórico do Santos, que vimos que têm bastante programas humanitários, ajudam bastante, achamos uma grande oportunidade de levar os refugiados, trazermos para cá, assistirmos bola (futebol), esquecer um pouquinho dos traumas que eles passaram lá na Síria, por causa da guerra, do bombardeio lá. Então, acho que vai ser um grande dia para eles”, enaltece ele, que também é um refugiado da guerra que já matou mais de 130 mil pessoas, destruiu a infraestrutura de um país praticamente por completo e gerou uma crise humanitária.
Xerifão emocionado
David Braz, zagueiro do alvinegro praiano, recebeu Amer e Mohamad no CT Rei Pelé, conversou com os refugiados, ouviu histórias e se sensibilizou.
“Muito triste isso. Você não poder viver na sua própria casa, no seu próprio país. Tive acompanhando com a minha esposa (pela tevê). A gente tem um filho de um ano e acabamos vendo cenas de crianças que acabaram morrendo ou sendo expulsas do seu próprio lar. Lamentável o que está acontecendo. A gente procura orar por elas”, diz o atleta, admitindo ter se espantado com a proximidade de um problema que parece estar tão distante do Brasil.
“Foi estranho, sim. Parecia mentira, porque eu estava companhado pela tevê. E agora, conhecendo uma pessoa de lá, um refugiado de lá, a gente fica mais triste ainda. Mas, alegre também, porque estão sendo muito bem recebidos aqui. É como eu falei, estamos de braços abertos para receber, e o que a gente puder fazer para ajudar, a gente vai fazer”.