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A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) quer evitar que “um tipo moderno de terrorista” estrague a festa de quem vai participar da Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. Trata-se do “lobo solitário”, que também é chamado de “alvo sem rosto” pelos profissionais da inteligência brasileira, disse em entrevista exclusiva à Agência Brasil o diretor-geral da Abin, Wilson Trezza.
“Lobo solitário é um tipo de terrorista que atua de maneira independente. É aquele cara que se seduziu ou se sensibilizou com um ideário e que resolve ser protagonista de alguma coisa. Ele pode ou não ter vínculos com organizações terroristas”, afirmou Trezza.
Geralmente, esses indivíduos atuam de forma isolada para cometer atos terroristas. A fim de chamar a atenção do mundo, podem aproveitar grandes eventos para propagar alguma causa política ou ideologia.
Rede mundial
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Facilidades proporcionadas pela internet podem ajudar essas pessoas a atingir os objetivos. “A internet é também usada por organizações [terroristas ou não] interessadas em disseminar ideias. Às vezes de ódio racial, de extremismo religioso, de visões políticas despropositadas. Ensina também como fazer bombas ou mexer com explosivos”, disse o diretor da Abin. “O que estamos vivendo é uma nova fase, uma nova etapa do terrorismo mundial.” Segundo Trezza, essas características do mundo contemporâneo acabam por contribuir para potencializar o que seriam apenas tendências de um indivíduo à prática terrorista.
Fatores como idade também podem influenciar. “Os jovens, normalmente, são impetuosos e têm aquele sentimento de afronta a princípios e valores. Hoje, temos um mundo que cobra demais sucesso e projeção das pessoas. Um ato terrorista é também uma maneira de você se projetar. Atuando de maneira independente, o lobo solitário acredita que está fazendo algum benefício. Ele se seduz por esse ideário e resolve agir sozinho, tendo ou não ajuda ou vínculo com organizações terroristas”, disse o diretor.
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Wilson Trezza cita outras características do mundo contemporâneo que podem potencializar tendências a atos terroristas. “Antigamente, para funcionar, as organizações usavam estruturas de empresas de maior porte e mais complexas. Hoje, essas organizações podem trabalhar como uma microempresa. E o microempresário pode também ser um tipo de lobo solitário, que age quase independentemente e sozinho”.
São grandes as dificuldades para identificar e monitorar um potencial lobo solitário. “Como se faz, em um país com 204 milhões de habitantes, acompanhamento sobre todas as pessoas que potencialmente poderiam se transformar em um lobo solitário? Só se faz com [ações de] inteligência, só faz com acompanhamento: você estabelece e acompanha alvos.”
O diretor da Abin é enfático ao dizer que o alvo não necessariamente é bandido, criminoso ou terrorista. “O que nos cabe fazer é acompanhar. Se chegarmos à conclusão de que ele não é, arquivamos. Se houver algum indício de que seja, o que não podemos fazer é deixar de averiguar”.
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Boston e Nova York
Sobre a necessidade de monitoramento e de inteligência, Trezza cita casos recentes. Um deles é o atentado ocorrido nos Estados Unidos durante a Maratona de Boston. Segundo o diretor-geral da Abin, a inteligência norte-americana já tinha informações sobre a possibilidade de os dois rapazes cometerem o atentado. No entanto, optaram por não avançar no caso.
“A repercussão foi mundial, apesar de o atentado ter sido feito com apenas duas mochilas [carregadas de explosivos]. Com a velocidade da informação, isso é levado a qualquer ponto do globo instantaneamente. O impacto é muito forte. A desmoralização do país que sofre um atentado desse tipo é muito forte. E o sentimento de insegurança da população passa a ser muito forte também.”
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Outro exemplo citado pelo diretor obteve resultado positivo. “Foi o caso de Nova York, há dois ou três anos. Com base em um tipo de sensibilização e capacitação similar à que fazemos aqui no Brasil – onde preparamos forças de segurança, inteligência e defesa para instruir [profissionais como] taxistas, hoteleiros e aeroportuários –, policiais norte-americanos suspeitaram de um carro parado na Times Square. De fato, era um cidadão que ia praticar um ato terrorista”, disse Trezza.
Olhar diferenciado
“O treinamento, a capacitação e o olhar diferenciado para as possibilidades de uma determinada ação ser vinculada ao ato terrorista são de grande eficiência em situações como essa”, completou. Segundo o diretor-geral da Abin, a preparação feita para os Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro, tem ajudado os profissionais da inteligência brasileira a reduzir riscos nos diversos eventos de grande porte ocorridos no país desde então.
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Entre eles estão a Copa do Mundo de 2014, a Rio+20 e diversos encontros de chefes de Estado. Esses modelos, garante Trezza, são “muito eficientes” e certamente ajudarão os brasileiros, a exemplo da Copa de 2014, a proporcionar uma grande festa. “Perdemos a taça, mas ganhamos a Copa ao provarmos ao mundo nossa capacidade de organização.”