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O dólar manteve a tendência de alta e avançou ontem 0,30%, cotado a R$ 2,659. Ao longo do dia, a moeda americana chegou a superar a barreira dos R$ 2,67. A alta do dólar, que atingiu o maior patamar desde 1.º de abril de 2005, ocorreu mesmo com a decisão do Banco Central de aumentar a intervenção no câmbio.
Para conter a escalada da moeda, o BC anunciou na quinta-feira que faria na sessão de ontem dois leilões de venda de dólares com compromisso de recompra. Na segunda-feira, o BC deverá repetir o leilão com propostas de até R$ 1 bilhão - a decisão foi tomada somente depois do fechamento de ontem do mercado. O banco ainda mantém o programa diário de swap.
Pela manhã, o dólar até chegou a recuar ante o real, marcando a mínima de R$ 2,6480 (-0,11%) às 9h36 no balcão.
O avanço do dólar nos últimos dias - em dezembro, a moeda americana subiu 3,58% - pode ser explicado tanto por motivos externos como internos.
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No cenário internacional, há uma forte influência da queda dos preços das commodities. Esse recuo é resultante da expectativa de menor crescimento mundial, sobretudo da China - o país é um grande importador de commodity. Os dados da produção industrial chinesa, por exemplo, mostram parte desse menor crescimento. O indicador teve alta de 7,2% em novembro, abaixo da previsão de alta de 7,5% e menos do que a valorização de 7,7% registrada em outubro.
Como contrapartida ao cenário internacional turbulento, os investidores acabam migrando para ativos mais seguros, como o dólar, o que favorece a valorização da moeda americana e enfraquece a moeda dos países emergentes e produtores de commodities. "O quadro global é de maior aversão ao risco em virtude do desabamento dos preços das commodities", afirma Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria Integrada.
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Internamente, as dúvidas sobre a política econômica do segundo mandato de Dilma Rousseff continuam no radar dos investidores. Embora a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda tenha sido bem recebida, há incerteza sobre qual será o espaço dele para a realização dos ajustes econômicos que o mercado considera necessários.
"Desde que o ministro Joaquim Levy foi indicado, só surgiram notícias ruins em relação ao desempenho da economia brasileira", diz José Márcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos e professor de economia da PUC-Rio. "Sabe-se que há uma linha dentro do governo que concorda com as políticas econômicas atuais, diferente do novo ministro da Fazenda, que tem uma linha mais ortodoxa", diz o economista da consultoria Tendências.
O avanço do dólar em relação ao real indica que a moeda americana deverá permanecer em novo patamar, mesmo se a economia brasileira der sinais de melhora para o mercado. Dessa forma, a tarefa do BC de controlar a inflação deverá ser ainda mais difícil, o que pode obrigar a um aumento acima do previsto da taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária.
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"A pressão da inflação vai ser muito mais forte (por causa do dólar), o que pode exigir do BC um aumento da taxa de juros maior do que o pensado inicialmente", afirma Camargo. Na última reunião, o Copom elevou os juros em 0,50 ponto porcentual, para 11,75% ao ano.
Bolsa. O escândalo na Petrobras também ajuda a turvar o cenário dos investidores com relação à economia brasileira. O reflexo dessa piora fica evidente na queda acentuada da Bolsa. Ontem, o Ibovespa - principal termômetro do mercado acionário - caiu 3 73%, aos 48.001,98 pontos, menor nível desde 26 de março. Na semana, a queda do índice foi de 7,67%, o pior resultado desde o recuo de 12,68% registrado na semana encerrada em 16 de novembro de 2008.
As ações da Petrobrás, cujo peso no Ibovespa é elevado, foram um dos destaques negativos no pregão de ontem e ajudaram a derrubar a Bolsa. Os papéis preferenciais caíram 6,56%, para R$ 10,11, e chegaram ao menor preço desde 5 de agosto de 2005, segundo dados da Economática. As ações ordinárias recuaram 5,78%, para R$ 9,46 menor preço desde 20 de janeiro de 2005 (R$ 9,42).
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