A zagueira passou parte da adolescência na Primeira Cidade do Brasil e morava por aqui quando seu sonho no futebol começou a se tornar realidade / Reprodução
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A 9ª edição da Copa do Mundo Feminina começou nesta quinta-feira (21) e o Brasil, que participou de todas as edições, iniciou sua trajetória nesta segunda (24), contra o Panamá, em partida válida pelo grupo F.
Fazendo parte do grupo das 23 convocadas está a zagueira Kathellen Sousa, indo para a sua segunda Copa. Hoje ela é lembrada por jogar no Real Madrid, um dos maiores clubes do mundo, mas nossa São Vicente a conheceu muito antes. Ela passou parte da adolescência na Primeira Cidade do Brasil e morava por aqui quando seu sonho no futebol começou a se tornar realidade.
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Wesley Feitoza, irmão da atleta, viveu a jornada junto da jovem desde o começo, e nos autorizou a viajar por esta história. “Desde pequenos nós jogamos bola na rua. A Kathellen também acompanhava a nossa mãe, que jogava como goleira. Com o tempo, fomos crescendo e começamos a jogar em clubes também. Não tinha futebol feminino, então a Kathellen jogava junto com os meninos”.
Mas São Vicente não demorou para fazer parte da história da família. Eles se mudaram para a Cidade quando Kathellen recebeu uma bolsa de estudos. “Ela começou a estudar em uma escola particular por meio de uma bolsa. Nossos pais preferiram se mudar, pois a distância entre Cubatão e a escola era bem grande. Ela atuou na Copa TV Tribuna de Futsal Escolar e foi campeã”.
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Wesley e a família aproveitaram o tempo em São Vicente, principalmente a praia. “Nos mudamos pro Parque São Vicente, que fica bem mais perto da praia. Sempre gostamos de ir à praia desde pequenos. Íamos até o Gonzaguinha, subindo e descendo a Ilha Porchat”.
Após isso, a zagueira se formou no Ensino Médio e a trajetória para a carreira começou com força total. Mas não seria nada fácil para conquistar a tão sonhada oportunidade. O irmão viu de perto todo o esforço da atleta para dar os primeiros passos profissionalmente. “Bem na época em que ela se formou, o futebol feminino do Santos não estava atuando, então as perspectivas eram pequenas. Mas ela não desistiu. Continuou treinando na praia para manter o físico. Enquanto tudo isso acontecia, o nosso pai, Seu Antônio, corria atrás para conseguir um time para ela jogar”.
E, de tanto procurar, Seu Antônio conseguiu a oportunidade que colocou Kathellen no caminho da profissionalização. “Não sei de que forma, mas o nosso pai achou uma empresa em São Paulo que dava bolsas de estudos esportivas nos Estados Unidos. A bolsa não era integral, mas era a chance de competir pela faculdade enquanto estudava”.
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Nesse momento, o destino separou os dois irmãos e, enquanto Kathellen foi para o exterior, Wesley ficou torcendo pela irmã daqui. “Nós dois fizemos o teste e passamos, mas como a bolsa não era 100%, ficaria muito caro para nós dois irmos. Como na época eu já estava trabalhando e fazendo curso, nos concentramos em mandar ela. A Kathellen passou por três ou quatro testes e passou na peneira, finalmente conquistando a bolsa”.
Mas os desafios estavam só começando. De uma vez, a jogadora começou a enfrentar desafios como a necessidade de amadurecer e o idioma. “Ela ainda era menor de idade e não sabia falar inglês direito, mas fez uma entrevista online com os dirigentes da faculdade. Depois que ela chegou lá, a luta continuou. Ela não nos contava para não preocupar ninguém, ficávamos sabendo das coisas por amigas dela que viraram amigas de toda a família. Nas faculdades dos EUA, os jogadores não recebem ajuda de custo. Então ela chegou a trabalhar em empregos informais para não passar fome”.
Junto disso, o desafio da distância também seria um incômodo. Wesley contou que a zagueira ficou quase três anos sem encontrar a família. “Só conversamos por computador, por mensagem. Quando ela voltou, já estava diferente, mais alta e mais forte”.
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Após a formação na University of Central Florida (UCF), a carreira profissional de Kathellen começou. Primeiro, assinou com o Bordeaux, da França, onde jogou de 2018 a 2020. Depois, a atleta foi para Itália, onde se tornou a primeira jogadora brasileira a atuar pela Inter de Milão. Em 2019, ela virou titular na Copa do Mundo Feminina após lesão da zagueira Erika e participou dos quatro jogos da campanha, que terminou em eliminação contra a anfitriã França. E, em 2022, assinou com o Real Madrid, um dos clubes mais tradicionais do mundo, mas que ainda é relativamente novo na atmosfera do futebol feminino.
Na seleção brasileira, Kathellen tem 29 partidas e 1 gol marcado. Ela fez parte do elenco campeão da Copa América Feminina em 2022, e está em sua segunda Copa do Mundo. Neste ano, Brasil e França se reencontram, desta vez em jogo válido pela fase de grupos, no próximo sábado. A seleção também reencontra a Jamaica, com quem fez a abertura quatro anos atrás, em jogo marcado pelo hat-trick de Cristiane.
Apesar de já ser a segunda copa da irmã, Wesley confessa que está ansioso. “Por aqui a ansiedade é total. Mas vamos reunir toda a família e torcer com toda nossa força para incentivar ela e o Brasil até o título”.
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