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A turbulência do mercado financeiro traz impacto ao bolso do investidor. Em 30 dias encerrados em 17 de junho, apenas sete do 35 tipos de fundos estão com rentabilidade positiva, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). No acumulado do ano, o desempenho também é ruim, e apenas 13 estão positivos.
O desarranjo no cenário de investimento ficou evidente na semana passada. O Federal Reserve (Fed, banco centro americano) sinalizou a retirada dos estímulos para a economia dos EUA já este ano, o que reduziria a liquidez do mercado.
As questões internas também impactam os investimentos. A desconfiança com a política econômica do governo dificulta a retomada dos investimentos das empresas, e consequentemente trava a retomada da Bovespa. Em junho, a Bolsa recuou já 12,05%. No ano, a queda é de 22,8%. Na contramão, o dólar acumula alta de 9,71% em junho, e de 9,73% no ano. "Dificilmente alguém consegue escapar desse momento.
Há um risco de mercado elevado no Brasil, porque o mercado é muito concentrado. Não tem muito como uma ação escapar (da queda), todo mundo anda juntinho", afirma William Eid, coordenador do Centro de Estudos em Finanças (GVcef) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.
O tombo do mercado acionário, aliás, levou todos os fundos com estratégias definidas em ações a um resultado negativo nos últimos 30 dias, assim como os fundos multimercados. O melhor desempenho entre as aplicações tem sido o do fundo cambial, cujo investimento é em títulos atrelados ao dólar.
O momento, sugerem os especialistas, é de paciência. "O investidor tem de evitar movimentos bruscos e uma mudança de portfólios num período de crise. Quem não acompanha o mercado pode escolher um ativo errado", afirmou Alexandre Chaia, professor de finanças do Insper.
Aperto monetário
O cenário de investimento também foi alterado pelo comportamento dos juros. O aumento da Selic em 0,5 ponto porcentual na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, surpreendeu a maioria do mercado. O aperto monetário deve continuar por causa do aumento da cotação do dólar e seu impacto na inflação, que já está no teto da meta (6,5%). A maioria do mercado acredita que a taxa Selic deve chegar ao fim do ano em 9%.
"A taxa de juros teve um reposicionamento depois da última reunião do Copom. Ela acelerou meio ponto a mais do que o previsto pela maioria dos agentes na virada do ano. Então, todo mundo que fez um investimento prefixado de longo prazo está perdendo valor de mercado", afirmou Chaia.
A alta dos juros também trouxe impacto para os produtos de inflação e pode afetar o investimento em fundos imobiliários, segundo Eid, da FGV. Os fundos imobiliários foram uma das grandes apostas do mercado de investimentos no ano passado. "Com o juro subindo, o preço do imóvel cai. Hoje, comprar um fundo imobiliário pode ser complicado", disse Eid.
Para o investidor que mira o longo prazo, momentos de turbulência podem trazer boas oportunidades, sobretudo se os preços dos ativos não estiverem baixos.
"Em 2008, no auge da crise, a Bovespa caiu para 28 mil pontos. Imagina o investidor que comprou ações nessa época. Mesmo nessa desgraça, ela quase dobrou o capital dele em três, quatro anos. É o cara que percebeu que o momento de baixa é uma boa hora de comprar", disse o coordenador do Gvcef.
Na avaliação do professor do Insper, se houver uma sinalização de retomada da economia brasileira, a Bolsa pode voltar a subir no médio prazo, sobretudo porque o Brasil tem ficado para trás na comparação com outros países.
"A Bovespa tem patinado nos últimos dois anos em relação ao resto do mundo por causa dessa gestão atrapalhada do governo", disse Chaia. "O investidor que tiver paciência e puder esperar vai encontrar um campo negativo, mas que pode voltar a ficar positivo", afirmou.
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