ANIVERSÁRIO DO TIMÃO
Wladimir, Sócrates e Casagrande encabeçaram o movimento que deu voz aos atletas, aboliu a concentração e interferiu na política nacional
Livro de Casagrande sobre sua relação com Sócrates / Reprodução
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No começo dos anos 1980, o Corinthians tinha três jogadores que pouco se assemelhavam ao perfil típico de boleiros. Sócrates era um meio-campista formado em medicina e boêmio; Wladimir, lateral-esquerdo admirador do movimento sindical; e Casagrande, centroavante amante de rock e de teatro. Juntos, encabeçaram um movimento que entrou para a história do futebol e da política brasileira: a Democracia Corintiana.
Eles se valeram da saída do presidente centralizador Vicente Matheus e propuserem ao novo presidente, Waldemar Pires, e ao diretor de futebol, Adílson Monteiro Alves, uma nova forma de gerir o clube. Todas as decisões passariam a ser tomadas pelo voto, desde horário de treinamento até a escalação da equipe. E o voto do presidente teria o mesmo peso ao de qualquer reserva.
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A concentração – ou “campo de concentração”, como definia Sócrates – foi praticamente abolida. Os jogadores entravam com faixas alusivas à política nacional, como “Ganhar ou perder, mas sempre com democracia” e “Quero votar pra presidente do Brasil”.
Havia quem torcesse o nariz. As maiores resistências vieram do goleiro Leão, que se recusava a votar, e de Vicente Matheus, que queria voltar ao poder. Mas o bicampeonato paulista de 1982 e 1983 dava poucos argumentos aos desafetos.
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A história acabou em 1985, com a volta de Matheus à presidência. Ironicamente, no mesmo anoem que o Brasil punha fim a mais de duas décadas de governos militares, sem poder escolher o presidente por voto direto. Mas, para os jogadores da época, o episódio serviu de ensinamento para toda a vida. “Depois de ter passado pela Democracia Corintiana, nunca mais tive medo de falar a verdade, de defender o que acredito”, afirmou o zagueiro Juninho.